198 Livros: Índia – Motherwit

198 Livros - Índia No início do Projeto 198 Livros, eu apenas queria saber se o livro me contaria algo sobre a história ou a cultura do país, mas não me preocupava com a variedade de autores que lia. Era 2013 e nem o Leia Mulheres existia ainda. Com o tempo comecei a pensar mais no gênero e na etnia dos escritores e então comecei a ler mais mulheres e autores negros, por exemplo. Quando chegou a vez da Índia outros fatores entraram em jogo e por isso escolhi ler Motherwit, da escritora Urmila Pawar.

Motherwit é uma coletânea de contos que, como o próprio nome indica, aborda o tema da maternidade. Não foi só isso que chamou minha atenção, mas principalmente a história de vida da autora. Urmila Pawar nasceu no estado de Maharashtra, na Índia, em 1945. Ela já publicou mais de uma dezena de livros, todos em marati, a língua oficial de seu estado natal. De origem dálite e budista, ela é uma proeminente ativista dos direitos feminista e dálite na Índia. Suas obras denunciam as diferentes formas de opressão que agem sobre esses grupos.

Motherwit - Urmila PawarMeu conhecimento sobre a cultura indiana era bem superficial, fruto de livros da Thrity Umrigar lidos há mais de uma década e dos estereótipos das novelas das oito. Ate me aventurei um pouco a estudar yoga e ayurverda, mas faltava o componente contemporâneo. Ainda na introdução de Motherwit senti que minha visão se ampliou um bocado. Lá conheci o legado de Mahatma Phule  (1828-1890) e de Dr. Ambedkar (1891-1956), que, dentre outras coisas, converteram milões de indianos ao Budismo. Ambos reconheciam “a ênfase hindu em karma e moksha (salvação) nas práticas cotidianas como perpetuando o sistema de castas opressor”. Eles também defenderam a educação como forma de inclusão social de mulheres e dálites. Eu não sabia que a Índia foi o primeiro país do mundo a implementar o sistema de cotas raciais para o ensino e o serviço público, há quase um século!

Apesar do nome sugestivo, a maternidade não é o único tema de Motherwit. As mulheres são as protagonistas e nem todas são dálites, mas o contexto histórico de luta se reflete nos contos e são uma chave para que os entendamos melhor. Mas a força do livro vai além disso. Em geral os contos são curtos e mesmo assim conseguem nos surpreender. Fico feliz quando encontro textos curtos que condensam muito em poucas linhas e Urmila Pawar ainda consegue criar reviravoltas emocionantes nos finais.

Acho que já ficou claro o quanto eu gostei de ter lido Motherwit. É interessante perceber que quase sempre tenho boas surpresas quando me forço a ampliar meu horizonte literário. Seja lendo livros do Brasil, da Índia ou do Canadá, procurar a diversidade é o que mais tem me ensinado sobre o mundo.

Motherwit foi publicado originalmente em marati, em 2013, e no mesmo ano em inglês, pela Zubaan Books, com a tradução de Veena Deo.

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2 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Nossa! Fiquei muito interessada em ler esse livro. Que dica bacana, Camila! Vou arriscar lê-lo em inglês… Espero que um dia sejamos presenteados com uma tradução. Beijos e um 2023 cheio de muito amor para vc e seus queridos! Acredito que esperançar seja um bom verbo para o ano que se aproxima.

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