Direitos Humanos, Livros e Viagens

Imagem cedida pela Walk Free - www.walkfree.orgCada um tem seus motivos para gostar (ou não) de viajar. Há quem viaje para descansar, para praticar esportes, para fazer compras. Alguns estão em busca de festas, outros de romance. Tem quem goste de cidades grandes, de natureza, de praias ou de montanhas. E há quem goste de tudo isso. Alguns, como eu, estão em busca de história. A história do ouro no Brasil ou do império inca. Dos czares ou dos navegadores portugueses. Conhecer o patrimônio histórico sempre me atraiu. Aos poucos comecei a me interessar também por diferentes culturas, não simplesmente em saber que elas existem, mas em tentar compreendê-las. Por trás dos traços culturais de um povo, também há séculos de história.

Por mais que falemos em globalização, o mundo não é homogêneo. Ele é diverso, múltiplo, rico. Dentro de um mesmo país podemos encontrar diferentes culturas. É só pensarmos no norte e no sul do Brasil. O que falar então de pessoas que vivem em lados opostos do globo! Felizmente, ainda somos muito diferentes! Mas há muitos estereótipos que podem prejudicar nossa percepção. Tentar entender em vez de julgar é um exercício que exige esforço, mas traz muitas recompensas.

Imagem cedida pela Walk Free - www.walkfree.org

Até hoje, eu ainda não encontrei forma melhor de me familiarizar com a cultura e a história de um lugar do que lendo. Como eu contei aqui, foram os livros que despertaram a minha vontade de viajar. Essa paixão ganhou uma nova dimensão quando comecei o projeto #198livros. Eu embarquei sabendo que seria uma das maiores viagens da minha vida. Ler um livro de cada país do mundo com certeza será uma experiência transformadora. Ainda estou no início dessa jornada (no momento leio o 14º romance), mas já posso dizer que não sou mais a mesma. Hoje eu vejo a vida de forma diferente do que via há 3 meses. E a minha principal descoberta até agora foi que eu não sei nada sobre o mundo! A cada sorteio eu confirmo o tamanho da minha ignorância! Imagem cedida pela Walk Free - www.walkfree.org

O tema do Blog Action Day desse ano é Direitos Humanos. A gente ouve falar tanto do assunto, mas eu nunca tinha parado para entendê-lo com calma. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada logo após o final da Segunda Guerra Mundial com a promessa de que conflitos desse tipo nunca mais aconteceriam. Os direitos e a dignidade das pessoas estariam protegidos. Os países signatários queriam instaurar a paz. Hoje, mais de 60 anos depois, a triste verdade é que a garantia dos Direitos Humanos para todos está longe de ser realidade. E o projeto #198livros despertou ainda mais meu olhar para esses problemas.

Como eu posso ter crescido sem saber nada sobre o genocídio que devastou Ruanda há menos de 20 anos? Ou sem conhecer a situação do Saara Ocidental, que até hoje não conquistou sua independência? Ficou mais difícil não me deixar comover pela crise no Mali, pela situação de outras ex-colônias africanas ou pelos desalojados do Haiti. Isso sem falar nos conflitos no Oriente Médio, nos mutilados pelas minas terrestres no Sudeste Asiático, na terrível prática do casamento infantil no Iémen… A lista é infinita! E nem é preciso ir tão longe. Basta olharmos pela janela para vermos exemplos de violação de direitos humanos. Preconceitos de todos os tipos batem à nossa porta, a escravidão ainda ocorre dentro de fábricas e fazendas, problemas sociais impedem que milhares de pessoas tenham uma vida digna.

Imagem cedida pela Walk Free - www.walkfree.org

O problema é que nos sentimos pequenos frente a tantos problemas. Às vezes é mais fácil fechar os olhos, afinal, o que podemos fazer para corrigir tantas mazelas? E o que nós, viajantes, podemos fazer para tentar criar um mundo melhor? No Blog Action Day do ano passado eu falei sobre Turismo Sustentável, ressaltando pequenas práticas que podemos adotar para minimizar o impacto negativo do turismo. Acho que os assuntos estão relacionados, já que podemos agir como agentes transformadores dos destinos que visitamos. Cada atitude nossa pode ser um passo rumo à consolidação dos Direitos Humanos ou ao fortalecimento de suas violações.

A escolha do local onde passaremos nossas férias já reflete um pouco de nossa posição. Algumas pessoas preferem evitar países que flagrantemente violam os Direitos Humanos, por exemplo, enquanto outras acham que o boicote e o isolamento apenas trariam mais prejuízos à população. Os passeios que escolhemos, as operadoras que contratamos, a comida que comemos, as compras que fazemos causam impactos na sociedade e por trás disso tudo estão pessoas que, teoricamente, nasceram com os mesmos direitos que eu e você. Respeitar essas pessoas e optar por ações que sejam boas para todos é o mínimo que podemos fazer. E o primeiro passo para adotarmos atitudes mais corretas é a informação. Para saber como agir, informe-se, leia, pesquise. Quanto mais aprendemos, maiores são as chances de fazermos boas escolhas. E esteja com o coração aberto para o novo. Deixe os preconceitos em casa e se disponha a conhecer. Muito mais do que os lugares, o que realmente torna uma viagem especial são as pessoas que cruzam nosso caminho.

É claro que há formas mais efetivas de defender os Direitos Humanos. Você pode adotar o Volunturismo (um ótimo blog que explora o Turismo Solidário é o Dentro do Mochilão, da Cris Marques), ajudar instituições que lutam por essa causa ou mesmo se tornar um ativista. Assim como os problemas, as soluções também são infinitas! Mas tudo começa com um primeiro passo e nenhuma atitude em prol dos Direitos Humanos é inválida.

Leia também:

Esse post faz parte do Blog Action Day 2013, uma postagem coletiva anual que reúne blogueiros do mundo todo para falar sobre o mesmo tema no mesmo dia. Em 2013 o  assunto em pauta é “Direitos Humanos”. Entre no site e veja a relação completa dos blogs participantes. As imagens que ilustram o post foram cedidas pelo Walk Free, uma organização australiana que luta contra as formas de escravidão moderna.

6 Comments

  1. Camila, acompanho seu blog há algum tempo (198 livros me atraíram), e acho mt interessante sua visão do mundo. Fico impressionada como alguns brasileiros viajam para o exterior apenas para fazer compras, ou estrangeiros visitam o Brasil por causa do Carnaval (não que tais objetivos não sejam válidos). Viajar é um grande sonho. Depois de anos na estrada, sou uma pessoa diferente, com certeza mais culta. Em contrapartida, acho que muitas pessoas se afastaram, pois vamos ficando esquisitos, nossos valores mudam. Não trabalho na área mas me graduei em turismo pois o assunto me atrai muito. O que existe no mundo, atualmente, são os “não lugares”, criados para o turismo de massa (o nordeste brasileiro está cheio de empreendimentos estrangeiros porque não temos projetos para os empreendedores locais, e por aí vai…). Meu TCC foi exatamente sobre a necessidade de restringir o acesso nos lugares de interesses turísticos, em especial patrimônios históricos, artísticos e naturais. É impossível manter a praia de Morro Branco/CE, com milhares de pessoas diariamente. Grande parte dos artesanatos vendidos em vários países são “made in China” (que é interessantíssima de ser visitada). O que foi feito da arte típica de cada comunidade? Parabéns pela dedicação ao blog.

    • Oi, Juliana! Eu não tenho nenhum conhecimento formal na área de turismo, sou uma mera curiosa que gosta de viajar, mas aos poucos esse tema da sustentabilidade foi chamando minha atenção. Ainda temos um longo caminho pela frente, né? E tem que ser um trabalho que envolva governo, turistas e comunidade local. Poucos destinos podem dizer que promovem um destino sustentável e isso geralmente tem um preço alto para o turista. Mas vamos fazendo nosso trabalho de formiguinha, mudando atitudes e plantando sementes para tentar mudar essa realidade! :-)

  2. Ótimo texto Camila! =) Fico feliz em perceber que mais e mais pessoas estão entendendo o Turismo enquanto um fenômeno que pode contribuir (e muito) para o desenvolvimento do lugar, mas que sem planejamento, sem um consumo consciente, também pode gerar uma série de impactos negativos. É sim muito difícil perceber até que ponto estamos vivenciando uma experiência autêntica, que realmente tenha a ver com a história e a cultura do destino e, principalmente, com seu povo, ou se estamos presenciando uma construção, a montagem de um cenário para turistas se deslumbrarem. A manipulação das informações pela mídia dificulta a construção de uma consciência crítica, mas o caminho que você escolheu é sensacional! Espero que o seu projeto possa inspirar novas pessoas! Beijos!

    • Obrigada, Laís! Tô vendo que você também se interessa pelo assunto! Diferenciar o autêntico da montagem é mesmo uma tarefa difícil, ainda mais porque com o desenvolvimento e com o avanço do turismo fica cada vez mais difícil manter as tradições. Ainda assim acredito que nunca seremos todos iguais e é isso que torna as viagens especiais!

  3. Compartilho com você o tapa na cara sobre o genocídio em Ruanda, e todas as demais atrocidades às quais não temos acesso, salvo por livros. O tema da Shoah acabou sendo recorrente em alguns romances que li, uns escolhidos por isso, outros onde o tema emergiu meio que por acaso.
    Gostei da abordagem que você deu ao tema, fazendo a relação entre a leitura e viagens. Acredito que ambas são libertadoras no sentido de nos proporcionarem ampliação de visão de mundo, Fazendo gancho com seu comentario la no blog, fiquei pensando sobre o personagem que você citou. O paranoico é um psicotico, e como tal tem uma percepção da realidade muito crua, sem as mascaras que os ditos normais tem. Ele não esta de todo equivocado ao denunciar um sistema que nos deixa vazios: somos constantemente bombardeados por mensagens alienantes, e por instruções que visam unicamente nos encaixar num molde, ao melhor estilo “The Wall”. Não é à toa que a loucura é excluida da sociedade contemporânea: ela incomoda por mostrar descaradamente onde está a ferida, e por nos fazer chegar à constatação de que fomos nós mesmos que a provocamos.

    • Natalia, acho que a culpa não é só nossa, sabe? Li numa pesquisa que durante um mês dos conflitos em Ruanda um canal de TV americano falou sobre o assunto apenas 32 minutos! E o mesmo acontece agora com o Saara Ocidental, por exemplo. O mundo e até mesmo a ONU parecem fechar os olhos para esses problemas.

      Acho que você pode mesmo colocar “Vilnius Poker” na sua lista de leitura pós-projeto. Não sei se paranoico é o diagnóstico correto (foi o que li em uma resenha), mas para você seria uma ótima fonte de estudo.

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