Siem Reap além dos Templos de Angkor

Siem ReapÉ meio difícil falar sobre o Camboja. Não há fotos ou palavras que representem o que eu senti estando lá. Angkor Wat pode ser a maior atração do país, mas seu maior tesouro não é material. A maior riqueza do Camboja, o que faz com que todos saiam de lá apaixonados e querendo voltar, é seu povo. Não sei se existem pessoas mais doces e gentis que o cambojanos. Eu ainda não conheci. Como diz a célebre frase de Joseph Mussomeli, o ex-embaixador americano no Camboja, “Tome cuidado, pois o Camboja é o país mais perigoso que você visitará. Você se apaixonará por ele e ele eventualmente irá partir seu coração. ”

Quando pensamos em tudo que eles sofreram, os sorrisos genuínos que recebemos se tornam ainda mais especiais. Para meu espanto, a tragédia que o país viveu não está estampada no rosto de seus moradores. Um turista desavisado pode passar pelo Camboja e nem ter idéia do que ocorreu, mas um mínimo conhecimento sobre a história do lugar que visitamos deixa a viagem muito mais rica. Mas eu já falei sobre o regime do Khmer Vermelho tanto no post sobre Phnom Penh quanto no post sobre o livro do Camboja que li para o #198livros, então chega desse assunto triste! Eu quero falar hoje é de Siem Reap, a cidade que serve de base para conhecer os templos de Angkor.

Descobri que muita gente nunca ouviu falar de Siem Reap, assim como muitas pessoas não sabem que para chegar a Machu Picchu é preciso antes passar por Aguas Calientes. E estou falando de pessoas que sonham em conhecer Angkor Wat! Bom, Siem Reap não é uma cidade de muitas atrações, seu maior apelo é mesmo a proximidade dos templos de Angkor, mas ela desempenha muito bem o papel de cidade-base. Ela é totalmente voltada para os turistas e tem uma ótima infra-estrutura para nos receber, desde um aeroporto novinho a ótimos hotéis e restaurantes.

A parte mais turística de Siem Reap é compacta, apesar de haver hotéis espalhados por tudo quando é canto. Quem fica hospedado no centrinho pode fazer quase tudo a pé. Alugar uma bicicleta também pode ser uma boa para conhecer alguns pontos mais distantes, mas, se a preguiça ou o calor baterem, a qualquer hora você pode contratar um tuk-tuk na rua por poucos dólares. Passamos três dias inteiros em Siem Reap, mais parte dos dias de chegada e de saída, então até que andamos bastante por lá. Ainda assim digo que conhecemos a cidade superficialmente, pois nos cansávamos nos templos e à noite só saíamos para comer. Mas esses intervalos são suficientes e não é preciso reservar nenhum dia especificamente para Siem Reap.

Tuk-tuk em Siem Reap

O primeiro lugar que conhecemos, na nossa primeira hora na cidade, foi o Wat Preah Prohm Roth, um templo que fica às margens do Rio Siem Reap. Como já tínhamos visto outros templos budistas em Phnom Penh e ainda veríamos muitos no Laos, só passamos por lá rapidamente e porque estava no nosso caminho, mas pode ser uma visita interessante para quem visita apenas Siem Reap. Nesse caso, eu acho que o Wat Thmei também seria interessante. Esse templo fica na estrada que leva à Angkor Wat e serviu de prisão para o Khmer Vermelho. Uma de suas estupas contem os ossos de pessoas assassinadas no local nesse período. Nós só conhecemos o Wat Preah Prohm Roth, mas há ainda outros templos espalhados por Siem Reap e você os reconhecerá quando passar por eles, pois sua beleza e imponência contrastam com a pobreza do país.

Wat Preah ProhmWat Preah Prohm

Wat Preah Prohm

Andar pelas ruas do centrinho de Siem Reap é inevitável. Talvez lá esteja a maior concentração de restaurantes por metro quadrado que eu já vi! Mas não é só isso. Há também muitas lojas e spas, tudo voltado para os turistas. Os mercados noturnos vendem roupas e artesanato, mas é preciso pechinchar, pois os preços iniciais são sempre inflacionados. Durante o dia as ruas viram um paradão só, mas à noite lotam!

Siem Reap

Pub Street - Siem Reap

Pub Street - Siem Reap

Um dos programas que mais me emocionou nessa viagem foi o Concerto Beatocello no Hospital Infantil Kanta Bopha. Todas as quintas e sábados às 19h15, o Dr. Beat Richner faz um concerto de violoncelo para arrecadar dinheiro para o hospital. Entre uma música e outra ele nos conta a história do hospital e também do Camboja. Esse pediatra suíço é um exemplo de amor ao próximo e perseverança. Em 1974 ele foi para Phnom Penh através da Cruz Vermelha trabalhar no Hospital Kanta Bopha. Ele estava lá quando o Khmer Vermelho chegou ao poder e fechou todos os hospitais, tendo sido então obrigado a retornar à Suíça. Em 1991 ele voltou ao Camboja e, com o apoio do falecido rei Norodom Sihanouk, reabriu o hospital. Hoje já são 5 hospitais em Phnom Penh e Siem Reap, incluindo uma maternidade. Todo o atendimento é gratuito. Mais de 80% do atendimento pediátrico no país é feito nos hospitais Kanta Bopha, mas ele praticamente não recebe ajuda do atual governo. Quase toda a verba dos hospitais vem de doações e é por isso que o Dr. Beat Richner realiza seus concertos. O evento é gratuito, mas duvido que alguém consiga sair de lá sem emocionar e sem deixar uma doação. Mas não se preocupe, ninguém é coagido a doar e o valor não importa.

Concerto BeatocelloConcerto Beatocello

O Museu Nacional de Angkor é um excelente museu sobre a arte e arquitetura Khmer. É lindo, grandioso e de alta qualidade, mas é caro. A entrada custa US$ 12 por pessoa. Para o Camboja isso é muito caro. Não é que não valha a pena, mas acho que é preciso ir com tempo. Nós fomos no final da tarde, quando já estávamos cansados e não aproveitamos bem o museu, então não valeu o que pagamos. Para quem tiver mais disposição, é um ótimo lugar para tentar entender a arquitetura e a religião que inspiraram os templos de Angkor.

Museu Nacional de Angkor

Museu Nacional de Angkor

Eu fui ao Haven por causa de um post da Adriana Lacerda no blog Escapismo Genuíno e só depois soube que ele é o restaurante nº 1 no Trip Advisor. Chegamos lá achando que era só entrar e sentar, mas a procura é tanta que só mesmo com reserva. Mas não foi difícil, conseguimos uma mesa já para o dia seguinte. O que me deixou triste foi ver quantas pessoas reservam e não aparecem! Um desrespeito sem tamanho! Além da linda causa social que realiza com os jovens, a comida é deliciosa (sem contar que eles servem pratos realmente vegetarianos). Quem nos atendeu foi um rapazinho que estava começando seu treinamento e ele era tão fofo que me deu vontade de trazê-lo na mala. É um lugar que não dá para perder em Siem Reap.

Haven - Siem ReapHaven - Siem Reap

Haven - Siem Reap

Haven - Siem Reap

O shake de manga do Blue Pumpkin é famoso e o lugar é indicado em tudo quanto é canto. Há duas lojas em Siem Reap, uma que serve só lanches e sorvetes e uma que serve também refeições. Comi um hambúrguer vegetariano que estava bom, o shake também, mas nada especial e era meio caro em relação aos outros lugares em que comemos. Na verdade, tudo que é “ocidentalizado” por lá é mais caro e o Blue Pumpkin não tem nada de cambojano, exceto os funcionários. É um bom lugar pra quando você sentir falta de fast-food ou não estiver afim de comer as comidas locais, sabe? A melhor coisa de lá pra mim foi o sorvete. Num lugar em que não dá para confiar em qualquer sorvete de rua, é sempre bom ter referências de um lugar confiável. Se quiser comprar só umas bolas de sorvete, tem alguns outros pontos de venda pela cidade, como um na Pub Street, ao lado do restaurante Banana Leaf.

Blue PumpkinBlue Pumpkin

ALERTA SOBRE OS ORFANATOS DE SIEM REAP

Deixei para o final um assunto meio polêmico. É que muita gente visita orfanatos em Siem Reap. Eu sempre soube que não gostaria de fazer esse tipo de “passeio”. Sei que a intenção de quem participa desses programas é boa e que as pessoas pensam que estão ajudando as crianças ao visitar e fazer doações para os orfanatos, só que não é bem assim. Eu acompanho as notícias sobre o Camboja há bastante tempo e sempre vejo reportagens falando sobre o problema desse tipo de turismo. Quer alguns exemplos?

O número de orfanatos no Camboja aumentou absurdamente nos últimos anos e não foi à toa. Aproveitadores perceberam que a exploração dessas crianças seria uma ótima forma de conseguir dinheiro dos turistas. Os defensores do fim dessa prática argumentam que a maioria das crianças que vivem em orfanatos no Camboja nem mesmo são órfãs! E esses “órfãos” costumam viver em situações precárias, pois crianças bem cuidadas não gerariam tanta comoção, né? Pense bem, que tipo de orfanato sério deixaria suas crianças expostas à visitação pública? Se ainda não está convencido, faça uma pesquisa sobre o assunto. Os links que coloquei são um bom começo, mas não faltam exemplos pela internet afora.

Veja todos os posts cobre o Camboja no Viaggiando.

14 Comments

  1. Carolina Scotti

    Amei o HAVEN! TEntamos ir uma segunda vez…mas na quarta feira eles fecham para o almoco! Fiquei arrasada! rs… Precos compativeis com os demais restaurantes da cidade e comida absurdamente boa…. de verdade! Alias, acho q a cambojana foi a minha preferida do SE Asiático!

    • Carol, eu só não gostei mais de lá porque meu prato veio muito apimentado para o meu paladar. rsrs Fico em dúvida entre a culinária cambojana e a vietnamita. Os spring rolls do Vietnã foram os melhores!

  2. Flavia Vilhena

    Anotada a dica do Haven! Aliás, estou adorando as dicas de comida! Já reservei meu food tour em Hanoi! :)

    • A comida naquela região é deliciosa! Eu passava um pouco de aperto por ser vegetariana, mas mesmo assim comi muito bem. A comida é cheia de sabor e os ingredientes são sempre bem frescos. Só de me lembrar fico com água na boca!

  3. José Augusto

    Estive no Camboja em 2009 e adorei tudo,é um lugar que planejo morar.O povo é lindo e carinhoso.

  4. Mirella Matthiesen

    Que delicia de post Camila, vocês curtiram Siem Reap muito mais a fundo que a gente … adorei! E pelas fotos, algumas coisas mudaram desde que fomos em 2010… Eu também amei o Camboja, os templos é a desculpa que temos pra ir lá, mas as pessoas são incríveis, hoje até tenho saudades das crianças nos perturbando a cada templo que parávamos vendendo qualquer coisa por 1 dollar :)
    bjos

    • Mi, queria ter aproveitado ainda mais, mas algumas coisas eu descobri quando já tinha ido embora. É sempre assim, né? Mas ó, eu reli e reli seus posts cobre o Camboja e eles foram super úteis no meu planejamento! :-)

  5. Oi, Camila. Tudo bem?

    Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.

    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,

    Natalie – Boia

  6. Carolina Scotti

    Nem preciso dizer que fico babando nos seus posts e sonhando com minha viagem… a cada post coloco mais um item no bucket list! hehehehe

    Pena que nao estarei na cidade para o concerto… ficarei de segunda a quarta somente! :(

    • Que pena, Carol! Eu só soube do concerto quando estava lá, mas passei 4 noites em Siem Reap, então a chance de pegar o concerto era grande, né? Tenta ir ao circo! Eu não fui, mas parece que a proposta também é muito legal.

  7. Liliana Stahr

    Esse post veio na hora certa, Camila! Adorei! Estou tentando não criar expectativas com o Cambodia, mas está dificil. Todo mundo ama! No fundo eu sei que vou amar tb, mas fico tentando controlar a ansiedade/imaginação para não esperar além do que devo.

    • Liliana, eu fui com muitas expectativas, mas ainda assim o Camboja conseguiu me surpreender. Você é uma pessoa sensível, tenho certeza de que os cambojanos alcançarão seu coração também! :-)

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