198 Livros: Tailândia – Jasmine Nights

198 Livros - Tailândia

Exótico. Está aí um conceito que eu acho muito subjetivo! O que pode ser considerado exótico? Para nós, talvez a Ásia se encaixe nessa definição. São culturas diferentes, hábitos aos quais não estamos acostumados. Mas já parou para pensar que para grande parte do mundo o Brasil é bem exótico? Será que tudo não depende dos olhos de quem vê? Fiquei pensando muito nisso ao ler Jasmine Nights, do escritor tailandês S.P. Somtow.

Jasmine Nights é narrado por Justin, um rico garoto tailandês  de 12 anos que vive com as tias em Bangkok na década de 60. Justin é como ele se auto-intitulou, mas a família o chama de Little Frog, seu nome tailandês. Ele esqueceu (ou finge que esqueceu) como falar sua língua nativa. Little Frog fala apenas inglês e come ovos e bacon no café da manhã. De certa forma ele está se preparando para o dia em que irá estudar na Inglaterra, dali a um ano. Parece que há muito da vida do autor, S.P. Somtow, nessa história que é considerada uma semi-autobiografia.

Jasmine Nights - S.P. Somtow

Little Frog vive quase solitário em meio a um monte de adultos. Seu único companheiro jovem é Piak, o filho do jardineiro. Eles são amigos, mas na frente da família Piak tem que se comportar como o empregado da casa que ele é. A turma aumenta quando aparece o novo vizinho, Virgil, um garoto americano que mora com a mãe e a irmã na casa ao lado. Lembra que eu falava sobre o que é ser exótico? Pois é, minha primeira reflexão veio quando família de Justin conhece Virgil, que, além de americano, é negro.

“You know very well what I mean! Bringing that … savage creature, that monkey, into this house.” “Don’t be preposterous, Aunt Ning-nong,” I say. “You heard him say that his father’s a colonel and his mothers’s a scholar. He’s obviously well brought up. He’s an American, for God’s sake, and Americans are practically civilized.” “They most certainly are not! They havent’t even got a king.”

O garoto não entende o preconceito das tias, mas logo percebe que tudo não passa de uma reação ao desconhecido. Assim que elas conhecem melhor Virgil, começam a gostar dele. O que ele realmente não entende é como dois novos amigos estrangeiros, um americano e um sul-africano, tratam Virgil. E como esse garoto forte e ousado fica tímido e submisso na presença dos garotos brancos. Lembrem-se de que estamos falando da década de 60, um mundo ainda mais intolerante que o de hoje, um mundo em que o apartheid era legalizado.

Little Frog não entende o preconceito que Virgil sofre simplesmente pela cor da sua pele, mas demora a perceber que na sociedade em que vive há outros tipos de preconceitos. Na Tailândia que ele nos apresenta as pessoas são divididas em espécies de castas. Ele é privilegiado, mas nem todos têm a mesma sorte. É por isso que ele não se espanta quando o pai de Piak decide se submeter à cirurgia de mudança de sexo. Para ele essa é a única forma de ascensão social. Já ouviram falar que hoje a Tailândia é referência em cirurgias de troca de sexo?

Enquanto Little Frog enfrenta seus problemas juvenis, a Guerra Fria divide o mundo e logo ao lado acontece a Guerra do Vietnã. Aos poucos vamos descobrindo como esses fatos influenciam sua vida, especialmente em relação à ausência de seus pais.

Confesso que demorei um pouco a engrenar nessa leitura. No início eu não estava entendendo muita coisa e Jasmine Nights até me irritou um pouco. Não percebi de cara que havia um quê de realismo fantástico no livro. Depois que minha ficha caiu a leitura ficou mais fácil. Apesar de tratar de certos problemas universais, o livro me mostrou também muitos aspectos sociais, históricos e culturais da Tailândia. Nem sempre as referências são óbvias, por isso acho interessante pesquisar um pouco sobre o que acontecia no Sudeste Asiático e no resto do mundo na década de 60 para entender o contexto dessa história. Com isso em mente, Jasmine Nights pode nos ensinar muita coisa.

Jasmine Nights foi publicado originalmente em inglês, em 1994,  pela editora Hamish Hamilton.

Mais alguns livros tailandeses:

  • Curtain of Rain, Tew Bunnag
  • Time, Chart Korbjitti

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Lu Malheiros

    Gostei do livro, não tive dificuldade para engrenar na leitura e achei os personagens bem construídos. Só o final que me pareceu um pouco forçado. Adorei imaginar Bangkok na década de 60 e me bateu uma saudade de lá…

    • No início eu tinha que ler alguns trechos várias vezes para entender, mas talvez tenha sido uma dificuldade com a linguagem, não sei… E eu tava achando tudo muito maluco. rsrs Encarei o final como o restante do livro: com vários toques de realismo fantástico.

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