198 Livros: Macedônia – The Last Summer in the Old Bazaar

198 Livros - MacedôniaAntes da minha viagem aos Balcãs, em 2014, eu queria ler um livro de cada país que iria visitar. Foram justamente os livros da Bulgária e da Albânia que despertaram minha vontade de conhecer a região e a colocaram na minha lista de prioridades. A curiosidade foi imediata, nas férias seguintes eu já estava lá! Só que dois desses países se mostraram desafios na literatura: Macedônia e Kosovo. Era mais fácil entender a situação do Kosovo, um país que ainda luta por ser reconhecimento e independência, mas nada também da Macedônia? Não encontrei nenhum livro que se adequasse à proposta do 198 Livros, ou seja, que me contasse algo sobre a história e a cultura do país. Foi só tempos depois de eu ter visitado o país que a Luciana Malheiros apareceu com uma indicação de lá. Era o livro The Last Summer in the Old Bazaar, da escritora Vera Buzarovska. E não tinha mesmo como ela ter descoberto ele antes, pois ele só foi publicado em inglês um ano depois da minha viagem à Macedônia.

The Last Summer in the Old Bazaar é um romance autobiográfico que retrata a infância de Vera Buzarovska em sua cidade natal, Bitola, durante a Segunda Guerra Mundial. Mais uma vez a guerra aparece como tema central de um livro europeu, mas é fácil entender o porquê, já que sem dúvidas esse foi o período mais marcante da história de muitos países no século passado. Vera nasceu em 1931, então era uma criança quando a guerra começou. Ela faleceu em 2013, em Skopje, e deixou mais de 40 obras publicadas, entre livros de prosa e poemas.

The Last Summer in the Old Bazaar - Vera Buzarovska

A narradora do livro é chamada de Oli, apelido de Olivera, seu nome de batismo. Ela tem 11 anos e trabalha no restaurante de Gazda Mito, que fica no antigo bairro otomano de Bitola. Lá trabalham também os garotos Leon e Sami, que são só um ano mais velhos que Oli. Sami é albanês, Leon é judeu. As crianças são pobres e Gazda Mito as ajuda, dando comida ou refúgio nas horas difíceis. O pai de Oli está preso, a guerra está acontecendo ao redor e o nazismo já chegou à Macedônia. Para piorar, a febre amarela e o tifo matam muita gente. Já deu para perceber que essas crianças não tiveram uma infância nada fácil, né?

O medo se intensifica quando os alemães chegam a Bitola. O ritmo da cidade muda, as pessoas começam a se esconder em casa, as lojas fecham suas portas mais cedo. A única esperança é a chegada dos russos, que algumas pessoas desejam com ansiedade. Só a Mãe Rússia poderia salvar Bitola dos invasores e acabar com a pobreza e a desigualdade.

Apesar de todas as dificuldades do tempo de guerra, The Last Summer in the Old Bazaar é uma linda homenagem à amizade entre as três crianças, que tentam preservar as características da infância em meio a um cenário tão conturbado. É um relato sensível e informativo, que mescla a ingenuidade infantil com descrições do dia a dia durante a guerra. Gostei muito do livro!

O posfácio do livro é curtinho, mas explica melhor algumas informações. Se você não quiser saber um pequeno spoiler, pule esse parágrafo! Oli menciona que num dia de março nenhum habitante da cidade permaneceu intocado pela maldade dos alemães. E no posfácio esse dia é melhor detalhado. No dia 11 de março de 1943, os judeus de Bitola foram deportados numa ação conjunta das forças búlgaras e alemãs. Mais de 3 mil judeus foram enviados para o campo de extermínio de Treblinka, na Polônia. Mais informações sobre esse triste dia e sobre o holocausto na Macedônia podem ser encontradas nesse artigo do Memorial do Holocausto dos Estados Unidos.

The Last Summer in the Old Bazaar foi publicado originalmente em macedônio, em 1974, e em inglês em 2015, pela Saguaro Books. A tradução de Paul Filev.

Mais alguns livros de escritores macedônios:

  • Black Seed, Tasko Georgievski
  • The Time of the Goats, Luan Starova

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

4 Comments

  1. Michael Kozaczek

    This getting tiresome, but historian accuracy and journalistic integrity are at stake. In Poland? Poland did not exist after October 1939. What is more, as we all well know, the death camps were not built and run by Poles. Germans blame the Nazi’s, as if the Nazi’s were a foreign power that imposed its will on innocent Germans. Nonsense.

    • Camila Navarro

      Hi, Michael! Poland here is just a geographical reference. Would it be correct to say “Treblinka, in occupied Poland”?

  2. Sim, foi muito dificil encontrar um livro mesmo em Skopje! Vc. já tem um livro por Kosovo?

    • Camila Navarro

      Ainda não encontrei um livro do Kosovo, Bradley. Pesquisei quando estive lá também, fui a livrarias em Pristina, mas não achei nenhum livro de literatura contemporânea. Continuo procurando!

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