198 Livros: Malta – In the Name of the Father

198 Livros - MaltaAssim como o livro de Liechtenstein, In the Name of the Father (and of the Son) também foi um dos vencedores do Prêmio de Literatura da União Europeia de 2011. Eu só percebi a coincidência agora, quando comecei a escrever o post. Acho interessante pensar que ambos foram as únicas opções que encontrei de países dos quais encontramos pouca literatura traduzida. O prêmio foi uma vitrine que levou à tradução dos livros para diversas línguas. Apesar de não terem saído em português, agradeço pela chance de lê-los, em espanhol, no caso de Liechtenstein, e em inglês, no caso de Malta.

In the Name of the Father (and of the Son) é um romance autobiográfico no qual o autor, Immanuel Mifsud, explora sua relação com o pai. Poucos meses após o nascimento de seu filho, Immanuel perdeu o pai. Dois eventos tão marcantes em sequência despertaram nele uma reflexão profunda sobre paternidade. O livro de certa forma é uma autobiografia do autor e também uma biografia de seu pai, Ġużeppi Marija Mifsud, reconstruída principalmente através de seu diário da guerra.

In the Name of the Father - Immanuel MifsudImmanuel Mifsud é o mais novo de oito irmãos. Ele nasceu em Paola, Malta, em 1967. Seu pai era operário e a família não tinha muito dinheiro. Confesso que tenho muita dificuldade em pensar em pobreza na Europa, a menos que estejamos falando de imigrantes, claro. Acho que quando comparamos com o nível de pobreza e desigualdade que temos aqui tudo fica muito leve. Mas se falamos da primeira metade do século passado, a situaçãopor lá é um pouco mais complicada.

Devido à sua localização geográfica, Malta, na época uma colônia britânica, não ficou de fora da Segunda Guerra Mundial. Entre 1940 e 1942 Alemanha e Itália disputaram o controle do arquipélago. Ġużeppi, o pai de Immanuel tinha 19 anos quando o conflito começou. O livro traz trechos de seu diário em que ele fala do período em que serviu como soldado. Nas demais partes a narração é em segunda pessoa e nelas o autor se dirige ao pai.

“I, Ġużeppi Marija Mifsud from Valletta, son of Pawla and Salvu, proletarian and committed Socialist although I have never read the red books (because those are blacklisted by our Mother the Apostolic Roman Catholic Church and because I don’t have a head for difficult, evil books, though I do know how to read a little), soldier of the Second World War assigned to the anti-aircraft cannon to defend my homeland from the air assaults of the fascist Italian bastards and the Nazi pigs.”

Além do retrato da guerra, no livro Immanuel Mifsud aborda o conflito de gerações, algo normal entre pai e filho, mas  agravado pela grande diferença de idade entre os dois. Ele percebe que as noções de masculinidade que tinham eram bem diferentes. No primeiro capítulo ele fala sobre a primeira vez que viu o pai chorar. Ele sentiu que presenciava uma cena proibida, já que o pai sempre lhe dizia que um homem não deveria chorar.

Com In the Name of the Father tive uma experiência de leitura parecida com a do livro da Bélgica, War and Turpentine, de Stefan Hertmans. Apesar de terem propostas e comprimentos bem diferentes, de certa forma ambos são retratos de guerras e de uma Europa que já não existe mais.

In the Name of the Father (and of the Son) foi publicado originalmente em maltês, em 2010, e em inglês em 2011, com a tradução de Albert Gatt.

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