198 Livros: Israel – All the Rivers

198 Livros - IsraelO livro da Palestina, The Lady from Tel Aviv, foi a minha 34ª leitura no Projeto 198 Livros e uma das melhores. Exatamente 90 livros depois, chegou a vez de Israel. De certa forma, foram dois livros irmãos. Primeiro tive a visão de um escritor palestino sobre o conflito Israel-Palestina através de um obra de ficção. Depois foi a vez de uma escritora israelense fazer o mesmo. Era o que All the Rivers, da escritora Dorit Rabinyan, me prometia. Para instigar ainda mais minha curiosidade, soube que o livro havia sido censurado em Israel. Acho que não preciso nem dizer que minhas expectativas para essa leitura estavam altas.

All the Rivers é a história de amor entre a israelense Liat e o palestino Hilmi. O cenário é Nova York pós 11 de setembro, um ambiente pouco amigável para cidadãos do Oriente Médio, mas de certa forma o único local em que o romance poderia acontecer. Ou melhor, ele poderia acontecer em qualquer lugar, desde que longe de Tel Aviv, de Hebrom, da terra que une e ao mesmo tempo separa Liat e Hilmi.

Liat é tradutora e sua temporada em Nova York está chegando ao fim. Ela conhece o artista Hilmi por acaso, culpa de um amigo em comum que pede que Hilmi lhe dê um recado. Um encontro improvável hoje, mas perfeitamente possível em 2002, quando telefones celulares não eram tão comuns e smartphones ainda nem existiam.

AAll the Rivers - Dorit Rabinyan afinidade surge rapidamente e Liat embarca nessa relação pensando que será uma coisa passageira. Logo ela voltará para Tel Aviv e a aventura com Hilmi ficará para trás. É só uma noite, uma semana, um mês. Seu grande medo é enfrentar a reação da família e dos amigos israelenses. Ela sabe que eles nunca aceitariam um namorado palestino e que ela seria considerada uma traidora por se envolver com Hilmi. Em Israel aquele relacionamento seria impossível, mas ali em Nova York eles podem viver em uma bolha que os protege dos conflitos em casa.

“But next month, in summer, he’ll be in Ramallah, and tomorrow I’ll be in Tel Aviv. Only some forty miles will separate us, an hour and a half’s drive. Yet we’ve barely spoken about it, knowing that even when we are so close we will not be able to meet. We know there is no straight line running between those two dots of ours, only a long and tortuous road, dangerous for me, impassable for him.”

Mas essa bolha nem sempre é tão segura. Por mais que eles tentem ser abertos, sem preconceitos e julgamentos, o conflito político paira no ar. Um simples comentário ou uma memória de infância desperta discussões que parecem impossíveis de se resolver. Liat sabe que está no lado mais forte dessa história, Hilmi se ressente por ser visto como o lado fraco. Ela defende a criação de dois Estados, ele não acredita na divisão por fronteiras. Longe de casa ela se vê defendendo ideias que combatia quando pronunciados por seus pais ou pelo governo.

“Hilmi, with his blind binational fantasies of Israelis and Palestinians living together, covering his ears and banging his head against the wall like a child – it was all or nothing with him. And me with my ancient, anaemic two-state compromise, a formula recited ad nauseam. Him with that insistent dreaminess, a bleeding-heart idealist still praying for reconciliation between the two peoples. And me insisting again, stomping my feet, waving practicality and logic in his face, pleading on behalf of the dog-eared partition agreement.”

All the Rivers traz um tema que não é novo, mas ainda assim um tabu, o que atraiu tanto amor quanto ódio por parte dos leitores. Ele ficou ainda mais famoso quando, em 2015, o Ministro da Educação de Israel o retirou da lista de leituras do Ensino Médio, alegando que o livro encorajaria o relacionamento entre judeus e árabes e a assimilação cultural. É claro que a censura fez com que All the Rivers atingisse um público ainda maior. Eu mesma me interessei pelo livro quando soube da discussão. Li um texto interessante da Dorit Rabinyan sobre esse assunto que ela finaliza de forma muito bonita:

“Theirs is a complicated love story. But it is suffused with our responsibility to see the other, to be able to recognize ourselves in them. Above all, it rests on the hope that whether we want to or not, whether we shut our eyes or plug our ears, whether we drag our feet or stomp our legs, we will sooner or later admit that we — us and them — sail on the same boat.”

A história de Hilmi e Liat me tocou profundamente. Fiquei ainda mais emocionada ao saber que ela é baseada em fatos reais do relacionamento entre Dorit Rabinyan e o artista palestino Hassan Hourani, a quem o livro é dedicado. Por tudo que ele representa e pela linda forma que a escritora escolheu para contar essa história, é um livro que eu adorei ter tido a chance de ler.

All the Rivers foi publicado originalmente em hebraico, em 2014, e em inglês em 2017 pela Serpent’s Tail no Reino Unido. A tradução é de Jessica Cohen.

Mais alguns autores israelenses:

  • David Grossman
  • Orly Castel-Bloom
  • Benjamin Tammuz
  • Amos Oz

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

4 Comments

  1. Fiquei ansiosa para ler! Muito bem, está conseguindo atualizar os posts! Vou ver se consigo também, kkkkk!

    • Camila Navarro

      Tô precisando me atualizar nas leituras dos blogs também, Ana! Vou passar no seu em breve!

  2. Paula Simões

    Como seria bom se uma editora brasileira se interessasse em publicar esse livro!

    • Camila Navarro

      Queria que esse e tantos outros despertassem o interesse das editoras brasileiras, Paula! Israel e Palestina são dois deles.

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