Khndzoresk: a cidade das cavernas na Armênia

No caminho o motorista apontava para um lado e para ou outro e ia dizendo: “ali depois daquela montanha é o Irã, em linha reta fica Baku, para lá está Nagorno-Karabakh”. Só entendíamos os nomes dos lugares, o restante era explicado por gestos, afinal, nós não falávamos armênio ou russo e o taxista não entendia nada de inglês. Português nem se fala! Mesmo com a dificuldade de comunicação, conseguimos perceber que estávamos em um lugar especial, uma região que parecia ser o encontro de diferentes línguas, culturas e religiões. Estávamos indo para Khndzoresk, um pequeno vilarejo no sul da Armênia.

Chegamos à Armênia sem saber da existência desse lugar. O guia Lonely Planet não dedicava mais que um curto parágrafo a ele. Não lembro onde foi que o descobrimos, só sei que algo despertou nossa vontade de conhecer Khndzoresk. A falta de expectativa pode ter uma parcela de culpa, mas Khndzoresk acabou se tornando um dos lugares mais surpreendentes da nossa viagem pelo Cáucaso.

Khndzoresk fica na província de Syunik, no sudeste da Armênia, a 10 km de Goris. A Nova Khndzoresk é um vilarejo construído na década de 50 e que hoje abriga pouco mais que 2 mil habitantes. Nem chegamos a ir até lá, pois o que queríamos era conhecer a Antiga Khndzoresk, uma cidade medieval construída na encosta do cânion Khor Dzor.

Estão vendo os buracos nas pedras? Sim, Khndzoresk era uma cidade das cavernas! E não era qualquer cidade: no final do século XIX ela era uma das maiores da região! Lá havia cerca de 1.800 cavernas, naturais ou construídas pelo homem, que abrigavam quase 10 mil pessoas. Elas viveram lá até a década de 50, quando os soviéticos promoveram a mudança da população para a Nova Khndzoresk.

E como é que a gente chega lá? Como eu já contei, a Antiga Khndzoresk fica na encosta do cânion Khor Dzor. Nosso táxi nos deixou na encosta oposta. Ele ficou lá em cima e sinalizou que deveríamos descer. No caminho não enxergávamos bem para onde íamos, simplesmente fomos seguindo a trilha. O lugar estava vazio, era até meio assustador. Mas aí chegamos ao que realmente tinha nos levado até lá. A verdade é não fomos por causa das cavernas, dessas nós podíamos ter um gostinho em Goris. O que realmente queríamos conhecer era a Ponte Suspensa de Khndzoresk!

Pela suas dimensões a ponte já seria uma grande atração: são 14 toneladas, 160 metros de comprimento, 63 metros de altura. Como se não bastasse isso tudo, a gente ainda descobriu que ela foi construída pelos moradores de Khndzoresk. Construída mesmo, pelas próprias mãos dos moradores, sem o uso de qualquer máquina! A iniciativa e o o patrocínio vieram de um empresário da cidade chamado Zhora Aleksanyan, que nasceu em uma das cavernas de Khndzoresk. Sua intenção era preservar a história de sua família e incentivar o turismo na cidade. A comunidade toda se engajou nesse projeto e a ponte foi inaugurada em 2012.

Dizem que a ponte pode aguentar até 700 pessoas de uma só vez. Fiquem à vontade para testar! O Eduardo e eu não precisamos nos preocupar, pois a atravessamos sozinhos. Com a ponte só para nós dois, ela me pareceu bem tranquila e estável. Aproveitamos para tirar dezenas de fotos, tanto na ida quanto na volta. Que privilégio!

Do lado de lá também estávamos sozinhos. Não havia nenhum turista disputando o espaço conosco. Quando já estávamos quase indo embora chegaram mais algumas pessoas, mas antes disso a Antiga Khndzoresk era só nossa! Imaginem só ter aquele lugar fantástico e tão cheio de significado só para nós! Viajar por países poucos explorados como a Armênia nos traz essas surpresas.

Não tínhamos nenhum guia ou qualquer informação sobre o lugar, então ficamos simplesmente andando sem rumo, subindo e descendo as ladeiras em busca das cavernas mais interessantes. Algumas eram grandes buracos na terra, outras eram construções de pedra mais rebuscadas. Ficamos lá imaginando como era a vida naquelas cavernas há poucas décadas.

O lugar é grandioso. Em pouco tempo não conseguiríamos visitar tudo, então elegemos os lugares que nos pareciam mais interessantes. De longe enxergamos uma das poucas construções de pé e seguimos para lá.

Era a Igreja de Santa Hripsime (não descobri se temos o nome dessa santa armênia em português), construída no século XVII. Ela estava fechada e tudo o que conseguimos foi ter alguns vislumbres do interior pela janela. Parece que perto da igreja fica a tumba de Mkhitar Sparapet, um herói nacional, mas não a vimos. Preste mais atenção que nós quando estiver em Khndzoresk!

Quando outros turistas começaram a chegar, já estávamos fazendo o caminho de volta. De qualquer forma, a Antiga Khndzoresk é enorme, não havia perigo de nos esbarrarmos por lá. Fico imaginando se na alta temporada o lugar fica cheio. Espero que bem mais cheio do que quando estivemos lá, pois essa atração merece ser visitada. Já contei pra vocês que a gente não pagou um centavo para atravessar a ponte e visitar as cavernas?

Além de entrar nas cavernas e ir até a igreja, ficamos andando por ali. A área é muito bonita e naquele início de primavera as árvores ainda estão secas, mas as flores já começavam a aparecer. Imagino que Khndzoresk deve ficar ainda mais bonita uns meses depois. Vi fotos de lá com as árvores verdinhas e a paisagem é muito diferente!

Depois de uma hora passeando, era hora de ir embora. Atravessamos a ponte de volta, mas antes tiramos mais uma dezena de fotos. Com a luz do sol incidindo lateralmente ela estava ainda mais bonita. Percorremos seus 160 metros bem lentamente…

O taxista nos esperava lá em cima. Em pouco tempo estávamos de volta a Goris, felizes com o que tínhamos acabado de vivenciar. As atrações que conhecemos no sul da Armênia fizeram valer a pena a viagem tenebrosa até lá. Khndzoresk não foi a única. Aguardem que em breve eu falo mais sobre isso!