198 Livros: Luxemburgo – Milly’s Story

198 Livros - Luxemburgo

Em geral a Europa complica minhas escolhas para o Projeto 198 Livros pelo excesso de obras de cada país, mas alguns são verdadeiros desafios, especialmente os pequenos Estados. Quando estive em Luxemburgo, em 2016, aproveitei para visitar uma livraria e procurar um livro contemporâneo, mas a verdade é que lá não seria o melhor lugar para comprar versões traduzidas. Só encontrei uma opção em inglês, que eu já conhecia, mas felizmente ela se encaixava no projeto: Milly’s Story: A Young Girl’s Memories Of The Second World War, da escritora Milly Thill.

No prefácio do livro, o então Embaixador dos Estados Unidos em Luxemburgo, Edward Morgan Rowell, diz o seguinte:

“War is a intensely personal tragedy. The abstractions of history books, the distrortions of film fantassies, even the benunbing flood of modern television images somehow fail to penetrate our inner lives. But all wars ultimately consist of individual experiences. That is the truth and value of these reminiscences from a war of 50 years ago whose horror remains contemporary in our day.”

Li muitos relatos sobre guerras ao longo do projeto e fora dele e concordo com o que ele diz. Por mais que tentemos entender a História, no fim das contas ela acontece de verdade dentro de cada casa e o que Milly Thill faz em seu Milly’s Story: A Young Girl’s Memories Of The Second World War é nos contar como foi que a Segunda Guerra Mundial literalmente invadiu a sua quando ela era ainda uma criança.

Milly's Story: A Young Girl's Memories Of The Second World WarO livro foi escrito anos depois, mas nos traz o olhar infantil sobre os acontecimentos. Milly tinha 10 anos quando Luxemburgo foi ocupada pela Alemanha. Ela e a família viviam em um pequeno vilarejo ao lado da linha de trem, acreditando que estavam protegidos pela neutralidade de seu país, quando foram surpreendidos pelo barulho ensurdecedor de aviões de guerra cruzando o céu. Os telefones foram cortados e já não era possível obter informações. Logo a calmaria que eles conheciam tornou-se passado. Antes que eles tivessem tempo de perceber o que estava acontecendo, as lojas já tinham sido esvaziadas pelos soldados e cada casa foi obrigada a receber alguns deles.

Pode parecer estranho e até desrespeitoso dizer isso, mas por saber de todo o sofrimento causado pelos nazistas, a situação de Luxemburgo, ou pelo menos a da família do livro, me pareceu bem menos penosa que a de muitos vizinhos. Claro que minha impressão se deve ao fato de eu ter lido o relato de uma pessoa que não fazia parte dos grupos étnicos perseguidos. A própria Milly diz em certa passagem que tem muitas memórias felizes daquele período e que, apesar de existir o racionamento de comida, os luxemburgueses não passaram fome durante a ocupação. Talvez a maior violação a que foram submetidos tenha sido cultural, pois os alemães se empenharam em apagar os traços da cultura francesa em Luxemburgo e para isso até os nomes próprios foram alterados. A autora, Emilie, na época passou a se chamar Emilia e todas as Marguerites tornaram-se Gretchens.

Milly’s Story: A Young Girl’s Memories Of The Second World War, mais que retratar os horrores de uma guerra, é um conjunto de crônicas e reminiscências de uma época que marcou a infância da autora. Há até mesmo muitas passagens engraçadas.  Ele na verdade é a versão traduzida para o inglês, pela própria autora, da segunda parte de um livro maior publicado apenas em luxemburguês. A obra saiu no ano de comemoração do 60º aniversário da Liberação de Luxemburgo e é dedicada aos soldados estadunidenses que lutaram na guerra e aos descendentes de luxemburgueses que vivem nos Estados Unidos, país do qual Milly diz ser uma grande fã. 40 anos depois, ela reencontrou um desses soldados e para ambos o Natal que passaram juntos em 1944 foi inesquecível.

Milly’s Story: A Young Girl’s Memories Of The Second World War foi publicado em 2004, nos Estados Unidos, pela Virtualbookworm.com.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Interessante, Camila, essa “outra visão” de um momento de guerra… Muito obrigada por dividir conosco sua leitura.

    • Camila Navarro

      Interessante ver o quanto um mesmo momento histórico afeta de forma diferente não só diferentes países, mas diferentes pessoas, não é

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