198 Livros: Paquistão – Moth Smoke

198 Livros - Paquistão O Paquistão foi mais um dos países que me deixou dividida por querer ler mais de um livro do país. Felizmente, o escolhido não trouxe arrependimentos. Moth Smoke, do escritor paquistanês Mohsin Hamid, é um livro que eu teria gostado de ler independentemente desse projeto. É uma história envolvente, tanto que a li de um dia para o outro, movida, em parte, pela curiosidade. O primeiro capítulo é narrado por um homem a partir de sua cela na prisão. O segundo capítulo traz seu julgamento e então descobrimos que o prisioneiro é Darashikoh, o Daru, acusado do assassinato de uma criança. Assistindo ao julgamento estão Murad, descrito como seu parceiro de crime, Auragzeb (Ozi), seu melhor amigo, e Muntaz, a esposa de Ozi. A partir daí, voltamos no tempo para descobrir se Daru é culpado ou inocente. Moth Smoke - Mohsin Hamid

Daru vive em Lahore, uma das maiores cidades do Paquistão. Ozi é um amigo que acaba de voltar dos Estados Unidos, aonde ele foi para estudar. Lá ele conhece Muntaz, também paquistanesa, e eles voltam para seu país casados e com um filho, Muazzam.  Ozi é rico e influente. Daru trabalha em um banco, mas é despedido e, com a crise econômica que assola o país, não é fácil encontrar outro emprego. Amigos de infância que vivem realidades bem diferentes. Já dá para sentir que algo vai dar errado, né? Mas o que mais prende a atenção do leitor é o fato de não conseguirmos imaginar que Daru seja uma assassino à medida em que o vamos conhecendo. Ele parece ser uma pessoa boa, o que poderia ter ocorrido para transformá-lo em um assassino? Seriam os problemas financeiros? As decepções amorosas? E quem é a criança que morreu? Ele seria capaz de matar Muazzam, o filho de seu amigo? Não conhecemos esses detalhes até as últimas páginas e esse suspense foi um dos motivos que me deixaram com os olhos pregados no livro!

Moth Smoke nos apresenta um panorama do Paquistão atual através da vida dos personagens. O país tem uma das maiores populações muçulmanas do mundo e a influência da religião no dia a dia das pessoas é apontada várias vezes, apesar de nem sempre seus dogmas serem respeitados. O livro fala muito do homem muçulmano, mas eu não consegui delinear a real situação das mulheres paquistanesas. Muntaz é moderna, liberal e não se submete a convenções religiosas ou sociais. Só que ela é rica, pertence a uma elite que se dá o direito de ser transgressora e não dá para saber se todas as mulheres têm o nível de liberdade que ela tem. O livro não é capaz de abordar todas as esferas da sociedade paquistanesa, mas traz de tudo um pouco: romance, religião, drogas, muito calor, bombas nucleares, recessão… E tudo isso enredado em uma história envolvente e bem escrita. Vale a pena ler!

Moth Smoke foi publicado originalmente em inglês pela Granta Books, em 2000.

Mais alguns livros de autores paquistaneses:

  • O Fundamentalista Relutante, Mohsin Hamid
  • Sombras Marcadas, Kamila Shamsie
  • The Wandering Falcon, Jamil Ahmad

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

 

13 Comments

  1. Lucimara Busch

    Camila, aqui eu acabei lendo “Eu sou Malala”. Me interessei pela história por acaso, e valeu como representante do Paquistão. Eu gostei do livro!

    • Ainda quero ler esse livro! Como eu tô preferindo romances e ficção, deixei para depois. Agora com o Nobel da Paz que ela ganhou o livro vai ficar ainda mais famoso, né? Tomara!

      • Lucimara Busch

        Também gosto mais do romances, só que fiquei curiosa com ela. Eu acredito que com o Nobel seja bem divulgado. Vi ontem na Amazon outros livros dela, por outros autores.

  2. Lucimara Busch

    Oi Camila! Esse também quero ler, porque eu li o Livreiro de Cabul, que foi escrito por uma jornalista norueguesa, e esse retrata bem a vida das mulheres afegãs! Você chegou a ler esse? Recomendo! Eu gostei bastante!

    • Lucimara, acho que dei esse livro de presente pra minha mãe, mas não li.

    • OSAMU CARCAMANY

      LUCIMARA, RECOMEDO LER “EU SOU O LIVREIRO DE CABUL” de SHAH MUHAMMAD RAIS, E O AFEGANISTÃO DEPOIS DO TALIBÃ de ADRIANA CARRARA AS, a 10ª estória é a de SHAH M. RAIS ESTES DOIS LIVROS MOSTRAM UM OUTRO LADO DA CULTURA AFEGÃ,
      NÃO MAIS BRANDO MAS MAIS VERDADEIRO.

      • Lucimara Busch

        Obrigada pelas indicações Osamu! Eu sou o Livreiro de Cabul eu tenho, mas não li ainda! :)

  3. Outro dia ecutei uma bela entrevista na radio de uma escritora paquistanesa que veio lançar seu livro na França. Ela perdeu avô, pai, tio e tia assassinados por questões politicas, e no livro que lançou recentemente trata justamente do lugar da mulher através da dinâmica familiar e do ponto de vista do homem. Lembrei de você na hora, principalmente quando ela descrevia a tragédia familiar e o tema do livro, que é uma ficção e me pareceu super interessante. A escritora é Fatima Bhutto, ela nasceu em Kabul mas cresceu no Paquistão e mora la. O livro que ela lançou recentemente é The shadow of the crescent moon, e o titulo diz muito :)

  4. Tiago-125 Azul

    Oi Camila! Ja tive a oportunidade de estar no Paquistao e posso confirmar que a realidade e’ como descreves- A religiao e’ parte central na vida de todos os dias. Alias, o Islao e’ mais que uma religiao e’ tudo um sistema que influencia todos os aspectos da vida: a economia, a relacao entre as pessoas, a cultura…tudo! Pode ser mesmo um pouco asfixiante, para quem nao e’ religioso! So para teres uma ideia, antes de te perguntarem de onde vens, perguntam qual e’ a tua religiao, como se essa informacao disse-se mais que tudo o resto! Apesar de este lado religioso, o Paquistao e’ talvez o pais do mundo mais hospitaleiro em que tive, onde recebes inumeros convites de ir a casa das pessoas beber cha, comer, falar! Para alem disso a comida e’ deliciosa! ;)

    • Oi, Tiago! Que legal ter a opinião de alguém que já esteve lá! Li no seu blog que o Paquistão foi um de seus países preferidos e confesso que me surpreendi, pois não sabia quase nada sobre o país até ler o livro de lá! E em relação à situação das mulheres paquistanesas, o que você achou? Parece ser um país muito radical?

      • Tiago-125 Azul

        Sim, e’ um pais muito conservador. Especialmente nas zonas rurais. Tenho que admitir que foi um sujeito que nao toquei nas inumeras conversas que tive com os paquistaneses, porque 1) Falei sempre com homens e 2) e’ um assunto delicado de falar com eles. Mas via-se que nas grandes cidades via-se algumas mulheres que nao usavam mesmo veu, e eram bastante “ocidentais”, enquanto nas zonas mais rurais, especialmente em peshwar, a 50 km do Afeganistao, quase nao se ve mulheres e quando as vemos tem uma burka! :(

        • É, não é muito fácil mesmo conversar sobre isso, mas o que você observou já diz muita coisa. A impressão que tive da personagem do livro é que ela não usava véu e ela era mesmo bem moderna, mas era uma pessoa que havia morado nos EUA e com certeza era bem ocidentalizada. E vivia numa cidade grande, como você disse. Obrigada por trazer essa visão mais real para o post! :-)

Comments are closed