As mulheres e o mundo

Mulheres em IstambulEu achava que estava preparada para o choque cultural na minha viagem ao Sudeste Asiático. Quer dizer, eu havia me preparado para me surpreender, me chocar, pois nunca sabemos como vamos realmente reagir ao nos depararmos com culturas muito diferentes da nossa. Um detalhe para o qual eu me atentei foi em relação às roupas. Eu sabia que no Camboja e no Laos as mulheres usavam roupas mais recatadas, que decotes e saias curtas não eram comuns entre elas e que para entrar nos templos seria de bom tom, ou às vezes mesmo obrigatório, cobrir os ombros e colo. O difícil seria conciliar o calor insuportável com as roupas mais fechadas, mas para isso fui munida de calça de tecido larga e um lenço que não saia da mochila a tiracolo, pois assim eu poderia cobrir os ombros a qualquer momento. Na prática eu vi que a maioria das turistas não ligavam para isso e shorts curtos eram super comuns em Siem Reap, por exemplo. Eu não me sentia bem, preferia me adequar minimamente ao costume local, mas foi por puro respeito, não por imposição.

Na mesquita em Istambul

Para chegar à Ásia ainda passamos alguns dias em Istambul, meu primeiro local de contato com a cultura islâmica. Pelo menos lá era inverno e o frio já me obrigava a estar sempre bem coberta. Na hora de entrar nas mesquitas eu jogava o lenço na cabeça e estava pronta! Ainda assim fiquei um pouco incomodada. Não por minha causa, mas pelas mulheres de lá. Aquelas mesquitas com espaços lindos e enormes para os homens rezarem e para as mulheres apenas um espacinho reservado nos fundos era desanimador. Nas ruas as mulheres também eram minoria. Parecia que elas se escondiam em casa, pois no comércio só se via homens. E olha que Istambul parece ser uma cidade bem cosmopolita. Que sociedade mais machista! Era isso o que eu pensava o tempo todo.

Espaço (todo) para os homens na mesquita

Espaço para as mulheres na mesquitaEspaço para as mulheres na mesquita

Mas foi na Malásia que meu lado feminista ficou realmente irado. Eu achava que Kuala Lumpur, por ser uma cidade moderna e marcada pelas diferentes etnias e religiões, seria mais liberal. Ainda assim eu não me excedia e usava calça e camiseta, nada de roupas curtas. Muitas mulheres já me disseram que acharam a cidade tranquila e que não sofreram assédio na rua, mas para mim Kuala Lumpur em alguns momentos foi insuportável. Apesar de não me vestir de forma mais ousada que as chinesas, de andar sempre com óculos de sol, cabelo preso e mãos dadas com o Eduardo, os olhares dos homens indianos me incomodavam demais. E não era o olhar de curiosidade que eu recebi nos Vietnã, por exemplo, mas um olhar agressivo, desrespeitoso, uma ofensa sem palavras.

Eu me sentia invadida. A vontade era de me esconder. Joguei o lenço nos ombros, mas não adiantou. Meus olhos passaram a mirar o chão, de tão constrangida que fiquei. A cor da minha pele parecia dar a eles o direito de tirarem minha liberdade de andar pelas ruas. Mas é claro que eu sei que o problema não era só comigo, que as indianas enfrentam uma vida marcada por humilhações muito piores e que preconceito e violência rondam a vida delas desde cedo. Não é à toa que a Índia é considerada pela ONU como um dos piores países do mundo para as mulheres viverem.

Kuala Lumpur

Foi em Kuala Lumpur que eu descobri que não estou preparada para ir à Índia. Eu sempre soube que lá o choque cultural seria grande, que os hábitos seriam muito diferentes, que a pobreza seria escandalosa, que a sujeira nas ruas poderia me assustar, mas isso tudo talvez eu fosse capaz de enfrentar. O que eu não posso aceitar é ser assediada o tempo todo na rua, sentir medo de me expor, de ser atacada, ter vontade de me esconder a cada passo. A esse tipo de sentimento eu não quero me submeter voluntariamente. E é por isso que países com Iêmen e Arábia Saudita também não entram no meu radar. Templo indiano em Kuala Lumpur

Mas e no Brasil, será que a situação das mulheres é tão diferente? Aqui a gente tem liberdade de usar o que quiser, mas é julgada por isso. Quantas vezes a gente não ouve alguém dizer que a mulher está procurando quando se veste com roupas curtas e decotadas, como se isso desse o direito de fazerem com ela o que quiserem? Andando na rua é muito comum ouvir cantadas que nos dão vontade de responder à altura, mas nos seguramos por medo. Quase toda mulher já desviou uma rota por constrangimento de passar em algum lugar em que isso acontece com frequência. Já deixou de vestir uma roupa por medo das reações dos homens na rua. Tem medo de andar sozinha à noite ou em rua vazia. Pois é, nossa situação também não é nada animadora. E não é nem preciso dizer que a violência contra a mulher aqui também tem proporções alarmantes. São muitas agressões, assassinatos, estupros acontecendo a cada dia…

Uma das coisas tristes que a minha volta ao mundo através dos livros tem me ensinado é que a desigualdade de gêneros existe em todas as partes do mundo. Os exemplos vieram de diferentes países: do pacífico Butão, da longínqua Samoa, do chocante Iêmen, do não tão distante Zimbábue e até super desenvolvida Finlândia. O desrespeito à mulher pode ser explícito ou velado, mas sempre existe. Então como falar em igualdade?

Se você, homem ou mulher, acha que feminismo é bobeira, papo de mulher radical, provavelmente está fechando os olhos ao que acontece ao nosso redor e no resto do mundo. Ao contrário do que muita gente pensa, o que o feminismo busca não é a supremacia da mulher sobre o homem, mas a igualdade de direitos. É ter a opção de nascer, crescer e viver sem um monte de restrições e violações simplesmente por ter nascido mulher. Tão simples, né?

E o que podemos fazer para mudar esse cenário? Bom, aí é o mais difícil. A mudança mesmo vai ser longa e passa por um processo de educação profundo. Sob a bandeira da cultura muitas atrocidades ainda são praticadas no mundo todo. A conscientização pode ser o primeiro passo. Eu não tenho a pretensão de mudar o mundo, mas posso usar esse meu pequeno espaço para falar sobre o que acho importante. Porque a verdade é que o mundo é fascinante, mas nem sempre é colorido…

Esse post faz parte do Blog Action Day 2014, uma postagem coletiva anual que reúne blogueiros do mundo todo para falar sobre o mesmo tema no mesmo dia. Em 2014 o  assunto em pauta é Desigualdade. Eu escolhi falar sobre a Desigualdade de Gêneros. Entre no site e veja a relação completa dos blogs participantes.

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29 Comments

  1. Blog Vambora!

    Camila só vim descobrir esse seu texto hoje! Muito bom! Não é muito pedir que sejamos tratadas com igualdade e respeito, em qualquer lugar desse mundo, não é mesmo? Não ter medo, insegurança, de ir a qualquer lugar, pelo simples fato de ser mulher. É algo tão básico e estranho falar sobre isso em pleno 2016, depois de tanto tempo e conquistas, sendo que as coisas já poderiam ter melhorado muito mais, mesmo em países mais democráticos e supostamente “mais desenvolvidos”. Que o respeito, igualdade e valorização das mulheres continue cada vez maior, nos tornando mais independentes e fortes para seguir nossos sonhos, desejos e vontades, como o de viajar e conhecer o mundo sem medo, com nossos próprios olhos.

    • Bom te ver por aqui, Guta! E não tem nem problema ter descoberto esse post só agora, pois infelizmente ele continua bem atual. Essas mudanças parecem ser tão lentas, né? Por outro lado me parece que há uma grande diferença entre nós e a nova geração que está crescendo no Brasil. Os jovens de hoje parecem mais questionadores e ativos que nós. Espero que eles consigam provocar mudanças mais rápidas, pois ainda estamos muito atrasados. E que essas mudanças aconteçam no mundo todo, pois ainda temos muito pelo que lutar!

  2. Ótimo texto!
    Não conheço a India, mas em Londres onde a comunidade de indianos é enorme, eles assediam muito, imagine lá.
    Comigo foi assim em 4 situações: Já olham diferente pois sabem que você não é britânica. No meu caso perguntaram se eu era francesa ou italiana. Disse que era brasileira. Pronto! Sorriso de orelha a orelha e graçinhas tipo “amo o Rio e Carnaval, quero ir com você” e coisas piores. E na frente da minha mãe.
    Um recepcionista do apartamento, todo dia soltava uma: ” vc demorou hj, estava preocupado” ou ” precisa que eu arrume algo no seu quarto”…
    Totalmente diferente dos britanicos.
    Depois de um tempo, quando eu via algum já evitava. Não dá para generalizar, mas foi super desagradavel e até amedrontador no caso do cara do hotel.

    • Renata, por isso tenho medo de ir à Índia. Se fora de lá eles agem assim, imagino como deve ser lá, onde a cultura ampara essas situações. Sei que a Índia é muito mais do que isso, mas eu não estou preparada para me expor assim voluntariamente.

  3. Camila Torres

    Cheguei aqui pelo post de Hanói, ainda não tinha visto. Nossa, que sensação horrível deve ser ! Minha primeira cidade na Ásia também será KL, e também vou passar por Dubai na volta.
    Vou pensar com carinho no figurino !

    Deixando de lado os aspectos práticos, adorei o texto. Como a Flora, também trabalho em uma área bem masculina, a TI. Demorou, mas acho que atualmente sou muito respeitada pelos meus colegas. Não respeito a pessoa em si, mas à profissional. No começo, os homens ficam com pé atrás em relação à nossa competência.

    Mas o mundo é grande por aí, a história, infelizmente, e mais diferente ainda…

  4. Luciana Betenson

    Só li agora. Mas gostei demais, Camila! Beijos,

  5. Karina Gomes

    Excelente texto, Camila! Vivendo por quase 2 anos aqui na Turquia eu ainda me choco bastante com o papel da mulher na sociedade (e por morar num vilarejo pequeno isso é ainda mais acentuado…), eu escuto amigos, que são consideradas pessoas “modernas”, alegarem que não podem casar com aquela fulana porque ela não sabe passar roupa…oi? İsso é tão intrinseco na cultura deles, esposa é a mulher que vai cuidar da casa e cozinhar pra mim, que não sabem nem explicar o motivo, é assim e pronto. Se o turco resolver namorar uma estrangeira que trabalha e portanto não terá tanto tempo livre para as tarefas domésticas, a família até aceita, mas procura saber se além disso, ela não tem algo que vá envergonhar a familia, e isso pode ser usar decote ou não gostar de iogurte…
    Eu acabei de voltar do İrã e, apesar do receio inicial, foi onde me senti menos “violentada” como mulher. Acho que o fato do véu obrigatório e dos trajes ajudou muito mas, mesmo no contato direto com os homens, eu senti muito mais respeito deles do que em outros países islamicos/arabes que tive a chance de visitar.

    • Adorei ter a visão de alguém que conhece a cultura turca muito melhor do que eu, Karina! Quanto ao Irã, as notícias das últimas semanas vindas de lá me deixaram bastante chocada. Você viu sobre as mulheres que foram atacadas com ácida por fanáticos religiosos? E sobre a mulher executada por ter matado seu estuprador? É tão revoltante!

      • Karina Gomes

        Oi, Camila! Eu também fiquei chocada com as notícias no İrã, principalmente porque achei as pessoas lá bem relaxadas com a questão da vestimenta e véu obrigatório, eu mesma vivia com o véu caindo rs. Várias jovens usam o véu cobrindo apenas o rabo de cavalo e ninguém parecia se importar com isso, principalmente em İsfahan onde aconteceram os ataques, em Teerã eu achei a situação mais tensa. Mas fanáticos religiosos infelizmente existem em qualquer lugar, né?

  6. Juliana Tavares

    Olá Camila,

    Adorei o seu texto. Esse é um tema que me incomoda bastante… Nós, brasileiros, temos costume de falar da situação das mulheres em outros países, como a índia, por exemplo, e esquecemos da situação das nossas mulheres, que não é muito diferente do que lá. Segundo o Ministério da Justiça, 50 mil mulheres são estupradas por ano aqui no Brasil, só no Rio de Janeiro uma mulher é estuprada a cada duas horas, segundo Instituto de Segurança Pública.
    É assustador e deprimente ser mulher em um mundo tão machista e violento.

    Beijos,

    Juliana Tavares

    • Pois é, Juliana, os números da violência contra a mulher aqui também são apavorantes! E a gente sabe que eles ainda não refletem a situação real, pois muitos crimes nem são denunciados. Por causa disso a gente vive com medo e se priva de tanta coisa…

  7. Olá Camila,

    Adorei o seu texto. Esse é um tema que me incomoda bastante… Nós, brasileiros, temos costume de falar da situação das mulheres em outros países, como a índia, por exemplo, e esquecemos da situação das nossas mulheres, que não é muito diferente do que lá. Segundo o Ministério da Justiça, 50 mil mulheres são estupradas por ano aqui no Brasil, só no Rio de Janeiro uma mulher é estuprada a cada duas horas, segundo Instituto de Segurança Pública.

    É assustador e deprimente ser mulher em um mundo tão machista e violento.

  8. Como você escreve bem, Camila! Texto bem legal!

    Beijos,

    André (http://viagenzinhahein.wordpress.com)

    • Obrigada, André! Pelo menos um homem deixando um comentário aqui! :-)

      • Oi Camila:

        Concordo com muita coisa do que você disse, mas sem querer causar polêmica, na minha opinião, aqui no Brasil, o machismo também é reforçado pela própria mulher. O feminismo ajudou a queimar sutiens, libertou a mulher de muitas amarras, mas quando olho à minha volta, vejo grande parte de amigas minhas e de colegas de trabalho, no fundo, direcionam sua vida com o único objetivo de casar com um homem que as sustente ou, dependendo da faixa etária, simplesmente ter um marido tout court, mesmo que seja com um cara porcaria. A conversa sempre gira sobre esse tema. Estou falando de pessoas da Zona Sul do Rio de Janeiro, várias pertencentes à classe alta, pessoas instruídas… O pior é que elas nem se dão conta do quanto ajudam a perpetuar um comportamento chauvinista nos filhos.

        Ainda bem que existem pessoas diferentes!

        • Polêmica nenhuma, André! Pelo menos não para mim, pois eu concordo com você! Nossa cultura é muito machista e o machismo pode vir de homens e mulheres. Como eu disse num comentário aqui pra Cris, tenho certeza de que eu mesma perpetuo alguns hábitos sem nem perceber. Nesse ponto que você citou eu tive a sorte de ter uma mãe que criou as filhas para serem independentes. Ela sempre disse que mulher não precisa/deve depender de homem e desde cedo eu percebi que a independência de uma mulher, e às vezes sua dignidade, tem muito a ver com sua independência financeira.

  9. Já tendo viajado também pra diversos países, inclusive Índia, posso dizer que conheço bem essa sensação que você teve em KL! Nem mesmo no Marrocos eu me senti tão acuada como em Cingapura – onde as chinesas usam micros saias. Não é só questão dos trajes, a mulher ocidental é mesmo vista de forma diferente no Oriente.. o que eu acho até fácil de entender.
    Mas esse lado você já conhece então queria mesmo falar do outro lado… moro há quase 8 anos num país reconhecidamente feminista (a NZ foi o primeiro país a dar o direto de voto à mulher, cargos altos são ocupados igualmente por homens e mulheres aqui, por ex) e posso dizer que, mesmo que eu nunca pretenda me tornar primeira ministra, viver em um país assim é libertador! Eu não acho que o machismo no Brasil seja discreto, acho que é descarado… e não só pela ideia da mulher que tem que arcar com todos os afazeres domésticos ou ouvir quieta cantadas baixas na rua, mas também pela enganação que faz a própria mulher achar ótimo ser escrava dos padrões de beleza. Cada vez que volto ao Brasil fico mais chocada ao ver mulheres extremamente arrumadas, de salto alto, maquiagem, unhas e cabelos feitos no salão… não importa a classe social. Aqui na NZ é comum ver uma mulher bonita de 20 e poucos anos trabalhando de faxineira assim como é comum ver uma outra, com os cabelos grisalhos e alguns quilos a mais, atendendo a clientes numa recepção. Eu não uso salto nem maquiagem, mas quando vou ao Brasil me sinto na “obrigação” de, no mínimo, fazer as unhas. A mudança é tão difícil e lenta que mesmo depois de tanto tempo aqui ainda tem coisas que estou aprendendo… o primeiro impacto foi esse da libertação – eu me arrumo só quando eu quero; posso passar horas conversando com um cara numa balada que ele não vai tentar me agarrar; enquanto no Brasil meus clientes duvidavam que eu era a dona da empresa aqui as empresas dizem que eu sou qualificada demais pra determinados cargos e me colocam em posições superiores… depois você percebe que o machismo veio grudado em você e que você é a única que fica estarrecida ao ver que os homens fazem todas as tarefas domésticas (inclusive deixar de trabalhar pra ficar com os filhos), que as mulheres não se importam de envelhecer naturalmente – sem pintar os cabelos, sem fazer botox ou cirurgias plásticas -, ou que a coisa mais comum são casais com uma mulher gordinha e um cara saradão.. todo mundo acha normal e tem de monte.. e só depois de muito mais tempo você começa a achar tudo isso legal também e a se chocar com o inverso no seu país de origem.
    Pelo que vejo aqui, acredito que a mudança só é possível começando pelas crianças. A desigualdade de gêneros começa na infância, meninos e meninas são estereotipados desde que nascem – cores, brinquedos, atividades etc – e fica muito difícil conscientizar alguém mais tarde de algo oposto a valores já tão enraizados.

    • Cris, adorei seu comentário! Eu queria explorar vários outros tópicos no post, mas iria ficar enorme e um monte de gente nem iria querer ler, então aqui nos comentários a gente pode falar à vontade!

      Também acho que o machismo aqui não é nada discreto, mas o que tem de gente que acha que ele não existe… Essa imposição dos padrões de beleza é uma coisa que me incomoda muito e parece que fica cada dia pior. Eu tento escapar um pouco disso, até porque minha tentativa de ter uma vida mais minimalista não combina com estar na moda, mas realmente é difícil, pois o meio em que a gente vive por aqui é assim. De certa forma eu tenho um pouco mais de liberdade por ser servidora pública, então não tenho essa pressão da aparência para me destacar profissionalmente. Sei que já aboli o salto alto há muito tempo também e minha unha não está sempre impecável, até porque sou eu mesma que faço e muitas vezes rola preguiça, mas acabo sucumbindo a muitas coisas. Espero aceitar envelhecer com serenidade, coisa que tem sido cada vez mais rara por aqui. E nem é só isso, o número de cirurgias plásticas mesmo em mulheres jovens é enorme. Silicone já é padrão, né? Mas poucas pessoas percebem que tudo isso é imposto a nós pela sociedade, pela mídia, pela cultura da beleza feminina que vamos perpetuando…

      Com certeza eu mesma tenho muitos hábitos machistas que nem enxergo. Falta esse olhar crítico, essa nova forma de ver o mundo. Com certeza a saída é educar as crianças e eu espero conseguir criar meu filho ou filha de forma diferente. Sei que não vai ser fácil, por despreparo meu e também pelas críticas que virão de todo lado. Mesmo minha família achará que sou louca… Mas esse enfrentamento também faz parte das mudanças que a gente busca, né? E ó, é por isso que adoro seus posts no Fase Três. Já te disse que você é um super exemplo de mãe para mim, né? ;-)

      • Uia, fiquei até vermelha agora! Hehehe Que bom saber que você gosta e que responsabilidade ser exemplo pra alguém num assunto que eu mesma ainda to no jardim de infância! =)
        Sim, esse assunto vai longe… a tal ditadura da beleza brasileira é um problema mínimo quando comparado à situação das mulheres que sofrem mutilações em tantos outros países.. mas o machismo no Brasil não pára por aí né.. esse é só o fator que mais nos atinge. Infelizmente quanto mais a gente viaja mais percebemos que igualdade entre gêneros é a coisa mais rara que existe. Acredito que o mundo está evoluindo nesse sentido, mas ainda falta taaaanto pra chegar a um ponto pelo menos digno que eu me sinto extremamente sortuda por ter tido a chance, ainda nessa vida, de ver isso acontecendo na prática e cada dia aprendo um pouquinho mais (inclusive de como eu também sou machista, mas já fui bem mais.. mesmo achando que era feminista!).
        Aqui um texto que li hoje que trata um pouquinho desse assunto das crianças e de como as ideias machistas fazem parte do nosso dia-a-dia e a gente nem percebe:
        http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2014/10/carta-um-comissario-de-bordo-por-mais.html

        • Acho que esse post representa bem a aceitação cultural do sexismo. Tão coisas tão comuns que a maioria das pessoas nem pensa que há algo errado na abordagem do rapaz, né?

  10. Sensacional o texto, Camila! Adoro esse tipo de post reflexivo!
    Estive na Índia e sei exatamente como é essa sensação que tu sentistes em Kuala Lumpur. Por mais que a gente tente respeitar a cultura utilizando roupas adequadas, de acordo com os costumes do país, parece não ser suficiente e somos praticamente atacadas com os olhos. Como tu falaste, apesar de ser um pouco mais discreto o machismo aqui no Brasil, ainda precisamos mudar muito para chegar em um nível minimamente aceitável para ser viver com tranquilidade. Fico imaginado o quão terrível deve ser para as mulheres que nascem em países como o Congo, onde a violência contra elas é uma prática comum e diária. Espero um dia ver um mundo mais evoluído, onde possamos andar livres e com segurança por aí. Afinal, isso é essencial para nós que amamos viajar! =D
    Beijos

    • Quando a gente compara nossa situação com países como Congo e Índia parece até que estamos num nível aceitável, né? Mas nesses lugares é que a situação é ainda mais inaceitável! Como pode, em pleno 2014, uma pessoa ser considerada inferior simplesmente por ter nascido mulher? Nenhuma “cultura” pode justificar tantas violações de direitos. Depois da minha experiência em Kuala Lumpur tenho achado que qualquer mulher que vai à Índia muito corajosa, viu? Eu realmente não estou preparada para lidar com esse mal estar diariamente.

  11. Adorei, como sempre, Camila. E hoje mesmo eu desviei meu caminho durante minha caminhada pela manhã com Maquiavel na Urca, porque tinha um grupo de homens que de longe me olhou dessa forma desrespeitosa, eu sabia que se passasse no meio deles ia ouvir alguma coisa, então sai do meu caminho e atravessei a rua pra pegar outra rota. É revoltando viver assim.
    Tive a mesma experiência que você com os indianos, na parte indiana de Yangon, no Myannmar. Também me fez colocar a India em standy by na nossa lista e ela era uma dos top destinos de sonhos do Rômulo. É muito desanimador ver o quanto ainda somos vítimas de desigualdade mesmo nos países mais “adiantados”.
    O que eu sempre tenho falado com minhas amigas é que cabe muito a nós que optamos por ter filhos educar a próxima geração pra ser diferente, tanto quem tem filhas mulheres quanto quem tem filhos homens. E sempre agradeço à minha sogra por ter dado uma educação igualitária a todos os filhos dela, meninos e menina, pois hoje tenho um marido que me encara como parceira e não subalterna à ele.
    beijos,

    • Eu me lembrei do seu post sobre Yangon, imagino que você deve ter sentido o mesmo que eu. Também acho que a educação é o que vai trazer a mudança e por isso ela vai ser lenta. Com tantos adultos machistas (homens e mulheres) como criar crianças diferentes? No Brasil a gente aceita tanto machismo como se fosse natural. O comentário da Cris aqui embaixo disse muito do que eu penso. Esse assunto rende…

  12. Otimo texto Camila! Sabe que tive este mesmo sentimento nas mesquitas da Turquia. E tenho o mesmo sentimento aqui no Brasil, em todos os niveis. Fiz engenharia na decada de 70 e sempre senti esta coisa de ser intrusa num universo masculino. Eu e minhas colegas na época tivemos que ser muiiiiito melhores para sermos respeitadas profissionalmente. Ainda bem que pelo menos neste ponto as coisas estão melhores por aqui.

    • Flora, nem imagino como deve ter sido fazer engenharia nessa época! Eu entrei na faculdade em 2001 e as mulheres ainda eram minoria. Na sala de 40 alunos, éramos só 4 mulheres. E realmente parecia que éramos intrusas naquele meio. De certa forma, é como a gente tivesse que ser menos feminina para se encaixar ali. Espero que na última década as coisas tenham avançado ainda mais!

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