Para conhecer Lisboa: Lisbon Chill-Out Free Tour

Lisbon Chill-Out Free TourEu sempre tive vontade de fazer um desses passeios guiados por moradores locais nas minhas viagens. As informações que a gente encontra na internet e os tradicionais guias em papel ou digitais nos ajudam muito no planejamento e nos dão ótimas dicas, mas nada substitui a visão de alguém que vive o dia a dia de um lugar. Só que, não sei o porquê, eu sempre deixava essa idéia para depois. Era um pouquinho de timidez, minha vergonha de conversar em inglês no meio de uma turma grande, aquela preguiça que não nos deixa saber por onde começar… Mas aí a Mirelle escreveu um post alguns meses antes da nossa viagem para Portugal que não me deixou alternativa! Ela falou tão bem do free tour que fez em Lisboa que eu fiquei morrendo de vontade de conferir!

Na semana passada, o jornal The Guardian publicou uma matéria bem legal (em inglês) falando sobre os tais free tours. Free na verdade é uma forma de propaganda e a proposta pode ser melhor definida como “um tour pelo qual você escolhe o quanto pagar”. Nesse tipo de passeio, muito comum na Europa, não há um valor previamente definido e ao final cada um contribui com o quanto quiser ou puder. Geralmente não é preciso se inscrever, basta estar no local de saída na hora marcada e se integrar ao grupo. E para aproveitar o  Lisbon Chill-Out Free Tour é só aparecer na Praça Luís de Camões todos os dias às 10h ou às 15h. O passeio é em inglês, mas há também opções de passeios em espanhol, ou em portunhol, como eles deixam claro no site, mas aí é preciso enviar um email com antecedência ou verificar os horários dos grupos já agendados.

Nós demos a sorte de ir a Lisboa bem quando eles estavam testando o tour em português e acho até que fomos as primeiras cobaias. Enviei um email algumas semanas antes marcando o horário e demos a sorte também de termos o José, que a Mirelle tanto elogiou, como guia. Infelizmente, parece que a idéia do tour em português não foi para frente, pois já não há mais essa opção no site. Nós fomos os únicos naquela tarde a fazer o passeio em nossa língua nativa, enquanto o grupo guiado em inglês era mais numeroso. Mas foi uma ótima experiência, pois assim o tour foi direcionado de acordo com o que já tínhamos visto na cidade ou tínhamos vontade de ver. Sem contar que foi uma delícia ficar batendo papo em nossa própria língua, percebendo as diferenças e similaridades do português brasileiro com o português de Portugal. E sabe que as semelhanças são muito maiores do que eu imaginava?

O tour começou ainda na Praça Luís de Camões, onde o José nos contou um pouquinho sobre a história de Lisboa. E é por isso que esse tipo de passeio é legal, pois conhecemos a história não só como ela foi repassada, mas da maneira como ela foi assimilada por um lisboeta, o que é muito mais interessante. De lá seguimos para o  Bairro Alto, um lugar pacato durante o dia, mas que se transforma durante a noite, quando seus inúmeros bares e restaurantes abrem as portas e os jovens invadem as ruas. Como estávamos hospedados ali perto e poderíamos explorá-lo por conta própria, o José sugeriu que não nos demorássemos e seguíssemos em frente.

Praça Luís de CamõesBairro Alto - Lisboa

Azulejos no Bairro Alto

Uma das paradas do nosso passeio foi na estátua do Cauteleiro, uma figura emblemática de Lisboa, que ainda hoje vende pelas ruas os bilhetes de loteria (cautela). Dizem que esfregar a mão da estátua dá sorte e é por isso que ela já está até polida. O José nos falou que os portugueses adoram jogos de azar e nós realmente percebemos isso durante nossa viagem, pois bilhetes de loteria eram vendidos em todo canto. Será que foi de Portugal que nos herdamos a mania de fazer uma fezinha?

O CauteleiroO Cauteleiro

Ainda mais legal foi nossa parada em frente às ruínas do Convento do Carmo, construído em 1389, e um dos principais símbolos do terremoto que praticamente destruiu Lisboa há menos de 300 anos. Foi na manhã de 1º de novembro de 1755 que Lisboa viveu um dos piores momentos de sua história. O terremoto foi seguido por um tsunami e por diversos incêndios, provocados pelas velas que ardiam naquele Dia de Todos os Santos. Milhares de pessoas morreram e a cidade ficou em destroços. A tragédia marcou uma transformação física e filosófica na cidade, que vivia praticamente como no período medieval, fortemente influenciada pela Igreja Católica. Para a mentalidade da época, aquilo só poderia ser um castigo divino! O grande responsável pela reconstrução e modernização de Lisboa foi o Marquês de Pombal e não é à toa que a gente vê tantas referências a ele pela cidade. E o Convento do Carmo, cujas paredes e teto foram alguns dos poucos exemplares que restaram de pé após o desastre, serviu de modelo para estudos de técnicas de construção resistentes a terremotos.

Convento do CarmoConvento do Carmo

De lá seguimos para o Chiado, um dos bairros mais tradicionais de Lisboa, com direito a uma passadinha na casa onde nasceu Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa. É claro que, quando o assunto literatura surgiu, eu quis falar sobre José Saramago, mas o passeio ainda estava só no começo e Saramago ainda teria sua vez.

Largo Rafael Bordalo Pinheiro

Estátua de Fernando PessoaCasa onde nasceu Fernando Pessoa

E um cantinho que conhecemos graças ao José foi a Faculdade de Belas Artes, ou melhor, o miradouro que fica em frente a ela. O que não falta em Lisboa são cantinhos para se apreciar as belas vistas da cidade  e cada encontro com um deles é especial, principalmente quando menos se espera!

Lisboa

Miradouro em frente à Faculdade de Belas Artes

Miradouro em frente à Faculdade de Belas Artes

Continuamos nossa caminhada rumo à Baixa e andamos pelas imediações da Praça do Comércio e da Praça do Município, onde fica o Pelourinho de Lisboa, símbolo da independência da cidade. Em seu topo está a esfera armilar, um globo que pode ser visto em várias monumentos portugueses e até na bandeira de Portugal e representa a áurea Era dos Descobrimentos. Acho que principalmente pelo fato de o país estar passando por uma forte crise, senti que esse período de maior prosperidade é bastante reverenciado e até tratado com certa nostalgia pelos portugueses.

Pelourinho de LisboaPelourinho de Lisboa

Depois seguimos pela Rua da Alfândega, passando em frente à linda Igreja da Conceição Velha, construída em estilo manuelino após o terremoto de 1755. Fomos até a Casa dos Bicos, que hoje é a sede da Fundação José Saramago. E foi lá em frente, numa oliveira especialmente plantada para esse fim, que as cinzas de Saramago foram depositadas, realizando seu sonho de repousar em um jardim lisboeta.

Igreja da Conceição VelhaIgreja da Conceição Velha

Casa dos Bicos

Oliveira onde foram depositadas as cinzas de SaramagoHomenagem a José SaramagoTrecho de Memorial do Convento

Mas a parte mais legal do nosso passeio sem dúvida aconteceu quando o José nos levou para conhecer a Alfama, um dos bairros mais antigos e típicos de Lisboa. A influência árabe está presente até mesmo no nome do bairro. Alfama vem de  al-hamma, que significa “água quente”, uma herança do período em que os mouros ocuparam a península ibérica. Mas os resquícios se mostram ainda nas roupas que secam penduradas pelas janelas ou nos pequenos becos tortuosos. Andando pelas suas ruelas, nem parecia que estávamos no meio de uma grande capital européia, mas em alguma pequena cidade do interior, onde os vizinhos se conhecem e as conversas acontecem na porta de casa. Historicamente, era lá que vivia a camada menos aristocrática da população. Curiosamente, a Alfama foi o bairro menos atingido pelo terremoto de 1755 e por isso é também um dos que melhor conservou sua arquitetura e costumes.

AlfamaBeco da Alfama

Alfama

Beco da AlfamaAlfama

Casinhas pequeninas em AlfamaRoupas no varal em Lisboa

E na Alfama ainda rolou uma paradinha para experimentar a ginjinha, uma espécie de licor feito de ginja, uma fruta parecida com a cereja, mas bem mais azedinha. É fácil encontrar a ginjinha em Portugal, mas foi legal experimentar uma mais caseira. E a ginja da Tininha foi a minha preferida, até por ser um pouco mais fraca e doce que as industrializadas.

Ginja da Jininha

Para encerrar o passeio com chave de ouro, o José escolheu um lugar especial: o Miradouro da Graça, um dos mais bonitos de Lisboa, se é que é possível fazer um ranking dos mirantes da cidade. A verdade é que um é mais lindo do que o outro e basta subir em uma cadeira para se ter uma linda vista da cidade. ;-)

Vista do Miradouro da Graça

Vista do Miradouro da Graça

Vista do Miradouro da Graça

Ao fim do dia estávamos exaustos e o frio já nos obrigava a voltar para o hotel, mas o saldo era super positivo! Com o José conhecemos cantinhos de Lisboa que passariam despercebidos e aprendemos um pouco mais de sua história de um jeito muito mais autêntico. A Mirelle deu a dica e eu só repasso: quando for a Lisboa, coloque o Lisbon Chill-Out Free Tour no topo da sua listinha!

Lisbon Chill-Out Free Tour

Para ler tudo o que já foi publicado sobre Portugal no Viaggiando, clique aqui.

24 Comments

  1. Ola Camila,
    Estamos indo para Lisboa e gostaria de fazer o Tour em portugues. Qual seria o contato para enviar o e-mail reservando?
    Desde ja obrigada!
    beijinhos de Roma
    Ana

  2. Natalia Gastão

    Que delícia de post e de tour!!!! Eu quero fazer e com o José também!!!! Hahaha
    Três dias em Lisboa será apenas um aperitivo de Portugal para mim, pois os seus posts estão me deixando louca para fazer uma viagem exclusiva para lá!
    Beijooo!

  3. Roberta Maués

    Oooi Camila, só passando para agradecer a dica. O José é INCRÍVEL! Fizemos o free walking tour com ele no nosso último dia em Lisboa e foi perfeito! O interessante seria fazer no primeiro dia, mas tivemos uns probleminhas e acabou não dando, mas assino em baixo sobre tudo o que foi escrito sobre o José e o free tour e recomendo muito! Obrigada pela dica!!!

  4. Roberta Maués

    Olá Camila, ótima dica! Já fiz um free tour desse em Santiago-Chile e foi excelente. Conhecer a cidade pela visão de alguém que mora e é de lá é bem interessante mesmo. Vou para um festival de música em julho em Lisboa, passar 4 dias, e queria aproveitar as manhãs e tardes para conhecer algo da cidade. O free tour já entrou no meu roteiro. Fiquei com dúvida em relação ao valor do passeio. Eu sei que é free e paga-se quanto o coração mandar, mas em Santiago, por exemplo, tinha um teto mínimo sobre quanto pagar aí pagava-se o valor que quisesse, desde que fosse acima desse mínimo. Você lembra se tem um teto? E quanto seria? Bjs

    • Roberta, nesse tour não tinha valor mínimo, era realmente o quanto cada um quisesse pagar.

      Publiquei mais um post sobre Lisboa hoje. Dá uma olhadinha para se inspirar. :-)

      • Roberta Maués

        Que legal!
        E sobre o post, já copiei no meu caderninho de anotações!! Nem imagina a alegria que senti quando atualizei a página e apareceu esse roteiro de um dia seu. Ainda tinha muita coisa confusa, mas agora deu certo!!!!! Me ajudou bastante.
        Obrigada

  5. Camila!!!!!!!Quero lhe agradecer por esse post, pois graças a ele encontrei o José e tambpem tive a sorte de ter o tour em português com a família. Era para ser em espanhol, mas no dia só apareceram brasileiros e portugueses. Simplesmente amei!!!!Ah! Eu comentei algumas vezes no seu nome e ele sabe quem é você.Abraços!

  6. Lu Malheiros

    Que beleza de tour! Não sei quando volto a Portugal (2015?) , mas a dica já está anotada! Bjs

  7. José Guerreiro

    waw, que leagau, :D tanto elogio que nem sei onde meter o ego… muito obrigado por partilhar e recomendar o tour, o meu sorriso está enorme há mais de 20 minutos, já me doí as bochechas.

    É verdade não tivemos tanto sucesso com o tour em Português como esperávamos, até chegamos a ter algumas marcações, mas depois não apareceu ninguém, mas já voltamos a fazer vários, normalmente recomendados por uma de vocês as duas penso. Não desistimos da ideia, simplesmente percebemos que não estamos a fazer as coisas bem feitas, e queremos melhorar,

    Primeiro que tudo queremos organizar um tour com mais significado principalmente para os Brasileiros uma vez que é a grande maioria que pode vir assistir ao tour falado em Português, e depois temos que traduzir todo o site ai sim, temos a certeza que irá funcionar, só ainda não fizemos porque a nossa equipa ficou reduzida a 5 elementos e não temos capacidade para fazer mais tours do que já estamos a fazer, mas iremos resolver isto em breve.

    Espero que esteja tudo bem com vocês e espero uma próxima visita,

    • José, os elogios só estão aqui porque são merecidos. :-) Nós gostamos mesmo do passeio e por isso faço questão de indicar! A viagem a Portugal foi mesmo muito especial para nós. Espero que ainda mais brasileiros apareçam por aí e que possam conhecer Lisboa com vocês. E, quando voltarmos a Lisboa (porque é claro que vamos voltar!), vou querer fazer o novo tour para brasileiros, que com certeza será um sucesso!

      Um abraço!

    • José, eu também acho que um tour para brasileiros iria explodir de sucesso! Eh so o tempo de divulgar. Pensa num roteiro legal que eu poderei ser sua cobaia em Agosto, se precisar! :)

      • José Guerreiro

        vou voltar a pensar nisso e testamos quando voltares, fico à vossa espera :D

        • Chrys Miranda

          José, está tendo esse tour em português? Estive em novembro/17 e voltarei em novembro/18. Quero tanto fazer!!!

  8. Que dica incrível! Ter um local (seja amigo, guia, enfim) com quem conversar sobre a vida ali é uma das boas coisas em viagem.
    E que saudades da maravilhosa Lisboa…voltei à cidade com cada uma das suas palavras e fotos.
    Um beijo!

    • Emilia, conhecer um lugar ao lado de um local deixa qualquer viagem mais rica, né? As coisas ganham um novo significado e a gente entende bem melhor tudo o que está vendo. E o bom é que hoje existem esses tours, para quando a gente não tem um amigo no lugar.

      Beijos!

  9. Desporto: Viajar

    Olá. Essa maneira de conhecer Lisboa, sendo eu português e morador perto da cidade, eu não conhecia. Mas, em alternativa, venho aqui expor duas novas maneiras de conhecer a cidade e, as duas envolvendo o rio, o Tejo. A primeira é num autocarro (ônibus) anfíbio, ou seja, ele faz a volta normal turística pela cidade, mas quando chega perto do Tejo, o ônibus cai literalmente dentro da água e dá para conhecer toda a marginal a partir do Tejo. Daí o nome anfíbio, ou seja, o tour é feito no mesmo ônibus, em terra e na água. A outra iniciativa é a Cruzeiros no Tejo, da empresa Transtejo. Basicamente, são dois cruzeiros no Tejo: um mais pequeno que parte do Cais do Sodré e/ou Terreiro do Paço e vai até à zona requalificada oriental de Lisboa, o parque das Nações, palco da Expo’98. Já o outro cruzeiro soma a esse trajecto uma segunda parte que vai desde o cais do Sodré até ao farol do Bujio, já de frente para Oeiras, passando por debaixo da ponte 25 de Abril, pela torre de Belém, padrão dos Descobrimentos, CCB, residência presidencial, mosteiro dos Jerónimos, etc. Os preços começam nos 20 euros para esses cruzeiros. Beijos, Camila. Bruno

    • Oi, Bruno! Eu queria mesmo ter feito um desses passeios pelo Tejo, cheguei a olhar o Transtejo antes de ir, mas acabou não dando tempo. Queria ter feito também o trajeto de bicicleta até Belém, mas a verdade é que meu tempo em Lisboa foi pouco para tudo que eu queria fazer lá! Bom, mas com certeza eu vou voltar a Portugal, então já vou colecionando novas dicas! :-)

  10. um tour exclusivo com o José? Uau, um sonho!!!! Que delicia ver os dois neste post e que bom saber que vc aprovou a minha dica! ele é tão bom que merece mesmo toda a propaganda, né? E o passeio parece que foi otimo! Encontrei alguns pontos em comum com o que eu fiz, mas teve muitas novidades. Acho que posso ir 10 vezes pra Lisboa e o José sempre vai ter algo novo pra me mostrar.

    Fiquei feliz mesmo de vc ter gostado! Bjoca!

    • Mi, como eu já sabia o seu post de cor, o José nos levou a alguns lugares diferentes. Mas sabe que depois me faltou tempo para ir aos lugares que você conheceu? Lisboa é muito rica, né? Ainda posso voltar algumas vezes para completar o roteiro que eu queria fazer por lá! ;-)

      Obrigada pela dica do tour! Eu realmente adorei!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.