198 Livros: Antígua e Barbuda – A Small Place

198 Livros - Antígua e Barbuda Na semana passada, a Claudia Carmello publicou um post no blog da ONG Garupa questionando o quão desvinculados os resorts all-inclusive são da cultura e da realidade local e o quanto isso pode ser nocivo para a comunidade. O texto é bem interessante e abordou alguns tópicos que me deixaram pensativa. Relembrei minha lua-de-mel em Punta Cana, uma viagem bem diferente das que costumamos fazer. Nossa intenção era apenas relaxar em frente a uma praia, livres de qualquer outra preocupação e isso nós conseguimos. Mas duas coisas me incomodaram nessa viagem: o constante desperdício de comida e bebida por parte dos hóspedes (se não é preciso pagar, por que economizar?) e o astral dos funcionários. Eles eram educados, eficientes, mas não passava disso. Não houve margem para aproximação, para uma conversa amigável. E o livro de Antígua e Barbuda foi praticamente um tapa na cara de quem, como eu, não conseguiu enxergar esse tipo de destino como se deve. A Small Place - Jamaica Kincaid

A Small Place, da escritora antiguana Jamaica Kincaid, diz verdades duras aos turistas. Se você encontra uma banheira no seu quarto, uma piscina do lado de fora e vê o mar pela janela, nunca irá pensar que o país pode sofrer com a escassez de água, não é? E também não se preocupa com o que acontecerá com o conteúdo do vaso sanitário após você dar a descarga, sem imaginar que ele pode estar indo para a água do mar em que você nada, pois não existe um tratamento de esgoto adequado. Não sei se essa ainda é a realidade de Antígua e Barbuda, já que o livro foi publicado há mais de duas décadas,  mas sei que é a de muitos lugares turísticos mundo afora, inclusive no Brasil.

Jamaica Kincaid expõe também a corrupção dos políticos em seu país e vai além ao fazer muitas críticas aos britânicos, que colonizaram o país de 1667 a 1981 e estabeleceram a escravatura em Antígua e Barbuda. Suas acusações são as mesmas que eu tenho visto em muitos livros de países que estiveram sujeitos à dominação estrangeira até pouco tempo. A mais perversa delas talvez seja a tentativa dos colonizadores de substituir a cultura local pela sua. Uma frase do livro que me marcou, em tradução livre, foi a seguinte: “Não é estranho que a única língua que eu tenho para falar sobre esse crime seja a língua do criminoso que o cometeu?” Um questionamento forte que caberia também aos brasileiros se a gente ainda pensasse sobre o assunto…

A Small Place é um livro pequenininho (tem menos de 100 páginas) e é uma leitura fácil, apesar de seu tom desafiador. Foi mais uma indicação acertada da Carla Portilho para o projeto #198livros e eu recomendo a todos que querem conhecer um pouco mais sobre Antígua e Barbuda e para qualquer pessoa que gosta de viajar e de repensar o papel do turista no mundo. E, por falar nisso, tenho um post sobre Turismo Sustentável aqui que vem bem a calhar.

A Small Place foi publicado originalmente em inglês pela Farrar, Straus and Giroux, em 1988.

Mais alguns livros de autores antiguanos:

  • Unburnable, Marie-Elena John
  • Ladies of the Night, Althea Prince

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

 

9 Comments

  1. Oi Camila, tudo bem? Meu último comentário foi no post do livro sobre a Bulgária, que eu particularmente amei. Que apaixonante é esta tua série de livros! Cada post que leio é mais um livro pra uma listinha que tenho aqui no tablet. É uma imersão deliciosa na cultura de outros lugares. As vezes, vamos à pontos turísticos ou praias paradisíacas, mas esquecemos que até elas carregam histórias profundas. Talvez um ótimo exemplo seja mesmo o Caribe, um paraíso que já viu muita coisa ruim acontecer debaixo de seu céu azul. A frase que você destacou do livro me impressionou demais e me fez começar a pensar em várias coisas. Muito obrigado, e por favor continua com a série. Acho que o turismo está precisando receber mais abordagens diferenciadas como esta. Gustavo.

    • Os livros estão não só me ensinando muito sobre a história e cultura dos países, mas também estão abrindo meus olhos para várias questões que antes eu nem percebia. E não se preocupe, o #198livros ainda está só no começo. :-)

  2. Claudia Carmello

    Bem legal o post, Camila. Obrigada pela menção ao blog Na Garupa. ;) A observação sobre o idioma tirado do Small Place é forte mesmo. um abraço, claudia

  3. Carla Portilho

    Eu li A Small Place para o primeiro curso que fiz assim que entrei no doutorado. Era um curso sobre as Américas, um assunto praticamente impossível de abordar sem se falar em colonização / dominação. Fiquei encantada com o modo como a Jamaica Kincaid trata de questões sérias e profundas como são as questões pós-coloniais com um tom tão leve e delicado… Fico feliz que você tenha gostado da indicação – mal vejo a hora de relê-lo!

  4. Quando li “La tête coupable” do Romain Gary, ambientado no Taiti, também percebi a mesma crítica endereçada ao turismo de massa e ao massacre de uma cultura por outra, no caso a França dominando a Polinésia. E o desfecho do livro é aquele um tapa na cara de genialidade.

    • Natalia, eu tenho ficado cada dia com mais birra dessa exploração que as grandes potências mundiais promoveram. A colonização é tão absurda! Sei que hoje ela se dá de outra forma, principalmente econômica, mas conhecer melhor a história recente de alguns países asiáticos e africanos é revoltante!

      Mas, mudando de assunto, e o seu projeto de leitura, como vai? Tá meio parado ou só não tá tendo tempo de postar? As minhas postagens aqui estão super atrasadas. Daqui a pouco já vou ter esquecido a história quando resolver escrever sobre ela. rsrs

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.