198 Livros: Mongólia – The Blue Sky

198 Livros - MongóliaBem no início desse projeto vi uma postagem da Ann Morgan em que ela listava seus 10 livros preferidos em sua jornada literária pelo mundo. Alguns não me chamaram tanta atenção, mas senti que outros poderiam ser especiais para mim também. Um deles era The Blue Sky, do escritor mongol Galsan Tschinag. Imaginei que não seria fácil encontrar livros da Mongólia em inglês (em português nem se fala!), então tratei de comprá-lo logo, sem nem pesquisar muito sobre o enredo. Que decisão acertada!

The Blue Sky é o livro de abertura da trilogia autobiográfica de Galsan Tschinag. Na sequência vem The Gray Earth, publicado em inglês em 2007, e The White Mountain, cuja publicação está prevista para julho de 2018. Galsan Tschinag tem uma obra literária extensa. Ele escreve principalmente em alemão e talvez por isso seu trabalho tenha atingido um grande alcance mundo afora. Infelizmente ele ainda não foi traduzido para o português, mas The Blue Sky pode ser encontrado em inglês, espanhol e italiano, só para citar algumas línguas. Torço para que seja publicado no Brasil, pois já posso adiantar que ele também foi um dos melhores livros que li no Projeto 198 Livros até agora.

The Blue Sky - Galsan Tschinag

Galsan Tschinag nasceu em 1944 nas Montanhas Altai, no norte da Mongólia. Ele tem origem tuvan, um povo historicamente nômade da Ásia Central. Seu nome na língua nativa é Irgit Schynykbajoglu Dshurukuwaa. Além de escritor, ele é cantor, contador de histórias, xamã e chefe tribal do povo tuvan em seu país. Pesquisei um pouco sobre a vida dele e fiquei fascinada!

Em The Blue Sky Galsan narra lembranças de sua infância nas estepes da Mongólia ao lado de seu inseparável cachorro Arsylang. Lá as pessoas se organizavam em ails, espécies de grupos familiares, não necessariamente unidos por laços de sangue, que viviam em yurts (aquelas cabanas circulares típicas da região) e cuja principal atividade era a criação de cabras, ovelhas e cavalos. Parece um meio de vida meio solitário, centrado em pequenos grupos de pessoas, mas quando era preciso diferentes ails se ajudavam. No caso de uma doença ou acidente, a notícia corria de ail a ail e cada um enviava um remédio, muitas vezes cultivado por anos, para ajudar o necessitado.

O respeito pela natureza talvez seja o maior traço da cultura dos tuvans. O céu, as montanhas e os rios são deuses que devem ser reverenciados. Até fazer xixi na água de um rio é visto como uma forma de profanação! A montanha os protege de animais e do frio e fornece a água ou a neve para matar a sede. O leite dos animais é a maior fonte de alimentação. A pele de lobos e raposas protege contra o frio. Os animais são explorados, mas de forma muito diferente do que acontece hoje nas grandes cidades. Há uma relação de proximidade e respeito muito bonita entre homens e animais.

As Montanhas Altai abrigavam diferentes povos: tuvans, cazaques, urianghais, torguts, dörbets, cada um com sua língua e com sua cultura. As tradições sobreviveram por dezenas de gerações, mas Galsan Tschinag vê fatores externos alterarem o modo de vida na região. Estamos falando de meados do século XX. A Mongólia, vizinha da União Soviética, não ficou imune à sua influência. Há ainda a guerra, uma tragédia que eles até então desconheciam. Os tuvans eram pacíficos. As crianças nem mesmo brincavam de guerra, assim como não brincavam de lobo, afinal, brincadeiras más atraem coisas más.

O garoto Galsan Tschinag não sabe dizer se sua família é rica ou pobre. Seu sonho é ser um grande pastor, ter mais de mil animais. Um dia ele ouviu falar que com dinheiro era possível comprar coisa, mas em sua causa há pouco dinheiro. Já adulto ele descobre que seu avô era o homem mais rico da Mongólia, mas então veio o socialismo soviético e ele foi considerado um kulak, um fazendeiro rico e, consequentemente, um inimigo do povo.

A história vai sendo contada de forma delicada. É um mundo muito diferente do nosso, mas é fácil se sentir parte dele através da narrativa de Galsan Tschinag. Em The Blue Sky ele conseguiu transferir para a palavra escrita a tradição oral do seu povo. Já encomendei os próximos livros da trilogia. E minha vontade de conhecer a Mongólia ficou ainda maior.

The Blue Sky foi publicado originalmente em alemão, em 1994, e em inglês em 2006, pela Milkweed Editions. A tradução é de Katharina Rout.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Muito legal! Há tempo que tenho vontade de ler algum livro de um autor mongol (e não somente livros de estrangeiros “sobre” a Mongólia), mas não é algo tão fácil assim de encontrart. Que achado!

    • Camila Navarro

      É mesmo um achado! O segundo volume da trilogia chegou para mim essa semana. Já estou doida para ler!

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