198 Livros: Geórgia – Journey to Karabakh

198 Livros - GeórgiaAntes da minha viagem para a Geórgia, no início do ano, eu procurei um livro de lá para ler. Adquiri esse hábito antes de começar minha volta ao mundo em livros porque ler sempre foi para mim uma forma de conhecer diferentes lugares e culturas. Acho que ler um livro sobre um país antes da viagem é uma forma de imersão cultural prévia que acaba tornando a experiência mais rica. Só que minha procura foi em vão, pois não encontrei nenhum livro georgiano para comprar por aqui. Descobri que a editora americana Dalkey Archive Press tinha lançado recentemente uma série muito legal, chamada Georgian Literature, com a proposta de levar para os leitores de língua inglesa o melhor da ficção georgiana contemporânea, mas os livros só foram publicados em versão física e na época não eram vendidos no Brasil. Em vez de esperar meses pela chegada de um livro importado, resolvi que dessa vez eu faria diferente: compraria o livro do país in loco. E assim o fiz!

Na programação de Tbilisi incluí uma atividade indispensável: visitar uma livraria com acervo em inglês. A tarefa foi fácil, pois logo descobri a Prospero’s Books, uma livraria super charmosa na avenida Rustaveli. Difícil foi escolher um só livro quando me deparei com uma prateleira cheia de livros de autores georgianos traduzidos para o inglês! Acabei comprando dois, mas escolhi apenas um para o #198livros: Journey to Karabakh, do escritor Aka Morchiladze.

Journey to Karabakh - Aka MorchiladzeJourney to Karabakh é mais que um livro sobre a Geórgia, é também um livro sobre os países vizinhos – Armênia e Azerbaijão. A viagem que eu queria fazer era por esses três países, tão próximos e tão diferentes, mas o tempo que eu tinha não era suficiente e acabei tendo que deixar o Azerbaijão para uma próxima oportunidade.

O narrador dessa história é Gio, um jovem georgiano que está sofrendo por causa do fim de seu namoro com Yana, provocado por pressão de sua família. Ele está num momento meio depressivo quando seu amigo Goglik o convence a viajar a Ganja, no Azerbaijão, para comprarem drogas. O ano é 1991: a Geórgia acaba de declarar sua independência da Rússia e passa por uma guerra civil que se prolongará por alguns anos. Nos países vizinhos a situação também não é muito estável: a região de Karabakh é palco de conflitos entre Armênia e Azerbaijão – que a disputam até hoje .

Mesmo com esse cenário nada animador, Gio e Goglik embarcam no Lada de Gio rumo a Ganja, planejando voltar a Tbilisi no mesmo dia. Só que as coisas não acontecem como eles planejaram e eles acabam se perdendo e indo parar em Nagorno-Karabakh, bem no meio da briga. Gio é feito prisioneiro, primeiro pelos azeris, depois pelos armênios. Durante seus períodos de cativeiro ele tem a chance de conhecer os dois lados da moeda e também de se conhecer melhor. Em certo ponto fica a dúvida se Gio era um prisioneiro ou se na verdade estava se libertando das amarras que o prendiam em Tbilisi.

“I try to work out whether I really was a prisoner there or not. Now that I’m far away, I can’t decide whether things really were as they seemed.”

Gio não parece ser uma pessoa muito politizada e talvez por isso não emita muitas opiniões muito aprofundadas sobre o que acontece na Geórgia e nos países vizinhos. As guerras acontecem sem que ele dê muita atenção a elas até que é afetado diretamente. E não é assim que a maioria de nós agiria na mesma situação? Sua relação com o conflito de Nagorno-Karabakh tem mais a ver com as pessoas que ele conhece nessa jornada. Amigos? Inimigos? É difícil dizer.

Além das questões políticas, fiquei procurando no livro a Tbilisi que eu conheci. Consegui reencontrá-la quando Gio fala dos livros sendo vendidos no chão, formando tapetes coloridos, e do clima instável e frio no mês de março, que eu senti na pele. E, é claro, fiquei querendo saber o que ele iria dizer da Armênia, o país que me encantou especialmente por causa de seu povo.

“The Armenian people suffered massacre after massacre, and in return they spread culture throughout the surrounding territories and built churches. Nobody had managed to find a more cultured nation than Armenia, or fighters more fearsome than theirs, although many had tried.. What I couldn’t understand was this: if they were such a nation of fighters, how come everyone kept conquering them and slaughtering them? Also, what was it about them that meant they never quite got wiped out, despite all those massacres?”

Journey to Karabakh tem apenas 159 páginas, mas eu demorei alguns dias para ler. Não sei se foi certa dificuldade com o texto em inglês ou com a condução da história, só sei que ele não me prendeu muito. Gostei do livro, mas não tanto quanto eu esperava. Quem sabe o outro livro que eu comprei em Tbilisi (The Amorous Detective and Other Stories, de Jumber Khantadze) me deixe mais empolgada? ;-)

Journey to Karabakh foi publicado originalmente em 1992, em georgiano, e em inglês em 2013, pela editora Dalkey Archive Press. A tradução é de Elizabeth Heighway.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

9 Comments

  1. Vanessa Rodrigues

    Camila, muito obrigada pelas informações preciosas que você nos traz aqui. É muito além de um simples relato pessoal: você nos traz uma resenha do livro georgiano que acaba de ler e como encontrar livros georgianos e foi isso que me trouxe até essa página, não ter encontrado livros nem na língua georgiana nem traduzidos para o inglês, pelo menos. Ou quem sabe espanhol… Que você nunca perca o ânimo de partilhar essas informações com a gente aqui. Pretendo fazer a mesma jornada que você e com suas indicações ela será, sem dúvida, mais fácil. Um abraço! Vanessa Rodrigues, CE, Brasil.

    • Vanessa, você está em busca de livros em georgiano? Que privilégio, menina! Eu estou é querendo ler um livro de lá e não posso porque não foi traduzido… É O Patricida, de Alexander Kazbegi. Já ouviu falar?

      • Vanessa Rodrigues

        Sim, Camila, mas era só pra ter o gosto de ver algo em georgiano, mas ainda não aprendi a língua, quero aprender. Há site, mas, o material sobre a língua deles é muito pouco. Nem no google tradutor tem a pronúncia! rs! Não, é a primeira vez, não conhecia nem o livro nem o escritor. Vejo aqui que ele foi muito importante, não é mesmo? Tem até uma estátua pra ele na cidade natal dele. Mas esse q vc tem na sua lista, que vc comprou na livraria de lá, está em inglês, não é mesmo?

      • Oi, Camila. Não sei se vc ainda está procurando O Patricida, mas ele está na coletânea The Prose of the Mountains: Three Tales of the Caucasus. O e-book está à venda na Amazon por um preço bem razoável.

  2. Lu Malheiros

    Camila, Encontrei um livro do Otar Chiladze que acho que pode servir para o projeto. O nome é “Avelum – a survey of current press and a few love affairs”. Ainda não comecei a ler, mas já comprei, pois custava menos de R$ 7 na Amazon BR. Depois te digo o que achei. :-)

    • Lu, se você não gostar me avisa que te empresto o meu! Vi que tem dois livros do Otar Chiladze para kindle. Engraçado que eu me lembro de pesquisar os livros dele, mas acho que na época só encontrei em papel. Será que foram digitalizados depois disso? Fico feliz em ver que a cada dia mais livros aparecem em versão digital! Pra gente é uma mão na roda, né?

      • Lu Malheitros

        Pode deixar que aviso, sim! E é ótimo saber que as versões digitais estão aumentando :-)

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