198 Livros: Congo – Broken Glass

198 Livros - Congo A maioria dos brasileiros provavelmente nunca ouviu falar de Alain Mabanckou, mas quem se interessa por literatura africana certamente já conhece esse nome. Desde que comecei o #198livros já me deparei com ele várias vezes. Alain Mabanckou é um dos escritores africanos mais famosos atualmente. Ele nasceu em 1966, apenas 6 anos depois de o Congo se tornar independente da França. Suas obras refletem o período pós-colonial e tentam identificar e reforçar a identidade nacional. Ele escreve em francês e mais uma vez eu fiquei com raiva por não saber a língua e não poder ler um monte de livros no original! Mas voltemos ao Congo! Dentre os diversos livros do escritor congolês, Broken Glass foi o que escolhemos ler.

Broken Glass é o narrador do livro que leva seu nome. Ele é um  sexagenário alcoólatra, ex-professor, que frequenta assiduamente o Credit Gone West, um bar que nunca fecha suas portas. Stubborn Snail, o dono do bar, dá um caderno a Broken Glass e pede que ele registre a história do lugar. Ele diz que hoje a palavra falada já não tem mais valor, o que vale é o que está escrito.

“the boss of Credit Gone West doesn’t like ready-made phrases like ‘in Africa, when an old person dies, a library burns,’ every time he hears that worn-out cliché he gets mad, he’ll say ‘depends which old person, don’t talk crap, I only trust what’s written down’”

Broken Glass - Alain MabanckouA princípio Broken Glass não bota muita fé em sua missão. Suas as aspirações literárias se foram há muito tempo, junto com o emprego e com a família, tudo por causa da bebida, mas aos poucos ele vai juntando uns casos daqui e dali e aprende a gostar dessa história. Ele começa contando a confusão que se instalou quando o Credit Gone West abriu suas portas. Stubborn Snail enfrentou ataques de todos os lados e a briga ganhou tamanha proporção que envolveu até o Presidente da República! Mas ele perseverou e saiu dessa ainda mais forte. Broken Glass registra também a história dos frequentadores do Credit Gone West. Já é de se imaginar que na vida de assíduos clientes de um bar a gente não encontra muitos finais felizes, né?

Os nomes dos personagens são um destaque à parte e têm tudo a ver com a atmosfera do livro, que é ao mesmo tempo cômica e trágica. Broken Glass é cheio de referências políticas, históricas e literárias sobre o mundo todo. E quem poderia imaginar que o narrador também seria um adepto da volta ao mundo através dos livros? Olha só o que ele diz:

“I’ll just make a note here, without wishing to boast, that one way or another I’ve travelled the world, I wouldn’t want anyone to think I’m one of those guys who doesn’t know what’s going on outside his native country […] I have travelled widely, without ever leaving my own native soil, I’ve travelled, one might say, through literature”

A princípio achei o livro um pouco complicado de entender. O fato de ser em inglês já adiciona um componente dificultador, mas o texto também é daqueles que exigem mais atenção. Os parágrafos são enormes, com poucos pontos e muitas vírgulas. Levei um tempo para me acostumar com o fluxo da narração, que não segue uma ordem cronológica, mas depois que a gente pega o jeito a leitura flui melhor.

Atualização: Já temos este e outros livros de Alain Mabanckou publicados no Brasil! Eu ainda quero ler outras obras dele.

Broken Glass foi publicado originalmente em francês, em 2006, e em inglês em 20o9, pela Serpent’s Tail. A tradução é de Helen Stevenson.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

6 Comments

  1. Adorei o livro! Achei que ele vai ficando melhor a cada página! E o fato de já ter iniciado a viagem pelos outros países da África, na VAM, contribuiu para ter aproveitado melhor!

    • Ana Luiza, também acho que ter lido outros livros ajudou. Apesar de cada país ter suas características únicas, há também muitas coisas em comum que a gente consegue identificar de um livro para outro, né? Sem contar que eu sempre descubro muitas semelhanças com o Brasil nos livros africanos!

  2. Lucimara Busch

    Camila, eu tô pensando em ler “Johnny Mad Dog”, ou “Little Boys Come from the Stars” do Emmanuel Dongala. Não lembro se foram comentados no grupo, mas li as sinopses e me interessei.

    • Acho que não teve mais nenhum comentado na época, tanto que nem coloquei mais indicações no final do post. :-(

      Depois nos conte o que achou do que escolher!

  3. Lu Malheiros

    Camila, gostei MUITO do livro. Os personagens são ótimos!
    E marquei a mesma passagem sobe viajar na literatura que você :-)

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