Nossa viagem de ônibus da Macedônia para a Albânia foi tão difícil que ao chegar em solo albanês eu só desejava que o país valesse a pena. Não demorou muito para que minhas dúvidas fossem dissipadas. A van que nos deixou em Berat estava caindo aos pedaços e o motorista e o cobrador não falavam inglês, mas eles foram tão simpáticos que quase conseguiram nos fazer esquecer dos buracos da estrada. Chegando na cidade eles nos perguntaram onde iríamos ficar e nós já imaginamos que iriam tentar nos empurrar algum hotel, mas mão era nada disso, eles só queriam nos deixar na porta. Éramos os únicos turistas desembarcando ali. Mal descemos e um garoto correu para o nosso lado, perguntou aonde iríamos e saiu na nossa frente nos guiando. Já estávamos preparando a gorjeta, mas ele nos deixou na porta da pousada e logo saiu correndo. Parecia que a exploração ao turista ainda não tinha chegado a Berat. Com uma recepção dessas eu já começara a gostar da Albânia, mas bastou uma voltinha na cidade para que eu me apaixonasse de vez.
Berat significa Cidade Branca e ela é apelidada A Cidade das Mil Janelas. É fácil entender o porquê dos dois nomes: seu centro histórico é Patrimônio da Unesco e nele pipocam casarões brancos com arquitetura típica do período Otomano. Cheios de janelas, é claro! Ela é uma das cidades mais antigas da Albânia e é famosa por ter abrigado diferentes culturas e religiões de forma harmoniosa ao longo dos séculos.
O Bulevardi Republika, uma deliciosa rua para pedestres novinha, tinha cara de estar pronto para receber turistas, mas aparentemente nós éramos os únicos exemplares dessa espécie em Berat na tarde daquela segunda-feira. Os bares e lanchonetes estavam abertos e o estranho é que nas mesas só havia homens. Fiquei até meio constrangida, porque parecia que eu era a única mulher da cidade batendo perna no meio da tarde. Pelo menos encontramos um lugar para lanchar facilmente. Sentamos na calçada de uma creperia e começamos a admirar o visual da cidade. E que visual!
Depois de termos deixado as coisas no hotel e aplacado nossa fome, saímos para explorar os arredores. Às margens do Rio Osumi vimos senhores caminhando, pastores cuidando de suas cabras e crianças brincando na rua. A vida que passava diante dos nossos olhos nos fazia voltar no tempo. Que tranquilidade!
KALAJA, O CASTELO DE BERAT
Enquanto andávamos lá embaixo e já nos arrependíamos por termos reservado apenas uma noite na cidade, nem imaginávamos que o melhor ainda estava por vir. Logo enfrentamos a ladeira para subir ao Castelo de Berat. Que subida! As pedras no chão, também brancas, são super lisas e escorregadias, então é bom escolher bem o calçado para subir a pé! É cansativo, mas quando a gente chega lá em cima sente que o esforço valeu a pena.
Esperávamos encontrar no topo do morro as ruínas de uma antiga fortaleza e uma ótima vista da cidade, mas Kalaja, o Castelo de Berat, é muito mais do que isso. Nos espantamos ao perceber que tínhamos chegado a uma mini-cidade, a um bairro histórico ainda mais interessante do que o que tínhamos visto lá embaixo.
Hoje em dia a gente adora comparar os lugares com os cenários de Game of Thrones, né? Pois o castelo poderia fazer parte das locações quase sem nenhuma maquiagem e ainda com a vantagem de não haver um monte de turistas atrapalhando as gravações. Isso foi o que mais me espantou. Como é que ainda não descobriram Berat? Só encontramos mais uns três turistas lá em cima. Bom, não estou reclamando, pois foi uma delícia ter aquele lugar quase que só para nós.
Bom, dizer que a fortaleza era só nossa é exagero, pois o local é habitado. Além das casas dos moradores, há também restaurantes e hotéis. Acho que deve ser bem legal ficar hospedado lá em cima, o problema é só ficar a pé, já que enfrentar o morro toda hora não deve ser muito legal. O engraçado é que o povo ficava tão escondido dentro das casas que tínhamos a impressão de estarmos mesmo sozinhos naquele cenário. Dava até vontade de sair abrindo as portas para ver o que tinha por trás delas!
Depois de nos perdermos pelas ruelas de Kalaja, nos sentamos para esperar o sol se pôr. Acabou que não ficamos lá em cima até a noite chegar, mas à medida em que o sol ia baixando as cores da paisagem ao nosso redor ficavam cada vez mais bonitas. Um espetáculo à parte era o Monte Tomor, presença onipresente na estrada que nos levou até Berat e do qual agora tínhamos uma vista fantástica. Que lugar especial, gente!
MUSEU ETNOGRÁFICO DE BERAT
Para não dizer que ficamos só andando de um lado para o outro, na manhã seguinte visitamos o Museu Etnográfico. Ele fica em uma casa otomana do século XVIII e retrata o estilo de vida dessa época. Foi interessante ver os espaços separados na casa para homens e mulheres, o que me fez pensar na hora nas descrições das casas albanesas de Abril Despedaçado, o livro da Albânia que li para o Projeto 198 Livros. Acho tão legal poder dar vida ao que conheci através dos livros!
Há informações sobre as exposições do museu em inglês. A entrada, em setembro de 2014, custou 200 lekes por pessoa.
Nem há muito o que falar das atrações de Berat. O melhor da cidade é o conjunto: as paisagem formada pelas casinhas brancas penduradas no morro, o Monte Tomor ao longe, o astral mágico do castelo e, principalmente, a simpatia dos albaneses. Mesmo que pouca gente fale inglês, que a Albânia ainda esteja pouco preparada para o turista independente e que a estrada até lá tenha sido a pior de toda viagem, Berat acabou sendo um dos nossos lugares preferidos nos Balcãs, quiçá o preferido. A beleza de Berat com certeza contou muitos pontos, mas no fim das contas o que nos encantou mesmo foram os albaneses.
Veja todos os posts sobre a minha viagem aos Balcãs.
O post contém links para programas de afiliados. Leia a política de monetização do Viaggiando.
Apaixonei!!!! Que cidade bonita e interessante! Você tem razão, Camila: amo viajar mas nunca tinha considerado Albânia e pelo visto por TOTAL ignorância. Vou reconsiderar AGORA!
beijos
Ana
Ana, eu amei a Albânia! Viu que cidade mais linda? Tenho planos de voltar ao país, porque só Berat e Tirana foram muito pouco! A Albânia tem muitos outros lugares lindos, praias e montanhas, e o povo é muito simpático!
Camila,
Nós passamos uma noite em Tirana e também foi uma saga chegar em Berat. Ficamos lá de 3 da tarde de um dia até a manhã do dia seguinte mas saímos com muita pena também. Não eramos os unicos turistas da cidade, mas não dá para crer que um lugar daquele é tão pouco conhecido e visitado. Nosso hotel foi maravilhoso e tivemos essa mesma experiência de sermos ajudados 3 vezes sem que pedissem nada em troca. Eu voltei muito encantada com a Albânia mas principalmente com os Albaneses. E olha que no nosso primeiro ano em Londres tivemos experiências bem ruins e assustadoras com mais de um albanês, então foi bom notar que essas experiências em nada refletem a realidade do povo. Voltei louca para postar tudo sobre o país!
Liliana, a gente foi em setembro e só vimos mais uns 3 turistas mesmo. É impressionante Berat ainda não ter caído na graça dos turistas, né? Mas aquela estrada também não ajuda, é uma vergonha! Acho que quando a estrada for melhor o turismo naquela região vai aumentar muito.
Senti que há muito preconceito contra os albaneses por parte dos europeus e que eles nem imaginam como é o país de verdade. Já no Brasil a maioria das pessoas nem tem uma opinião formada por puro desconhecimento mesmo.
Estou ansiosa pelos seus posts, já que você também voltou encantada. :-)
Camila, uma noticia boa: pegamos a estrada nova em folha! Só o finalzinho que esta ruim ainda. Para mim o problema foi falta de informação. Eu li nos poucos lugares onde achei informação sobre que o tempo era 1/3 do que foi. Então acabamos nem tendo uma tarde inteira em Berat… Mas valeu a pena mesmo assim!
Lili, quando fomos a estrada estava horrível perto de Berat e boa perto de Tirana. Mas essa parte horrível era ruim o suficiente. rsrs