198 Livros: Sudão do Sul – There is a Country

198 Livros - Sudão do SulLer um livro do Sudão do Sul tinha um sabor todo especial, afinal, estamos falando do mais novo país do mundo! Nosso caçulinha – enquanto um novo país não desponta por aí – conquistou sua independência um dia desses, em 2011, após décadas de conflitos. Ele completou 4 anos na semana passada, mas ainda hoje sofre com uma guerra civil que está devastando o que ainda nem tinha tido tempo de se firmar. Direitos humanos são violados, pessoas morrem de fome, as doenças se alastram… As notícias que chegam de lá são muito tristes.

Em meio a tantas turbulências, pensei que seria impossível encontrar um livro do país, mas fiquei muito surpresa ao descobrir que os escritores locais não perderam tempo e logo publicaram um livro que ajudaria a disseminar a cultura de seu país de uma forma que a mídia não consegue fazer. Era There Is a Country: New Fiction from the New Nation of South Sudan. Senti que uma preciosidade tinha chegado às minhas mãos quando recebi esse livro lindo.

There Is a Country: New Fiction from the New Nation of South Sudan There Is a Country é uma coletânea de contos de escritores sul-sudaneses, dentre eles Nyuol Lueth Tong, que editou o livro. Acredito que esse seja o primeiro livro do país mais novo do mundo desde que ele existe como um país independente. Aproveito para já fazer uma crítica: nenhum dos contos foi escrito por uma mulher. Apesar disso, o que esse livro se propõe a fazer é maravilhoso: There Is a Country tem a missão de apresentar uma amostra da literatura do Sudão do Sul ao mundo.

“I understand why peolpe would resort to literature, as opposed to media, to gain deeper kmowledge about South Sudan; fiction and poetry can provide a sense of place that readers would otherwise have never been able to imagine.”

A introdução do livro já é uma fonte preciosa de informações a respeito da literatura sul-sudanesa e do próprio Sudão do Sul. Nyuol Lueth Tong explica que o norte do Sudão sempre foi descrito como islâmico e árabe, enquanto o sul seria cristão e africano, e que esses fatores são usados para justificar os conflitos na região. Eles diz que na verdade centenas de linguagens e etnias coexistem no norte, que no sul há mais de 60 línguas e que lá o cristianismo e o islamismo são praticados, mas são as crenças locais que dominam o cenário religioso. Por aí a gente já percebe que não é tão simples definir uma cultura, um povo.

Logo no início ele levanta outra questão interessante, que é a da língua. O fato de todos os contos terem sido escritos em inglês não é um forte símbolo da dominação cultural à qual a África foi submetida? Apesar de o inglês ser a língua oficial do país e de o árabe ser a língua franca, na prática as línguas nativas, especialmente o dinka, são as realmente usadas pela população, principalmente no interior do país. O inglês hoje é usado como uma forma de unificar diferentes povos africanos. No caso da literatura, ele é também uma importante ferramenta de disseminação desse conteúdo mundo afora. E eu não posso discordar, afinal, foi isso que me permitiu ter acesso à literatura sul-sudanesa de forma tão rápida.

Depois de uma introdução como essa – curta, mas cheia de significado – eu estava ansiosa para ler cada um dos contos. A leitura foi bem rápida, não só porque o livro é pequeno, mas porque as histórias são bem fluidas. Em geral eles descrevem a vida no Sudão do Sul hoje e ontem. São lembranças da infância, dificuldades em meio a um cenário de guerra ou simplesmente retratos de cenas familiares. É um livro muito bonito e também necessário. Depois de conhecer um pouco mais sobre o país, só posso desejar um futuro melhor para ele.

Acho que é importante citar o nome de todos os contistas de There Is a Country, afinal, esse não é um livro de um autor só. São eles: Samuel Garang Akau, Arif Gamal, Taban Lo Liyong, Victor Ugala, Edward Eremugo Luka, David L. Lukudu, John Oryem e Nyuol Lueth Tong.

There Is a Country: New Fiction from the New Nation of South Sudan foi publicado originalmente em inglês, em 2013, pela editora McSweeney’s.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Gostei! Estava esperando por esse país. Recentemente descobri por acaso na livraria o livro da Alek Wek (o nome é esse mesmo) ela é sul suldanesa e dinka, conta da sua vida antes e durante a guerra, quando fugiram a pé para uma tribo, e depois sua imigração para Londres onde foi descoberta por uma agencia e virou uma modelo de sucesso morando hoje em NY. Ela fala da cultura dinka e as dificuldades durante o confronto e do quão maravilhada ficou ao chegar em um supermercado em Londres. Na última parte do livro ela fala sobre o preconceito de ser aceita e os estereótipos de ser modelo africana no mercado de moda.
    Achei bem bacana e pode complementar a leitura. :)

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