A culinária armênia naturalmente vegana

Lembro que enquanto eu planejava nossa viagem para o Cáucaso cheguei a ler mais de uma vez que a culinária armênia era sem graça, que não merecia destaque. Eu duvidei um pouco, pois acho difícil que qualquer culinária típica não tenha algo interessante. Eu não sabia é se ela seria amigável aos vegetarianos. Hoje estou finalizando minha transição ao veganismo, mas na época eu ainda era ovolactovegetariana. E assim que cheguei à Armênia percebi que eu não precisava ter medo de passar fome. Nem eu, nem qualquer vegetariano. Ou melhor, nenhum vegano!

Culinária armênia

Nem faz muito tempo que publiquei um post intitulado Berlim, a nova capital vegana. De lá pra cá minha forma de enxergar o veganismo mudou e talvez agora eu não escreveria o mesmo post, pelo menos não com o mesmo título. Hoje vejo que paraísos veganos não são aqueles que concentram uma grande quantidade de restaurantes do gênero, mas aqueles nos quais é possível encontrar pratos sem nada de origem animal em qualquer lugar. E foi isso o que eu encontrei na Armênia.

Já vou logo desmentindo também essa história de que a culinária armênia é sem graça. Comemos muito bem lá e ouso dizer que é uma das comidas que até hoje mais me deixou saudade nas viagens. Pra começar, ela é sempre muito fresca e abundante em vegetais e castanhas. O que vi é que, apesar de haver carne sempre presente nas mesas, ela não domina os demais pratos. Não é como no Brasil, em que há carne não só no prato principal, mas também na salada, no feijão, na massa. Na Armênia percebi que a carne costuma estar lá, mas cercada de vegetais que não são mero acompanhamento. Além disso, vários pratos tradicionais são naturalmente veganos, tornando tudo ainda mais fácil e gostoso.

O primeiro deles eu conheci logo de cara. Chegamos ao hotel em Yerevan bem cedinho e fomos logo tomar café da manhã. E lá estava o lavash, o pão típico armênio. Ele tem o formato de uma folha e no início nem sabíamos bem como comê-lo, mas logo estávamos recheando a nosso gosto. O lavash leva apenas farinha, água e sal, ou seja, é vegano! A forma de fazer é bem interessante, vale a pena procurar vídeos no youtube para ver como é.

Lavash

Tivemos chance de comer lavash muitas outras vezes, inclusive em uma de suas variações que gera um outro prato típico: o Zhengyalov hats (ou jingalov). Não sei se ele é feito exatamente de lavash, mas é um pão de sabor e formato bem parecidos, recheado com uma mistura de ervas verdes. Em Yerevan nos deparamos por acaso com um restaurante no qual ele era o único prato do cardápio. Nem sei o que nos levou a entrar, pois na porta tudo era escrito em armênio e não tínhamos ideia do que serviriam lá dentro. Acho que foi porque vimos que estava cheio de pessoas locais. Felizmente havia cardápio em inglês e na descrição do prato ele dizia “lavash com jengyal”, ou algo assim. A comida era boa e barata, foi ótimo seguirmos nossa intuição. Agora, tentando descobrir o nome do restaurante pelas fotos que tirei, vi que ele consta no TripAdvisor como Zhinglyanov Hats e que é muito bem avaliado.

Zhinglyanov Hats, Yerevan

Zhinglyanov Hats

Zhinglyanov Hats, Yerevan

Outro prato bem típico da culinária armênia é a dolma, um charuto de folhas de uva. Comi de entrada uma deliciosa dolma recheada com arroz e legumes no The Club Yerevan, um restaurante um pouco mais sofisticado e caro, mas ainda barato quando se compara com outros destinos internacionais. Como na época eu ainda era ovolactovegetariana, meu prato principal foi um lasanha de queijos armênios, mas acho que há pelo menos uma opção vegana no menu principal do restaurante também.

Dolma, típico na culinária armênia

The Club Yerevan

Você deve estar pensando que há comidas parecidas em outros países da região, seja Turquia ou Ásia Central, né? Mas é só dar uma olhada no mapa e

estudar um pouquinho de História para perceber que não há como não existirem influências de diferentes países nas culinárias locais. Foi o mesmo que senti nos Balcãs. Ainda assim, acho que há sempre um toque local em cada país. Na Armênia me encantou a variedade de legumes e verduras e o orgulho que eles têm de falar que os cultivam sem agrotóxicos.

Foi em Goris, no sul do país, que a comida armênia realmente me ganhou. Jantamos no nosso hotel nas duas noites que passamos lá e em ambas fomos surpreendidos com uma comida deliciosa. Uma comida simples, caseira, muito farta e saborosa. Não conseguíamos terminar os pratos, mas tentávamos provar de tudo. A carne não dominava a mesa. Tinha sempre um pouco de carne num prato, queijo no outro e ao lado uma variedade de legumes e grãos preparados de diversas formas e com diferentes temperos. É claro que eu tinha avisado que era vegetariana, mas olhei na mesa dos outros hóspedes e não vi diferença. Foi lá também que fomos convidados a ver como se preparava o zhengyalov hats. Experiência completa!

Preparando zhengyalov hats

Culinária armênia

O mesmo se repetiu no tour da Envoy que fizemos na volta de Yerevan para Tbilisi. Ainda vou contar em detalhes como foi, mas enquanto o post não sai eu já adianto que o almoço foi uma das partes boas do passeio. No grupo havia também uma moça vegana e eles se mostraram super preparados para nos atender. Quando a mesa foi servida, mais uma vez a carne não era o centro das atenções. Os legumes e grãos, de diferentes formas e sabores, é que foram a atração. Tudo simples e delicioso! Não é à toa que tenho saudade dessa viagem.

Culinária armênia

Para completar, faltava a sobremesa! E o doce que mais se vê na Armênia também é vegano! Na verdade a churchkhela é um doce típico da Geórgia, mas a gente o encontra em qualquer esquina do país vizinho também. Essa iguaria que é a cara do Cáucaso é feita de nozes, farinha e uva. Naturalmente vegano!

Churchkhela

A típica e rica culinária armênia é muito mais do que eu mostrei aqui. Minha passagem pelo país foi rápida e eu não me aprofundei nos nomes ou nas histórias dos pratos. Se você planeja uma viagem para lá, se prepare para aproveitar melhor a comida local. E se você for vegano, aproveite ainda mais! É raro encontrar tanta comida vegana boa e acessível no resto do mundo.

Pra ter uma ideia de mais alguns pratos típicos da culinária armênia, dê uma olhada nesta matéria do Culture Trip, um site de que eu gosto muito: Armenian Foods You Should Try.

Se você já foi à Armênia, me conta se teve a mesma impressão que eu sobre a comida local. E se ainda não foi, me diz se eu conseguir despertar sua curiosidade. =)

Veja todos os posts sobre a Armênia no Viaggiando!

5 Comments

  1. Oi, Camila, tudo bom? Tive uma impressão muito parecida com a sua, achei os pratos muito diversos, e achei que parecia muito fácil evitar carne. Um dos meus pratos preferidos, que eu sempre pedia, era a simplérrima salada de tomates e pepinos, mas que era maravilhosa porque era tudo fresco e orgânico, nas guesthouses muitas vezes vinha direto dos quintais deles. Mas acho que uma das razões da diversidade da comida era que ainda tem muita gente que segue a quaresma religiosamente. Quando tinha um menu em inglês, armênio e russo, notei que muitas vezes tinha uma página chamada de “menu vegetariano” que em russo traduziria como “menu de quaresma”, mas que fica disponível o ano inteiro. Acho que por isso eles também estão mais acostumados a ter versão vegetariana de tudo (dolma, por exemplo, tem versões com carne e sem).
    Já to começando a pensar nos meus posts sobre o Cáucaso, e com certeza vou escrever sobre as comidas locais, porque foram uma das minhas partes preferidas da viagem, hahaha.

    • Camila Navarro

      Você conhece a Sandra, do Papa Capim? Ela já falou sobre essa questão da quaresma na Palestina também, quando eles evitam não só a carne, mas também os derivados. Com isso é fácil encontrar comida vegana por lá, não com esse nome, mas tipo “comida de quaresma”. Mesma coisa, né? =)

      Na Geórgia já é outro tipo de comida, né? Confesso que eu fui ficando enjoada de queijo lá, porque as opções vegetarianas eram sempre com muito queijo! Mas pelo que vi dos seus posts no instagram, você se apaixonou mesmo foi pela comida georgiana, não foi?

      • Oi, interessante saber, achei que era mais algo do Leste Europeu! Mas sim, tem gente lá que é vegano por quarenta dias ao ano, então eles estão mais acostumados.
        Gostei muito da comida em todos os três, e achei todas as três bem diversas, embora admita que comi quantidades mineiras de queijo. Eu não enjôo, hahaha. Acho que o negócio na Geórgia é que se vocẽ quer algo rápido, tende a ser um khatchapuri, mas em restaurantes, achei que sempre tinha opções com saladas, castanhas, cogumelos. Achei a culinária georgiana mais diferentona. A armena tem muita influência dos otomanos, né? No início nem achei muita graça mesmo, mas minha experiência foi bem parecida com a sua: quando fiquei em uma guesthouse pequena e provei comida caseira, fiquei encantada. A minha foi a Iris, em Alaverdi, e cada refeição foi incrível.

      • Renata Scotti

        Exatamente como na Romênia, tem esse cardápio de quaresma permanente que é vegano. Encontrei até croissant recheado de chocolate, vegano!

        Agora vou ter que ir pra Armênia!

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