Viaggiando na Flip 2019

Eu já conhecia Paraty. Estive lá pela primeira vez há quase 10 anos e me apaixonei pelas ruas de pedras e casinhas de portas e janelas coloridas. Quem me conhece sabe que é difícil eu resistir a uma cidade histórica. E sabe também que eu amo livros, desde muito antes de descobrir as viagens. Ainda assim eu nunca tinha pensado em ir à Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, o maior evento do gênero no Brasil. Foi só nos últimos anos, acompanhando de longe a viagem de alguns amigos, que comecei a pensar que poderia ser legal estar naquela cidade linda durante os dias do ano em que ela respira literatura. Então ano passado o comichão bateu forte. Foi quando eu disse: quero ir à Flip!

Paraty na Flip 2019

Da vontade ao planejamento houve uma certa indecisão. Isso porque na época da Flip 2019 Pedro teria acabado de completar 2 anos. Cogitei fazer a viagem em família, mas o Eduardo me convenceu de que seria melhor eu ir sozinha, já que eu iria querer participar de eventos literários o dia todo e uma Paraty lotada não seria a melhor opção para passear com um menininho sem juízo a todo vapor. Concordei e decidi ir sozinha. Assim que saiu a data do evento, ainda no final de 2018, marquei minha viagem.

Paraty na Flip 2019

No fim das contas não fui sozinha. Quando comentei sobre meus planos, minha irmã mais velha se empolgou e resolveu ir também. E ainda bem que você foi, Nina, pois acho que eu teria sido capaz de cancelar a viagem se fosse sozinha. Meu coração foi ficando apertado conforme o dia se aproximava e eu me perguntava onde estava com a cabeça quando pensei que seria tranquilo ficar longe do Pedro àquela altura. Nós nunca tínhamos passado mais que algumas horas separados! Por mais que meu lado racional soubesse que esse distanciamento seria bom, até mesmo necessário, bateu sim um arrependimento pré-viagem. E mesmo durante, porque essa foi também a oportunidade de concluir o desmame do Pedro e acho que eu sofri mais do que ele no processo, mas esse seria tema para outro nicho de blog.

Resumindo, que bom que eu fui! Já se passaram algumas semanas e parece que ainda estou tentando organizar meus pensamentos com tudo que vi e vivi em Paraty. Antes que a memória comece a falhar, quero compartilhar um pouco dessa história com vocês. Não é nenhum guia para aproveitar a Flip, muito pelo contrário, são apenas minhas impressões como uma participante comum. Daquelas bem desprevenidas. Não planejei quase nada. Minha única preparação foi ler alguns livros de autores convidados que eu ainda não conhecia. Foram poucos:

  • Cat Person, da escritora estaduniense Kristen Roupenian
  • Noite em Caracas, da venezuelana Karina Sainz Borgo
  • Fique Comigo, da nigeriana Ayòbámi Adébáyò
  • As coisas que perdemos no fogo, da argentina Mariana Enríquez
  • Maternidade, da canadense Sheila Heti
  • O corpo dela e outras farras, da também estaduniense Carmen Maria Machado
  • Memórias da Plantação, da portuguesa Grada Kilomba

Não sei se era questão de momento, mas eu não fiquei muito empolgada com quase nenhuma dessas leituras. Só uma realmente me impressionou: Memórias da Plantação. Bastaram poucas páginas para que eu começasse a admirar Grada Kilomba. O livro dela foi o único que decidi levar para pegar o autógrafo. E tive a grande sorte de, no meu primeiro passeio por Paraty, na noite de quarta-feira, quando a cidade ainda estava relativamente vazia, encontrá-la  passeando com a família nas ruas do centro histórico. Fui tiete, fiquei emocionada, lamentei não estar com o livro dela em mãos na hora. Mas ainda bem que eu não estava, né? Imagina só se todo leitor ficar parando os escritores nas ruas para pedir autógrafo? Fui salva de uma gafe de principiante por ter esquecido o livro na pousada.

Flip 2019

Depois tive a chance de pegar tal autógrafo. Assisti à mesa dela na noite de sexta no telão da Praça da Matriz e saí uns minutos antes do fim para ser uma das primeiras na fila de autógrafos. Funcionou. E novamente me emocionei. Que força tem Grada Kilomba! Conheçam, leiam Grada! Ela tem muito a nos ensinar. De quebra ainda levei o autógrafo do também maravilhoso Kalaf Epalanga, escritor angolano que naquela noite mediou a mesa da Grada. Ainda não li seu livro Também os brancos sabem dançar, mas gostei muito de todas as falas dele a que assisti até agora. Na falta do livro, pedi o autógrafo num caderninho que eu carregava.

Mas eu já fui parar na sexta à noite, espera, teve muita coisa antes disso! Teve muito passeio pelas ruelas do centro histórico, muito quebra-queixo dos tabuleiros de doces, muita moqueca vegana… Pois é, escolhi a Flip para fazer minha primeira viagem totalmente vegana. Foi uma decisão que tomei quando já estava a caminho, sem saber se conseguiria cumprir, mas minha missão foi concluída com sucesso! Tanto que decidi que, se eu tinha conseguido viajar sem recorrer a ovos e leite, em casa seria ainda mais possível. E assim foi! Posso considerar a Flip 2019 como um marco na minha vida: depois de 11 anos de vegetarianismo, foi quando me tornei vegetariana estrita de vez.

Claro que teve também muita literatura. Eu não planejei quase nada porque já sabia que na Flip tem sempre mil coisas acontecendo ao mesmo tempo e é impossível não perder algo que a gente quer ver pela simples impossibilidade de estar em dois (ou três, ou quatro) lugares ao mesmo tempo. A programação principal estava bacana, gostei especialmente das mesas da Aparecida Vilaça e da Grada Kilomba, mas ainda mais legal era a vasta e variada programação das casas paralelas. E são muitas casas!

Eu só consegui conhecer algumas delas. Me encantei com A Casa da Porta Amarela e adorei a programação da Flipei, a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes. No barco da Flipei vi uma mesa ótima da Sabrina Fernandes, do canal Tese Onze, com o Vladimir Safatle, mediada pelo Jones Manoel. Foi pra mim um dos momentos mais interessantes da festa.

Gostei muito também da programação da Casa da Tag Experiências Literárias. Lá assisti ao um bate-papo divertidíssimo entre a Socorro Acioli e a Noemi Jaffe. Aproveitei para tietar a Socorro Acioli também, claro. Ela é a autora de A Cabeça do Santo, livro que eu adoro e que representou o Ceará no meu projeto Lendo o Brasil.

Na Casa Submarino vi a Karina Sainz Borgo falar de Noite em Caracas e gostei ainda mais do livro depois de ouvi-la. Essa experiência de ter contato direto com os autores é algo bem novo pra mim, coisa que eu achava inimaginável há alguns anos, e que enriquece demais a experiência de leitura.

Por último deixei para falar de uma das melhores partes dessa minha viagem a Paraty, que foi encontrar muitos amigos. Eu sempre digo que o maior legado desses quase 12 anos de blog são as pessoas que ele trouxe para minha vida e o mesmo posso falar do youtube, apesar de mais recente. E, num ambiente que respira literatura, claro que as pessoas dos livros estavam por toda parte. Difícil é encontrá-las, porque realmente tem muito coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas mesmo os rápidos momentos  que passamos juntos foram especiais. Não vou nomeá-las, porque faltou muita gente nas fotos, sem contar que ainda não me perdoo por não ter reconhecido algumas pessoas com quem esbarrei, mas garanto que cada encontro foi muito especial.

Amigos booktubers na Flip 2019

Já contei qual foi o único livro que levei, agora mostro o que eu trouxe da Flip 2019. Não podia ser muita coisa, já que eu estava viajando sem despachar. Logo embaixo da foto detalho tudo para vocês.

Livros que eu trouxe da Flip 201

O novo livro da poeta mineira Ana Martins Marques, a responsável por me mostrar que eu posso gostar de poesia. * Mais um livro de uma autora mineira, a Cidinha da Silva, que lançou seu novo livro na Flip. Comprei direto das mãos dela e tive a felicidade de conhecê-la e ganhar um autógrafo. * A Editora Todavia espalhou por Paraty um exemplar de cada um dos 100 livros que já publicou e eu tive a sorte de encontrar um deles. * A nova edição do livro da Angela Alhanati e o novíssimo livro do seu filho Yuri Alhanati. Amigos queridos que revi e cujos livros trouxe autografados. * Por último, um mimo que a Tag Experiências Literárias distribuiu a quem assistia às mesas na sua casa. Não sou assinante, mas adoro o trabalho deles e essa prancheta é fofa e útil.

E foi isso! A gente tem que se segurar pra não comprar um monte de livro por lá, viu? Haja autocontrole!

Paraty na Flip 2019

Assim foi a minha primeira experiência na Flip. Com certeza não foi a última. Não sei se vou de novo logo em 2020, mas voltarei. No caminho pra casa, com a cabeça e o coração cheios, fiquei pensando que a Flip foi a materialização do que o novo logo do Viaggiando significa: a fusão das minhas paixões por livros e viagens. É claro que ela seria especial.

FLIP: COMO CHEGAR E ONDE FICAR

Para ir de Belo Horizonte a Paraty voei até São Paulo, onde encontrei minha irmã, e lá alugamos um carro para terminar a viagem. Preferíamos chegar pelo aeroporto de Guarulhos, pois assim pegaríamos a rodovia mais rapidamente. 250 km separam o Aeroporto de Guarulhos de Paraty. Minha ideia inicial era fazer esse trajeto de ônibus, mas pelo horário dos nossos voos achamos melhor alugar o carro. A empresa que presta o serviço de ônibus é a Reunidas.

Ficamos hospedadas na Pousada Estrela de Paraty. Fiz a reserva em dezembro de 2018 e ela tinha um melhor custo-benefício dentre os critérios que eu procurava: localização, mínimo de conforto e preço razoável. Não havia muitas opções, viu? Na Flip os preços em Paraty sobem bastante e a hospedagem com certeza é o que mais pesa no orçamento. Provavelmente ela não seria a pousada que eu escolheria em outro tipo de viagem, mas pra Flip me atendeu bem. Ela fica na rua principal, as poucas quadras do centro histórico e é rodeada de comércio e restaurantes. A rodoviária também fica bem perto. O café da manhã pra mim foi a pior parte, mas devido às minhas restrições alimentares. O atendimento foi bem simpático, inclusive na hora de preparar minha tapioca com goiabada.

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6 Comments

  1. Josiene vieira

    Ah! Foi muito legal te ver por lá, apesar de ter ficado com muita vergonha de falar com você e os outros e só consegui com ajudinha da Jota Pluft kkkkkkkk. Foi minha primeira FLIP é o sentimento que fica é maravilhoso, quero muito voltar já em 2020.

  2. Comigo aconteceu o inverso, primeiro descobri as viagens e agora estou descobrindo o amor pelos livros. :)
    Nunca havia ouvido falar dessa feira, vou procurar pra saber se encontro algo parecido aqui em Londres.

  3. Muito legal seu relato!
    Não comento muito aqui no blog (mais no Instagram), mas adoro ler suas postagens!
    Queria fazer duas perguntas sobre questões da viagem: Sobre sua hospedagem, você teve que reservar com muita antecedência? Ficou satisfeita com o local?
    Sobre o transporte, você foi de avião até o Rio e daí pegou ônibus ou transfer para Paraty?
    Abraços

    • Camila Navarro

      Carolina, mas eu ando sendo uma blogueira terrível mesmo! Imagina, nem dá para dar o serviço mínimo? haha Acabei de atualizar o post com essas informações, mas, resumindo, voei para São Paulo e lá alugamos um carro, mas poderia ter ido de ônibus também. Reservei a hospedagem com muita antecedência, mas nem todo mundo é tão prevenido. Eu quis me garantir antes que as melhores opções (conceito bem relativo, né?) esgotassem.

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