Mariana, onde Minas Gerais começou

Demorei demais a conhecer Mariana. Há 10 anos fiz a minha primeira viagem pela Estrada Real, mas só no mês passado coloquei meus pés na primeira capital mineira. Não só a primeira capital, mas também a primeira vila erguida no estado. O que levou os desbravadores até lá e fez a vila crescer foi o ouro, é claro, mas foi também pelo ouro que a vizinha Vila Rica surgiu, cresceu e roubou o posto de capital. E até hoje Vila Rica, ou melhor, Ouro Preto é a irmã mais famosa que atrai a maior parte das atenções.

Eu mesma fui vítima do encanto de Ouro Preto e por isso ainda não conhecia Mariana. Em minha defesa posso dizer que minhas idas a Ouro Preto sempre foram muito rápidas e eu não queria fazer um mero bate e volta a Mariana. Eu sentia que apenas uma tarde seria muito pouco tempo para conhecer a cidade como ela merece e assim acabei adiando essa visita. Agora que ela aconteceu posso dizer que eu estava certa: Mariana merece mais que o papel de coadjuvante!

Mariana, a primeira capital de Minas Gerais

Mariana, Minas Gerais

Mariana, Minas Gerais

Eu já contei sobre a pousada em que nos hospedamos e já falei também que em Mariana a melhor opção é deixar o carro de lado para explorar a cidade a pé. Isso vale para quase toda cidade histórica, né? Ruas estreitas não combinam nem um pouco com quatro rodas. O centro histórico de Mariana é bem compacto e as ruas são bem mais planas que as de Ouro Preto, então a caminhada é mais fácil e agradável. Só usamos o carro assim que chegamos à cidade para ir à Mina da Passagem e na volta aproveitamos para visitar uma das igrejas mais afastadas: a Basílica de São Pedro dos Clérigos. Quando estávamos quase chegando lá descobrimos que do estacionamento do Hospital Monsenhor Horta é que a gente tem a melhor vista dela, isso porque sua principal característica é seu formato oval, que pode ser melhor observado quando a vemos de costas.

Basílica de São Pedro dos Clérigos

Descemos um pouco e chegamos ao pátio da Basílica de São Pedro dos Clérigos. De lá a vista também é ótima. O casario antigo fica aos nossos pés e a paisagem é o tempo todo cortada pelas torres das igrejas. É muita igreja por quilômetro quadrado! Não entramos na igreja porque dizem que seu interior é bem simples e nós selecionamos as que pareciam mais interessantes para visitar, mas a entrada não era cara (2 ou 3 reais). Parece que é possível subir na torre e a vista de lá deve ser ainda melhor. Nós fomos de carro porque estávamos voltando para a cidade e passamos por lá, mas é possível subir a pé pela Rua Dom Silvério sem problemas.

Basílica de São Pedro dos Clérigos

Vista da Basílica de São Pedro dos Clérigos

Vista da Basílica de São Pedro dos Clérigos

Depois deixamos o carro no estacionamento e começamos a conhecer Mariana como se deve. A principal rua da cidade é a Rua Direita. Não sei qual a origem, só sei que quase toda cidade histórica em Minas Gerais tem uma rua com esse nome! E não tem erro, é só andar por uma Rua Direita para ter a chance de admirar o casario colorido do século XVIII. Em Mariana ela é uma rua bem comercial e infelizmente os carros estacionados ocupam um lado da rua (bem que ela podia ser toda para pedestres, imagina!), mas pelo menos um lado fica livre para nossas fotos! :-)

Rua Direita, Mariana

Rua Direita, Mariana

É também na Rua Direita que fica a Catedral da Sé. Por fora ela é sem graça, mas por dentro é belíssima. Ela foi uma das que escolhemos para conhecer. A entrada custa R$ 5,00 e dá direito a visitar também o Museu de Arte Sacra, que fica num prédio anexo à igreja, e o Museu da Música, que fica um pouco afastado e não tivemos tempo de conhecer, mas que parece ser legal.

Mesmo que os museus sejam bacanas, é a Catedral que rouba a atenção. Ela é uma das igrejas mais ricas do Brasil e uma das mais recheadas em ouro. Infelizmente não é possível fotografar seu interior, mas acreditem, vale a visita! Um de seus maiores tesouros é órgão alemão, chamado Arp Schnitger em homenagem ao seu construtor. Ele foi um presente da coroa portuguesa ao Bispo de Mariana e chegou ao Brasil em 1753. Toda sexta-feira, às 11h30, e todo domingo, às 12h15, há um concerto cuja entrada custa R$ 30,00. Queria muito ter assistido ao concerto, mas não estivemos lá nos dias em que ele ocorre. Informações atualizadas podem ser consultadas no site oficial.

Catedral da Sé de Mariana

Catedral da Sé de Mariana

Mas o grande cartão-postal de Mariana sem dúvidas é a Praça Minas Gerais. O que diz mais sobre o poder da igreja católica por aqui no século XVIII do que uma igreja barroca ao lado da outra? As vizinhas Igreja Nossa Senhora do Carmo e São Francisco de Assis são belos retratos da história colonial e ainda por cima as danadas são fotogênicas! Na praça ficam também o Pelourinho e a Casa de Câmara e Cadeia, que hoje abriga a Câmara Municipal de Mariana.

Praça Minas Gerais

Pelourinho na Praça MInas Gerais, em MarianaPelourinho na Praça MInas Gerais, em Mariana

Casa de Câmara e Cadeia

Visitamos a Igreja Nossa Senhora do Carmo, construída no final do século XVIII. Em 1999, quando sua restauração estava em fase final, ela foi praticamente destruída por um incêndio. Felizmente o altar não foi atingido. Ela foi reconstruída, mas pelas fotos antigas é possível perceber que muita coisa se perdeu. A pintura no teto, por exemplo, não pôde ser recuperada. Ainda é possível ver estragos causados pelo incêndio em algumas colunas. Um pequeno painel na entrada da igreja mostra fotos de antes e depois do incêndio. É triste ver o estrago causado pelo fogo. A entrada custa R$ 2,00.

Igreja Nossa Senhora do Carmo

Igreja Nossa Senhora do CarmoIgreja Nossa Senhora do Carmo

Igreja Nossa Senhora do Carmo - Estragos do incêndioIgreja Nossa Senhora do Carmo - Estragos do incêndio

Da janela da Igreja do Carmo a gente avista sua vizinha, a Igreja de São Francisco de Assis. Elas foram construídas mais ou menos na mesma época. Dizem que a São Francisco de Assis é a mais bonita da cidade, mas não pudemos comprovar, pois ela estava fechada para reforma. O pintor Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde, está sepultado lá dentro. Ele nasceu em Mariana. Algumas das mais belas pinturas barrocas de Minas Gerais, como a da Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara, são obra dele.

Igreja de São Francisco de Assis

Igreja de São Francisco de Assis

Igreja de São Francisco de Assis

Subindo a Rua Dom Silvério, a que corta a Praça Minas Gerais, a gente chega à Basílica de São Pedro dos Clérigos. Lembra que falei isso lá em cima? Como já tínhamos ido à Basílica, não subimos até o final, mas andamos um pouco pela rua pois vimos que havia algumas construções interessantes. Uma delas era o Colégio Providência, vizinho ao Hotel Providência. As construções são de 1849 e são bem bonitas. Um pouco acima fica a Capela de Nossa Senhora dos Anjos, construída por membros da Arquiconfraria de São Francisco dos Cordões em 1784. A arquiconfraria reunia homens pardos (mestiços) devotos de São Francisco.

Rua Dom Silvério - Colégio Providência

Rua Dom Silvério, Mariana

Capela de Nossa Senhora dos AnjosCapela de Nossa Senhora dos Anjos

Mudando um pouco de rumo, seguimos para a Rua Dom Viçoso e de lá para a Rua do Seminário. Pra todo lado que a gente olhava, lá estava a torre de uma ou duas igrejas nos espreitando! Nosso destino era a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, construção que faz parte do Seminário Menor, a primeira instituição de ensino de Minas Gerais, fundada em 1750. O complexo hoje pertence à UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto.

Rua Dom Viçoso

Paisagem de Mariana

Capela de Nossa Senhora da Boa Morte

Mas quer saber qual foi o meu lugarzinho preferido em Mariana? A Praça Gomes Freire, também conhecida como Jardim de Mariana. Ela fica no miolo do centro histórico e é cercada por lindos casarões e vários restaurantes. No calor que pegamos em Mariana, as árvores da praça eram um refúgio. De dia ou de noite era bom sentar ali para ficar observando o ritmo da cidade, as crianças brincando, os jovens passeando. Mariana ainda mantém aquele clima de cidade do interior e a gente tem a sensação de que ali a vida passa mais devagar.

Praça Gomes Freire

Praça Gomes Freire

Casarão na Praça Gomes Freire

Casarão na Praça Gomes Freire

Onde comer em Mariana

Só passamos uma noite em Mariana, por isso não tivemos chance de conhecer muitos lugares, mas todos que conhecemos nos agradaram. Estivemos lá numa quarta-feira e eu estava com cedo de não encontrarmos muitos restaurantes abertos, mas eu estava totalmente enganada! Não faltavam opções, para todos os gostos e bolsos.

Almoçamos em um restaurante por quilo, o Restaurante e Choperia Video Place, que fica na Praça Gomes Freire. O nome não é muito bom, mas a comida é boa, simples e barata. Nos arredores da praça há vários outros restaurantes por quilo e muitos com foco em comida mineira. Não se preocupe, fome você não vai passar!

Pegamos um calor de matar em Mariana, por isso um lugar providencial foi o Açaí Brasil, também na Praça Gomes Freire (acho que há outros pontos pela cidade). Eles têm creme de açaí, sorvetes e milk-shakes. Se você tiver que enfrentar o calor que enfrentamos, vai querer dar uma passadinha por lá!

Açaí Brasil, Mariana

Para um lanche rápido, por ali há também a Confeitaria Chantilly. É uma confeitaria pequena, mas com um cardápio variado de bolos, tortas e salgados. Os preços também são bem acessíveis. Achei Mariana uma cidade barata para os turistas, principalmente se a compararmos com Ouro Preto.

Para jantar escolhermos o Restaurante Bistrô. Chegamos lá meio cedo e achamos que seríamos os únicos clientes, mas logo começou a encher. O atendimento foi ótimo. Eu pedi um prato que pareceu ser famoso na casa: batatas com queijo. Era uma panelinha enorme e borbulhante, bem gostoso! O Eduardo foi de parmegiana. Nosso jantar, com bebidas, custou menos de R$ 70,00. Razoável, né?

Restaurante Bistrô

Santa Rita Durão, Distrito de Mariana

Mariana e Ouro Preto têm vários distritos e eu ainda espero conhecer todos eles, pois cada um parece esconder algum tesouro. Lavras Novas, Cachoeira do Campo e Amarantina não me deixam mentir! De Mariana nós fomos para Catas Altas e no caminho aproveitamos para visitar um dos distritos de Mariana, a pequenina Santa Rita Durão, onde vivem cerca de duas mil pessoas. Nós queríamos conhecer a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, do final do século XVIII, mas assim que chegamos lá ela foi fechada. Não sei se era mesmo hora de fechar (era por volta de meio-dia) ou se não estavam a fim de receber turistas… Chegamos lá pela estrada asfaltada, a MG-129, mas é possível viajar pela Estrada Real, passando pelos distritos de Camargos e Bento Rodrigues.

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré - Santa Rita Durão

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré - Santa Rita Durão

Santa Rita Durão

Santa Rita Durão

Resumindo, adorei Mariana! Realmente acho que ela merece ser mais que um bate e volta de Ouro Preto. Eu entendo que Ouro Preto seja a joia da Estrada Real e que mais tempo seja dedicada a ela, mas quem gosta de cidades históricas não irá se arrepender de dedicar um tempo especial a Mariana também. Se você conhece Mariana, me diz se concorda comigo! Não acredito que só eu voltei de lá encantada. ;-)

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4 Comments

  1. João Batista Macedo

    Realmente o centro histórico é muito bonito, é uma pena o que está acontecendo em seu entorno, um crescimento desordenado e muito desmatamento e queimadas o dia inteiro nas invasões.

  2. Helder Ribeiro

    O/ Eu concordo contigo! :)

    Também adorei Mariana e concordo que é muito mais que a irmazinha de Ouro Preto. Nós ainda não dormimos por lá, apenas passamos dois pedaços de dia. A Praça Minas Gerais pra mim é o lugar mais legal, inclusive eu acho que é um dos cenários mais bonitos da Estrada Real, se não for o mais bonito :)

    Parabéns pelo post!
    Abraços,
    Helder

    • Helder, também acho que a Praça Minas Gerais é um dos cenários mais lindos da Estrada Real! E é emblemático, né? Como vocês também são apaixonados por cidades históricas, aposto que daqui a pouco vão estar de volta a Mariana!

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