Sofia, a injustiçada capital da Bulgária

Sofia foi onde nossa viagem pelos Balcãs começou e terminou, então nada mais justo do que encerrar esse série de posts falando sobre ela. E já vou logo dizendo que, na minha opinião, a capital da Bulgária é injustiçada. Ela é deixada de lado por muitos turistas que passam correndo rumo às praias ou é comparada com Plovid e considerada uma cidade sem graça. Há quem não consiga ver beleza em Sofia, mas eu acho que só não vê beleza nela quem não quer. Ao contrário do que muitos imaginam, o que vi foi uma cidade limpa, segura e perfeita para quem gosta de andar a pé. Aposto que muita gente vai se surpreender!

Eu ia começar dizendo que Sofia não é uma cidade de grandes atrações, mas voltei atrás a tempo! Ela tem pelo menos uma grande atração: a Catedral Alexander Nevsky. Ela é uma das maiores igrejas ortodoxas do mundo e foi construída entre 1882 e 1912 em homenagem aos soldados russos que morreram lutando pela independência da Bulgária do Império Otomano na chamada Guerra Russo-Turca.

A Catedral Alexander Nevsky é o principal cartão-postal de Sofia. Sabe essas construções que ficam bonita por qualquer ângulo? Perdi a conta de quantas fotos tirei dela, até porque nosso hotel ficava logo a lado e toda hora passávamos por lá. E em todas as vezes parávamos para admirar suas curvas mais um pouco. Por dentro ela também é linda, pena que não é permitido fotografar. Mas saiba que grandes templos ortodoxos quase nunca decepcionam! A entrada é gratuita.

Na cripta da igreja fica um museu bem interessante com uma enorme coleção de ícones da Igreja Ortodoxa Búlgara. Ícones são as pinturas em madeira que a gente vê representando figuras santas nas igrejas ortodoxas . Há ícones bem antigos no museu, alguns com mais de mil anos. A entrada custa 6 leves por pessoa.

Quase em frente à Catedral fica a Igreja de Sveta Sofia (Santa Sofia), a mais antiga da cidade. Sua idade não é certa, mas acredita-se que ela tenha sido construída no século VI. Foi ela quem emprestou seu nome à cidade. Ela é toda de tijolinhos, por dentro e por fora. A entrada também é gratuita, como em todas as igrejas de Sofia que visitamos.

No jardim da igreja há alguns monumentos, como o Monumento ao Soldado Desconhecido, onde queima uma chama eterna, e o túmulo do escritor Ivan Vazov.

E foi logo ao lado da igreja, na esquina das ruas Moskovska e Paris, que eu me espantei ao reconhecer nossa língua portuguesa estampada numa parede.

Era o início do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa:

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Fiquei intrigada com esse poema em português em plena rua de Sofia e descobri que ele faz parte de um projeto chamado Wall-To-Wall Poetry. É uma iniciativa em homenagem à diversidade europeia que começou com a Embaixada Holandesa na Bulgária e logo tomou proporções maiores. Várias embaixadas de países europeus (membros da União Europeia e candidatos) adotaram paredes no centro da cidade e as decoraram com poemas reproduzidos na língua original e em búlgaro. Já são 28 poemas espalhados pela cidade.

Queria ter descoberto esse projeto antes, pois acabei vendo apenas o poema de Portugal, por acaso. Talvez eu tenha passado por outros sem nem perceber. Encontrei a relação dos endereços no site do Free Sofia Tour. E no site Vagabond uma entrevista com o idealizador do projeto, o então embaixador holandês Willem van Ee. Como é que ainda falam que Sofia é sem graça?

Mas sigamos em frente! Ainda nos arredores da Praça Alexander Nevsky fica a Igreja de São Nicolau (Sveti Nikolay) uma igreja russa de 1914. Vi fotos bem bonitas dela, mas quando estivemos lá ela estava sendo restaurada e estava quase toda coberta. Por dentro ela é bem pequenininha.

A essa altura vocês já se cansaram de ver igrejas? Ainda veremos muitas outras, mas por enquanto mudemos de assunto falando do Teatro Nacional Ivan Vazov, o mais antigo de Sofia e um dos mais importantes da Bulgária. Ele continua funcionando e sempre sedia apresentações.

O Teatro Nacional fica em frente ao Jardim da Cidade, um agradável parque bem no centro de Sofia. Mas ele não é o único! Uma das coisas de que mais gostei em Sofia foi a enorme quantidade de praças e parques espalhados pela cidade. Tem área verde pra todo lado!

Em um desses parques, o Jardim Knyazheska, fica o Monumento ao Exército Soviético. Esse parque fica ao lado da Universidade de Sofia e talvez por isso ele é mais frequentado por jovens. Lá também fica a estação de metrô Kliment Ohridski, a mais próxima da Catedral Alexander Nevsky. Dá para ir de metrô ao Terminal de Ônibus Central, ao lado da estação ferroviária, e, desde abril de 2015, também ao aeroporto! Ainda por cima Sofia é prática!

Entre um parque e outro, há mais do que igrejas enfeitando as ruas de Sofia. Chamam atenção as construções rebuscadas do final do século XIX e início do século XX, período em que ocorreu o movimento nacionalista chamado Renascimento Búlgaro. O Parlamento Búlgaro, a Galeria Nacional de Arte e a Ópera Nacional são alguns exemplos de construções dessa época.

Tudo o que mostrei até agora fica numa região pequena, no entorno da Praça Alexander Nevsky. No nosso segundo dia na cidade resolvemos ir um pouco mais longe. Mas não se enganem, ainda é tudo muito perto! Apertando o passo acho que talvez daria para ver tudo num dia só, mas seria um desperdício passar por tudo correndo e não aproveitar as praças e parques no caminho! Em dois dias é possível ver tudo o que mostro aqui com calma.

Começamos o dia na Praça Nezavisimost, onde ficam três prédios da década de 50 considerados alguns dos melhores exemplos da Arquitetura Stalinista: a antiga sede do Partido Comunista Búlgaro (hoje ocupado pelo Parlamento), o Palácio Presidencial e o Conselho Ministerial. O conjunto arquitetônico é chamado de Largo. Os símbolos comunistas que adornavam os prédios foram retirados após a queda do regime. Num extremo da praça, onde antes havia uma estátua de Lenin, agora há uma estátua representando Santa Sofia.

Assim como Plovdiv, Sofia também guarda memórias de diferentes períodos da história. Parte delas estão sob o Largo. O Projeto do Largo de Sofia pretende restaurar e deixar expostas as ruínas de uma antiga cidade Trácia chamada Serdica. As ruínas foram descobertas durante uma escavação para expansão do metrô. Após a restauração, a antiga cidade de Serdica será visível através de uma cobertura de vidro no nível da rua, mas parece que o projeto já se arrasta há algum tempo. Ele foi retomado no início do ano com previsão de término em 2016, mas continua gerando controvérsias.

Uma lembrança mais recente que a cidade dos Trácios é a Rotunda de São Jorge, a mais antiga construção preservada de Sofia. Ela foi construída no final do Império Romano, no século V, anos depois foi transformada em igreja e durante o domínio otomano foi convertida em mesquita. Não lembro se a gente não entrou nela porque estava fechada ou porque não vimos que podia entrar, mas descobri agora que é possível visitá-la. Hoje ela é novamente uma igreja. Há liturgias diárias e se você quiser presenciar uma pode consultar os horários no site oficial.

Quase um milênio mais nova é a Igreja de Sveta Petka Samardjiysk, do século XIV. A pequena igreja foi construída quando a Bulgária já se encontrava sob domínio do Império Otomano. Nessa época as igrejas não podiam ser mais altas que as mesquitas e talvez seja por isso ela tenha sido construída num solo rebaixado. A gente já tinha visto isso em Skopje, lembram?

E ainda falta falar de mais uma importante igreja de Sofia: a Catedral de Sveta-Nedelya (Santa Nedelya). Estivemos lá durante a celebração de uma missa, então ficamos quietinhos num canto da entrada observando o ritual. Ela foi destruída e reconstruída várias vezes ao longo dos séculos. A construção atual é de 1863.

Em 16 de abril de 1925, centenas de pessoas estavam reunidas na Catedral de Sveta-Nedelya para assistir ao funeral do deputado Konstantin Georgiev, assassinado dias antes. A presença do czar Bóris III era aguardada. Nesse dia, membros do Partido Comunista Búlgaro provocaram uma explosão na igreja. O czar já tinha se salvado de um atentado três dias antes e se salvou novamente, mas outras 128 pessoas morreram. Depois disso a Catedral de Sveta-Nedelya foi mais uma vez restaurada e ganhou os contornos que vemos hoje.

Ao lado dessas diversas igrejas ortodoxas ficam a Mesquita Banya Bashi, a Sinagoga de Sofia e a Catedral Católica Romana de São José, a poucos metros de distância umas das outras. Lugares assim nos dão esperança de um mundo em que não exista intolerância religiosa.

A Mesquita Banya Bashi foi construída em 1576. Seu nome faz referência às fontes de água termal sobre as quais a mesquita foi construída. Depois o hamam turco foi substituído pela Casa Pública de Banhos Minerais, que funcionou de 1913 a 1986, quando foi fechada por risco de colapso. Parte do prédio foi restaurada e hoje sedia o Museu Histórico de Sofia, inaugurado em setembro de 2015. Quando estive lá ele ainda estava fechado, então só o vi por fora.

Pensei que já tinha acabado, mas faltou falar de mais uma igreja interessante em Sofia, a Igreja Sveti Sedmochislenitsi. Eu já ouvi falar de várias igrejas católicas convertidas em mesquitas, mas acho que ainda não tinha visto uma mesquita transformada em igreja ortodoxa. A mesquita que existia ali antes foi construída em 1528 e recebeu o nome de Mesquita Negra por causa da cor de seu minarete. Ela foi danificada por um terremoto no século XIX e posteriormente abandonada e transformada em prisão. Em 1903 ela renasceu como igreja. Seu nome significa Igreja dos Sete Santos e é uma homenagem aos Santos Cirilo e Metódio e seus cinco discípulos.

Ufa! Acho que consegui mostrar para vocês tudo de mais interessante que vimos em dois dias em Sofia. Mas isso não é tudo, ficamos só no básico, no que pudemos conhecer caminhando a partir do hotel. Enquanto pesquisava informações atualizadas para escrever esse post, vi que a cidade está ainda mais legal e cheia de atrações do que há um ano. Sofia é uma cidade bonita, segura e agradável. Não há problemas evidentes, exceto o trânsito ruim, mas isso é comum a qualquer grande cidade, né? Vi alguns mendigos em poucos lugares da cidade, mas não me senti insegura ou intimidada em nenhum momento. Se você imaginava uma cidade pobre e perigosa, pode deixar os preconceitos de lado! Sofia pode te surpreender!

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Quer uma dica de onde se hospedar em Sofia? Ficamos no L’Opera Guest House, que tem um excelente custo-benefício. Veja meu post sobre Hospedagem nos Balcãs para mais detalhes sobre a pousada.

Fonte das informações históricas: Lonely Planet Southeastern Europe, Wikipedia e outros sites mencionados ao longo do post.

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