198 Livros: Seychelles – Voices

198 Livros - SeychellesAnos depois de embarcar nessa gigantesca viagem literária, eu imaginava que não encontraria livros de Seychelles facilmente. Apesar de bem conhecidas no ramo do turismo de luxo, as 115 ilhas que compõem o país não são famosas pela literatura que (não) exportam. Mas a busca nem foi muito árdua. Eu só tive que mais uma vez flexibilizar as regras de autoria que estabeleci para o Projeto 198 Livros , ou melhor, mais uma vez questionei os conceitos de nacionalidade que as leis impõem às pessoas no mundo.

Voices: Short stories from the Seychelles Islands é uma coletânea de contos escritos por Glynn Burridge. O autor nasceu no Reino Unido, mas cresceu no Irã, onde acabou trabalhando para a família real nos últimos anos de governo do xá Mohammad Reza Pahlavi. Em 1978, no início da Revolução Islâmica, ele se mudou para Seychelles para administrar a Ilha D’Arros, então propriedade do príncipe Shahram Pahlavi (posição que ocupou durante duas décadas) e desde então vive no país. Glynn Burridge fala inglês, francês, farsi e crioulo de Seychelles, tem cidadania britânica e seychellense e considera o Irã como sua pátria espiritual. Com base apenas na biografia do autor, para mim já fica claro que não é nada simples dizer quem é ou não nacional de um país.

Felizmente, além de render uma reflexão interessante sobre geopolítica, Voices foi também uma leitura bastante apropriada ao meu projeto. Os contos tratam de temas variados e misturam História, lendas e a experiências pessoais do autor. Na abertura do livro ele traz um panorama histórico, geográfico e cultural das Ilhas Amirante, grupo de ilhas no qual ele vive. Logo de início seu amor por Seychelles e seu desejo de imortalizar um modo de vida que ele sente que está em extinção são transparentes ao leitor.

Voices - Glynn BurridgeAs ilhas Seychelles eram desabitadas até serem avistadas por Vasco da Gama, em 1502. As Ilhas Amirante foram então nomeadas por ele em sua própria homenagem (ilhas do Almirante). Em meados do século XVIII a França tomou o controle do arquipélago, que logo foi contestado pelos britânicos. Após alguns anos de disputa, a vitória foi do Reino Unido e em 1812 Seychelles se tornou colônia britânica. A independência só veio em 1976. Glynn Burridge em seu livro nos mostra que aquele é um país de imigrantes de diferentes origens, muitos deles tendo sido para lá levados como escravos durante o domínio britânico.

Meus contos preferidos de Voices são os que retratam o dia a dia nas ilhas, incluindo as dificuldades encontradas décadas atrás, e aqueles que falam da vida no mar e dos animais quase pré-históricos que habitam (ou habitavam?) o oceano em lugares tão remotos. Não gostei muito apenas de um único conto, ou novela, uma ficção histórica que infelizmente ocupa grande parte da obra. Ainda assim posso dizer que no geral gostei bastante do livro. Além de me mostrar coisas sobre as ilhas que eu não imaginava, ele despertou curiosidades e me fez pesquisar mais sobre o país, o que vejo sempre como um bom efeito colateral das leituras que faço.

Voices: Short stories from the Seychelles Islands foi publicado originalmente em inglês, em 2014, pela Calusa Bay Publications.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.