Tempo, viagens e pandemia

Tempo, viagens e pandemiaCostumamos dizer que tudo que é bom dura pouco. Embora eu mesma repita essa frase, sei que ela não é totalmente verdadeira. É fácil cair no clichê quando chega a hora de retornar ao trabalho, mas você já reparou que durante as férias fora de casa uma semana parece muito mais tempo?

Nem é preciso viajar para longe para que isso aconteça. Se num final de semana eu planejo um passeio a um parque que ainda não conhecia ou um bate e volta a uma cidade vizinha, o tempo parece se alongar muito mais do que se eu passasse o sábado e o domingo faxinando, cozinhando e vendo televisão. Sair da rotina é o que me faz realmente desligar do trabalho e dos afazeres domésticos, a ponto de no domingo à noite eu já não lembrar o que estava me aporrinhando na sexta à tarde.

Quando viajo para um lugar muito diferente, aí sim sinto que as horas correm mais devagar. Lembro a sensação de estar na Armênia e na Geórgia, países com culturas, línguas e alfabetos muito diversos dos nossos. O tempo ali com certeza passava em outra velocidade. Estávamos viajando há 5 dias e eu tinha a impressão de ter saído de casa há mais de um mês!

Língua georgiana

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Depois de meses de confinamento em 2020 por causa da pandemia do coronavírus, vi muita gente surpresa ao perceber que o tempo estava passando mais rápido do que imaginava. Como assim não estávamos fazendo nada além de trabalhar e cuidar de casa e de repente tinham passado 6 meses?

Há uns anos li um texto que explicava como nosso cérebro percebe a passagem do tempo e na época entendi direitinho porque eu o sentia espichar nas viagens de férias. Basicamente, tem a ver com a forma que o cérebro processa repetição ou novidade. Enquanto a primeira faz o tempo voar, a segunda nos dá a sensação de que os dias e horas são mais longos.

Procurei uma matéria sobre o assunto e vi que o neurocientista David Eagleman conta o que descobriu numa matéria da BBC intitulada O incrível poder do nosso cérebro de esticar (ou encolher) o tempo, cujo trecho destaco abaixo:

“Quando você é criança, tudo é novidade. Você está descobrindo o mundo, está acumulando muita memória e, portanto, quando faz uma retrospectiva no fim de ano, tem muitas recordações do que aprendeu.

Mas quando você é mais velho e faz essa retrospectiva, provavelmente passou muito tempo fazendo mais ou menos as mesmas coisas que vinha fazendo nos anos anteriores. É por isso que parece que o ano voou.

Para sentir que você viveu mais, o que você precisa fazer é buscar novidades.”

Recomendo que você leia a matéria completa e depois volte aqui para conversarmos.

Agora me conta: como estão passando os meses de 2020 aí na sua casa? Quando penso que já são 8 meses sem vida social e acumulando cargas como nunca, eu realmente não vi o tempo passar.

6 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Muito bacanas o seu texto e o texto indicado, Camila! “Você verá que todas as noites, quando for dormir, vai ter muito mais lembranças — e não vai mais parecer que a vida é um sopro.” É exatamente assim que sinto 2020 – um sopro. Tentarei trazer mais novidades ao meu dia-a-dia.

    • Camila Navarro

      Cris, confesso que ainda não consegui ter muita esperança, mas desejo que 2021 possa nos trazer boas novidades para espicharmos nosso tempo.

  2. Camila,
    Tenho também muito essa ideia de o tempo ser maior em viagens, exatamente pelo motivo das novidades, quem em um dia tem tantas coisas acontecendo!
    Beijos

    • Camila Navarro

      Carlinha, que bom que para você as viagens funcionam da mesma forma mágica! Eu ficaria triste se fosse o contrário. Beijos!

  3. O livro recente que li sobre o sono também comenta sobre esse capacidade de fazer o tempo esticar ou não em nossa cabeça, mas em relação aos nossos sonhos. Acho fascinante. E em meio à pandemia, a sensação é de que “não fizemos nada” por tantos meses. No meu caso, parece que só li livros. :D

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