Vecrīga – A Cidade Antiga de Riga

Apesar da proximidade geográfica, os Países Bálticos não são homogêneos como tendemos a pensar. Há muitas diferenças culturais e arquitetônicas bastante perceptíveis em suas capitais e até por isso é difícil compará-las. Tivemos experiências e sensações bem diferentes em cada uma delas. Enquanto Tallinn nos cativou com suas construções medievais e seu clima de cidade pequena, mesmo com a enorme quantidade de turistas, Riga me pareceu ter mais cara de cidade grande.

Riga é mesmo a maior cidade dos Países Bálticos, o que não significa trânsito caótico ou arranha-céus, mas sim um ar mais cosmopolita. A causa pode ser uma característica peculiar de sua população: os letões são minoria em sua própria capital.  Apenas em 2006 eles ultrapassaram o número de russos, que vem diminuindo desde a independência do país. A emigração e a baixa natalidade têm causado o declínio da população, hoje com cerca de 700 mil habitantes. Além disso, a cidade parecia ter poucos turistas  e ver as pessoas em suas atividades normais deixava tudo com um jeito mais “real”.

Mas nem por isso o turista não encontra seu lugar. Muito pelo contrário! O centro histórico, chamado Vecrīga, é mais um daqueles recantos perfeitos para se conhecer a pé, andando sem rumo. As casinhas coloridas são um deleite para os olhos e as ruelas tortuosas são conectadas por  diversas praças. A mais charmosa delas talvez seja Livu Laukums, cercada de lindos prédios. Sem contar as ruas nas proximidades com cara de conto de fadas.

Um ótimo ponto de partida para um passeio é a Praça da Prefeitura (Rātslaukums). É lá que fica a atração mais famosa e bonita de Riga, a Casa dos Cabeças Negras (Melngalvju nams), uma antiga confraria de comerciantes alemães. O nome deriva do santo padroeiro da sociedade: São Maurício, o primeiro santo cristão negro. A construção original é de 1344, mas na década de 40 a casa foi destruída completamente. Felizmente o projeto sobreviveu e uma réplica exata da casa foi construída para celebrar os 800 anos de Riga, comemorados em 2001.

Quase em frente, do outro lado da praça, fica a Prefeitura de Riga, também reconstruída praticamente do zero há poucos anos. Entre as duas construções ergue-se uma estátua do santo padroeiro de Riga, ou melhor, uma réplica dela, já que a original encontra-se na Igreja de São Pedro, na praça contígua que leva seu nome.

A Igreja Luterana de São Pedro (Pētera baznīca) é uma das construções mais antigas de Riga, com  cerca de 800 anos, apesar das restaurações, reconstruções e remendos que sofreu nos séculos seguintes. Uma das últimas reformas ocorreu na década de 70, quando foi instalado um elevador que dá acesso à torre, a 72 m de altura. De lá é possível ter uma ótima vista da cidade, que nós, infelizmente, não conhecemos. Depois de pagar 2€ para ter uma experiência semelhante em Tallinn, achamos que o valor de 2 Lats (cerca de R$ 7,00) cobrados em Riga estava muito inflacionado e deixamos para lá. Pura pão-duragem, eu sei! Mas, pensando bem agora, até que o preço mais caro em Riga faz sentido, já que em Tallinn não há elevador! ;-)

Riga tem várias igrejas e o estilo da maioria delas me deixou intrigada. Primeiro porque elas costumam ter uns formatos meio estranhos e às vezes é difícil acreditar que a construção que você vê de frente é a mesma olhando de lado ou na parte de trás. Um exemplo é a Igreja de São João, cuja torre destoa totalmente do “corpo” da construção. Sua origem remonta ao século XIII, mas as alterações posteriores fizeram com que ela virasse uma mistura de estilos Gótico, Renascentista e Barroco. Isso é o que estava escrito no guia. Como eu não entendo nada de arquitetura, acreditei…

Outras duas construções chamam atenção no centro histórico: a Casa de Mentzendorff e os Três Irmãos.  A primeira era a residência de um rico comerciante do século XVII e hoje abriga uma parte do Museu de História e Navegação de Riga. Já os Três Irmãos são três casas de pedra que representam diferentes estilos arquitetônicos que Riga ostentou ao longo dos séculos. A branca, construída há mais de 600 anos, é a mais antiga. A do meio é a mais nova.

Voltando para a Praça da Prefeitura, encontramos o Museu da Ocupação da Letônia,  localizado em uma antiga construção da era soviética. O museu retrata os períodos de ocupação soviética e nazista na Letônia entre 1940 e 1991 e, de certa forma, conta a história de todos os Países Bálticos (foi  lá que eu aprendi muito coisa que contei aqui). É muito triste e emocionante, mas imperdível. A entrada é gratuita, mas duvido que alguém saia de lá sem deixar uma doação.

Saindo de lá rumo ao Rio Daugava, há uma polêmica estátua erguida em 1970 para homenagear os fuzileiros letões do Exército Vermelho. Muitos dizem que a estátua é um símbolo do antigo regime comunista e que por isso deveria ser destruída. Controvérsias a parte, a estátua continua lá, ao lado do Museu da Ocupação, e elas são duas das poucas construções do período de ocupação mantidas na cidade.

Já no finalzinho na cidade antiga (ou seria seu início?) há o pouco que restou da antiga muralha de defesa da cidade. O Portão Sueco (Zviedru Varti), construído em 1698, durante o período de domínio da Suécia, é a única porta de entrada que permanece de pé. Um pedaço de muro foi reconstruído e uma única torre resistiu às guerras medievais e aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial.

Apesar de linda, não é por causa de Vecrīga que Riga é famosa. O grande destaque fica por conta de um estilo um pouco mais recente: a cidade tem o maior número de edifícios Art Nouveau do mundo! Mas, como já falou demais por hoje, esse assunto fica para o próximo post!