198 Livros: Moldávia – The Good Life Elsewhere

198 Livros: Moldávia No inicinho desse projeto, em julho do ano passado, sorteei o terceiro país e ele me mostrou que os desafios já estavam começando. Confesso que eu não sabia absolutamente nada sobre a Moldávia, mas comecei minhas pesquisas achando que seria fácil encontrar um livro de lá, afinal, estamos falando de um país europeu e não de uma pequena ilha isolada no Oceano Pacífico (como Palau ou Ilhas Salomão). Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que aparentemente não havia um único romance moldavo contemporâneo traduzido para o inglês! Em português nem se fala!

Clicando em todos os links que o Google me retornava, encontrei uma notícia sobre uma editora independente criada em Nova York em 2012 especializada na tradução de literatura estrangeira para o inglês. O objetivo da New Vessel Press é globalizar a literatura. A editora defende que o conhecimento da literatura estrangeira enriquece nossas vidas. Tudo a ver com a proposta do #198livros, né? E a notícia dizia que eles iriam publicar a tradução do livro The Good Life Elsewhere, do escritor moldavo Vladimir Lorchenkov.

O enredo me parecia ótimo. Meu problema estava resolvido, só que o lançamento do livro estava previsto para dentro de alguns meses, então resolvi deixar a Moldávia suspensa na  fila e segui em frente com as minhas leituras. Apenas para confirmar se o livro seria lançado em versão digital na mesma data em que o livro em papel, enviei um e-mail à editora. Quem me respondeu foi o próprio Ross Ufberg, presidente da New Vessel Press e tradutor do livro de Vladimir Lorchenkov. Ele me confirmou a data de lançamento, mas disse que me enviaria uma cópia eletrônica do livro antes disso. E em outubro, conforme prometido, recebi um arquivo com o livro. The Good Life Elsewhere - Vladimir Lorchenkov

Desde o colapso da União Soviética, do qual fez parte, a Moldávia vem enfrentando algumas dificuldades. Hoje o país tenta ingressar na União Europeia, mas ele não é só o mais pobre da Europa, como também o que tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano. A Moldávia ostenta ainda um outro título: o de maior consumidor de álcool per capita do mundo. Estima-se que cerca de 1/4 de sua população tenha emigrado para trabalhar no exterior, a maioria de forma ilegal. Já deu para perceber que problemas não faltam, né?  The Good Life Elsewhere descreve a luta do povo de um pequeno vilarejo moldavo chamado Larga por uma vida melhor. E uma vida melhor para eles tem apenas um significado: Itália! A Itália é vista como a Terra Prometida, um lugar para onde todos querem ir, mas do qual quase ninguém volta para contar história.

Os personagens principais dessa história são os amigos Serafim e Vasily. Depois de ser enganado por uma agência que prometia levá-lo à Itália, Serafim convence Vasily a embarcar em seus planos de chegar lá a qualquer custo. Para isso eles não medem esforços e criam seus próprios meios de transporte. Os destroços de um antigo trator viram um avião, depois um submarino… Mas eles não são os únicos a tentar trilhar esse caminho e as aventuras dos moradores de Larga para chegar à Itália são hilárias. Elas seriam cômicas se não fossem trágicas, ou, pensando bem, são trágicas e cômicas ao mesmo tempo. Há desde o padre que promove uma cruzada para conseguir atravessar as fronteiras da Itália até o homem que é queimado vivo por afirmar que a Itália não existia.

Através de muito humor (às vezes um pouco mórbido) e ironia, Vladimir Lorchenkov nos apresenta problemas reais do seu país: pobreza, corrupção, tráfico de órgãos e de pessoas, prostituição… Um triste retrato da Moldávia, mas necessário para abrir nossos olhos para a situação insustentável criada pelo modelo socioeconômico atual. Vale a pena ler!

The Good Life Elsewhere foi publicado originalmente em russo, em 2008, e será foi publicado em inglês em 18/02/14 pela editora New Vessel Press. A tradução é Ross Ufberg.

Mais alguns autores moldavos:

  • Nicolae Dabija
  • Liliana Corobca

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

6 Comments

  1. Olá Camila, saudações, bôa noite! Sou Sadrac Leitão, livreiro na Livraria da Vila no Shopping Pátio Paulista em São Paulo, gostaria de te indicar um livro de uma escritora e jornalista moldava chamada Tatiana Ţîbuleac, o livro se chama “O verão em que mamãe teve olhos verdes”, a tradução para o português é de Fernando Klabin, publicado pela Editora Mundaréu de São Paulo, por Sílvia Naschenveng. O romance foi publicado em 2017 e venceu o Prêmio Cálamo 2019, um prêmio de literatura da União Européia. O romance conta de Aleksy que sempre recordará aquele verão que passou sozinho com sua mãe em um vilarejo francês, mesmo muitos anos depois. Quando ela foi buscá-lo no instituto, seu ódio, rancor de desprezo por ela o impediam de sequer imaginar que poderia ser um verão marcante, muito menos que ódio, desprezo e rancor pudessem ter outras formas. A força narrativa de Tatiana Ţîbuleac se propõe a desvelar camadas após camadas nas relações familiares, em um testemunho inusitado da hipossuficiência e relevância das relações entre mãe e filho, sem concessões a convenções ou sentimentalismos

    • Camila Navarro

      Muito obrigada pela dica. Sadrac! Fico muito feliz por ver que nos últimos anos a oferta de livros do mundo todo tem aumentado consideravelmente no Brasil. Quando comecei o projeto, lá em 2013, o cenário era outro!

  2. Carla Portilho

    Essa foi uma das melhores histórias dos bastidores do #198 livros até agora, né? E tenho certeza de que ainda virão inúmeras!

    • Foi mesmo, Carla! Nossa busca pelos livros também rendem boas histórias!

      • Lu Malheiros

        Concordo com a Carla, essa história dos bastidores do #198 é ótima!!!
        Quanto ao livro em si, não consegui me envolver muito com a estória. Não que ele seja ruim, mas acho que o fato de tê-lo lido após “Olhos de Coruja, olhos de gato bravo” fez com que eu o achasse um livro “menor”, vai entender…

        • Lu, eu li “The Good Life Elsewhere” meio que como um livro de contos, sabe? E no início é mais ou menos assim, né? Depois é que os personagens começam a se repetir. Achei divertido! As situações são tão absurdas!

          Quando a “Olhos de Coruja, olhos de gato bravo”, você já sabe o que eu penso! Amei!

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