198 Livros: Cuba – Corazón Mestizo

198 Livros - Cuba Essa volta ao mundo dos livros está me gerando sérios problemas. Mali e Omã, por exemplo, nem estavam na minha lista de desejos, mas por causa dos livros que li e das pesquisas que fiz, entraram na fila como prioridades. Até pouco tempo, se eu fosse planejar uma viagem à Bulgária, provavelmente faria apenas o roteiro clássico que inclui Sofia e o Mosteiro de Rila, mas aí inventei de ler Streets without a Name e agora já não posso me contentar em conhecer tão pouco do país. O mesmo aconteceu com Cuba. Se antes eu pensava em passar uma semana por lá conhecendo Havana e descansando em uma praia paradisíaca, agora precisarei de pelo menos o triplo do tempo para fazer um roteiro bem mais amplo. No mínimo terei que incluir Santa Clara, Remedios, Santiago de Cuba, Trinidad, Sancti Spíritus… E tudo por culpa de Corazón Mestizo, o livro que narra uma viagem que o autor, Pedro Juan Gutierrez, realizou pelo país em 2006.

Corazón Mestizo não é um mero diário de bordo. Ele não se restringe a falar sobre os lugares ou sobre os fatos da viagem e a ordem nem sempre é cronológica. Na verdade, tudo isso é apenas pano de fundo para nos mostrar um retrato do povo cubano. Pedro Juan Gutierrez se embrenha no interior do país para descobrir como as pessoas vivem longe da capital. Ele vê um povo sofrido, com as mãos atadas frente a uma política econômica que muitas vezes o explora sem deixar condições para que sobreviva com dignidade. E por isso o grande sonho para muitos desses cubanos é conseguir uma saída, cruzar os mares rumo a uma nova vida, na maioria das vezes nos Estados Unidos. Essa fuga é um tema recorrente no livro e fica claro que o dinheiro que os parentes que conseguiram ir embora enviam para os que ficaram é de extrema importância para eles. Não é à toa que os livros de Pedro Juan sejam proibidos no país. Corazón Mestizo - Pedro Juan Gutierrez

Por relatar uma viagem que ocorreu há 8 anos e sabendo que Cuba passa por um processo de transformação, a gente pode se questionar se as informações ainda são válidas. Bom, eu duvido que as mudanças sejam assim tão rápidas. Em Havana o estilo de vida talvez seja mais moderno, mas no interior tudo parece ser mais atrasado. E a realidade para locais e turistas é bem diferente. Em países pobres sempre há redutos protegidos para turistas e lugares e serviços que só são acessíveis a eles, então muitos vezes é difícil para um visitante perceber quais são as reais dificuldades que a população enfrenta no dia a dia.

Através do livro eu descobri também algumas curiosidades cobre Cuba. Pelo tanto que o autor fala neles, me parece que há muitos travestis no país. E o que ele relata e as notícias recentes que encontrei confirmam é que ainda existe preconceito contra eles, mas que aos poucos a aceitação está aumentando. Em geral, parece haver bastante liberdade sexual, mas o machismo ainda é acentuado. E o que eu não imaginava é que houvesse tantos relatos de aparições de OVNIs em Cuba, um assunto que pelo jeito era meio censurado.

Percebi também, mais uma vez, como temos semelhanças com outros países latino-americanos. Deve ser fruto do nosso passado de colonização, do calor comum a muitos países e, principalmente, do nosso corazón mestizo, essa mistura de sangue indígena, africano e europeu que nos é tão peculiar.

Corazón Mestizo foi publicado originalmente em espanhol, em 2007, pela editora espanhola Planeta.

Mais livros de autores cubanos:

  • Trilogia Suja de Havana, Pedro Juan Gutierrez
  • A neblina do passado, Leonardo Padura
  • Morango e Chocolate, Senel Paz

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

 

2 Comments

  1. Lu Malheiros

    Camila, livro bom esse!!! Aliás, a melhor sequência que li até agora: Cuba, Iêmen, Austrália, Albânia e Noruega (não está na sua ordem,o livro da Austrália demorou para chegar).
    Ao contrário de você, não tenho mais vontade de conhecer Cuba. Nem o livro me fez mudar de ideia :-(

    • Cuba, Iêmen e Albânia eu também adorei! Austrália um pouco abaixo e Noruega nem tanto…

      Em relação a Cuba, meus sentimentos são meio conflitantes. Confesso que não sinto segurança suficiente para opinar, mas gostaria de ver tudo de perto. Ainda vou!

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