198 Livros: Sri Lanka – A Disobedient Girl

198 Livros - Sri LankaUma grande fonte de referência para mim na reta final do #198Livros foi o blog da escritora galesa Sophie Margretta, o reading women worldwide. O projeto dela era muito mais ousado que o meu: ler uma mulher de cada país do mundo. E ela conseguiu! Nem sempre eu pude aproveitar suas dicas, seja porque ela leu um livro ao qual eu não tinha acesso ou porque ela não leu alguma obra completa, mas nenhum desses foi o caso de Sri Lanka. Ela havia lido A Disobedient Girl, romance da escritora cingalesa Ru Freeman, e quando pesquisei mais sobre ele fiquei com muita vontade de ler também.

A Disobedient Girl traz a visão de duas personagens principais em capítulos alternados: Latha, em terceira pessoa, e Biso, em primeira pessoa. A princípio as historias me pareciam dois livros diferentes intercalados, mas ambos me envolveram, mesmo que de formas diferentes. Latha é uma garota que trabalha para uma rica família de Colombo, maior cidade do Sri Lanka, num regime de escravidão. Biso é uma mulher que saiu de Matara, praia no sul do pais, fugindo de um marido violento, e está viajando de trem com os três filhos rumo à casa de uma tia na região central, famosa pelas montanhas cobertas por plantações de chá.

A Disobedient Girl - Ru FreemanQuando eu terminava um capítulo da Latha, queria logo saber a continuação e ficava meio chateada por começar a parte da Biso. Então eu entrava na história da Biso e a mesma frustração, ainda que passageira, acontecia quando seu capítulo chegava ao fim. O curioso é que as histórias das duas mulheres são contadas em ritmos completamente diferentes. A narrativa da Latha é rápida e o tempo dá saltos a todo momento. Nós a conhecemos criança e acompanhamos sua vida ate se tornar uma mulher de 30 e poucos anos. Enquanto isso, seguimos com Biso apenas durante os quatro dias que duram sua atribulada viagem, com interferências externas provenientes de suas lembranças e de alguns companheiros de viagem com quem ela conversa. A história das duas parece ter apenas um pequeno ponto de conexão.

““I manage the servants, and that one needs to be reined in,” Latha heard her say. “All this government nonsense about sending servants to school, that’s what has ruined her. It’s time for that to stop. Ten years of reading and writing is good enough for her. I mean, what is this house? An orphanage? No, when this year is over, I’m going to take her out of school. She’s getting too old for that anyway. Before long some betel seller will knock her up on her way there. Much better for me to pull her out of that place now so she can start learning how to cook and clean and get ready to be a proper servant.” And that was what made her do it. Be a proper servant indeed. ”

Sem conhecer a História do Sri Lanka, eu demorei para situar as narrativas no tempo. Há alguns marcos temporais bem claros, como a morte da princesa Diana, mas o que realmente fez diferença foi conhecer um pouco sobre a Guerra Civil do Sri Lanka, um conflito entre independentistas da  minoria étnica tâmil e o governo cingalês que durou de 1983 a 2009. Como sempre acontece, a população civil sofreu muito durante tantos anos de guerra.

Tendo esses eventos históricos como pano de fundo, A Disobedient Girl conta a história de duas mulheres tentando se livrar das opressões de gênero, raça e classe a que estão sujeitas. As críticas não se voltam apenas ao povo cingalês, mas também aos estrangeiros (homens brancos, diga-se de passagem)  que vão até lá explorar a terra e a população. E tudo isso em um romance denso e envolvente que não sai da nossa memória facilmente. Gostei muito dessa leitura!

A Disobedient Girl foi publicado originalmente em inglês, em 2009, pela editora Simon & Schuster.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Cristiane Xerez

    E a história parece se repetir em várias porções diferentes do planeta.

    • Camila Navarro

      Tô atrasadíssima lendo os comentários do blog, então não se espante com o tanto de notificações por aí. =)

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