198 Livros: Filipinas – When the Rainbow Goddess Wept

198 Livros - Filipinas

Se tem uma coisa que eu reforço a cada livro desse projeto que leio é o tamanho da minha ignorância. Algumas coisas que aprendo podem ser uma espécie de cultura inútil, mas tive uma surpresa, por exemplo, ao descobrir que as Filipinas foram colônia espanhola por mais de trezentos anos. Você sabia que o nome do país é uma herança dessa época, uma homenagem ao Rei Filipe II da Espanha? Eu não fazia ideia que um país asiático tão distante do nosso tivesse uma parte de sua história tão parecida com a da América Latina. Mas a dominação não parou com a saída da Espanha e foi isso que descobri lendo When the Rainbow Goddess Wept, da escritora filipina Cecilia Manguerra Brainard.

When the Rainbow Goddess Wept narra a história das Filipinas durante a Segunda Guerra Mundial através dos olhos da pequena Yvonne. O país está agora sob domínio americano e se vê envolvido nos conflitos de seu dominador. Estados Unidos e Japão fazem das Filipinas seu campo de batalha. Como sempre, são as pessoas comuns que sofrem as consequências dessas guerras. O questionamento ao imperialismo é um tema recorrente na obra, além das inúmeras guerras e invasões que o país sofreu. Para os filipinos era difícil até mesmo identificar quem eram os amigos ou inimigos em cada momento da história.

When the Rainbow Goddess Wept - Cecilia Manguerra Brainard

Yvonne tem apenas 9 anos, só conhece a realidade do país hoje, mas ela é uma criança inteligente e através das reações das pessoas à sua volta ela descobre que as Filipinas já passaram por diferentes momentos. Houve a colonização espanhola, logo seguida pelo domínio americano, entre os séculos XIX e XX, além de um breve domínio britânico no século XVIII. Agora são os japoneses os inimigos do país, por causa da guerra com os americanos.

“You know how old I am, Yvonne? When the Americans were our enemies, I was already old.” She paused. “That is very old. It is a gift to be that old, but the time arrives when it’s a burden. It’s confusing, Yvonne. When the American soldier ate here, the one with white eyelashes, I had to tell myself that he was no longer our enemy, and that I should not splash the hot soup in his face. Like your Lolo Peping, the memory of what Americans have done to us grips my mind. Now I have to train myself that Japanese are now enemy. In forty years the Japanese may be our friends. It is very confusing to be old.”

A família de Yvonne vive na fictícia cidade filipina de Ubec. Eles têm uma vida confortável, o pai é engenheiro e a mãe espera seu segundo filho quando tudo é sacudido pela invasão japonesa, em 1947. Eles são obrigados a abandonar sua casa e fugir para as montanhas do país. A infância tranquila dá lugar aos absurdos da guerra. Como uma forma de ajudá-la a enfrentar essa situação, Yvonne se refugia nos mitos e lendas das Filipinas. Mais que uma fuga, essa é a forma que ela encontra de resgatar e manter sua cultura e de homenagear seu povo.

Cecilia Manguerra usa o mesmo artifício que muitos outros escritores, o de contar os horrores de uma guerra através da visão de uma criança. A inocência parece servir como um filtro, mas nesse caso os sofrimentos não são minimizados. O melhor desse livro pra mim foi que ele me deu a chance de conhecer a história de um país cuja única referência que eu tinha eram as imagens de praias paradisíacas. E de dar voz aos relatos de uma guerra da qual pouco ouvimos falar. Ou melhor, a guerra é a mesma, mas o alcance dela é maior do que a gente costuma imaginar.

When the Rainbow Goddess Wept foi publicado originalmente em inglês em 1994.

Mais alguns livros de escritores filipinos:

  • Ilustrado, Miguel Syjuco
  • Anochecer, Francisco Sionil Jose

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Eu nao sabia também, até pouco tempo, mas acteditava, piamente, que eles falavam espanhol. Como viajei para lá recentemente, me inteirei da situação.
    Eles näo falam espanhol, mas várias palavras do idioma são espanholas. A culinária, com o arroz e carnes/peixes/frutos do mar, leitão assado, etc, è tipicamente espanhola. Há resquícios na arquitetura. O mais forte, com certeza, é o catolicismo. O livro deve ser interessante. Devidamente anotado!!!

    • Camila Navarro

      É até engraçado encontrar rastros das culturas portuguesas e espanholas do outro lado do mundo, não é Juliana? E descobrir essas curiosidades através de livros e viagens é maravilhoso!

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