Sobre o prazer de se desconectar nas viagens

Você encontra facilmente dicas de como habilitar a internet no seu celular em diversas cidades do mundo, com direito a passo a passo para que você compre um chip local e já saia do aeroporto com tudo funcionando. Não é isso que você irá encontrar aqui. Pelo menos não hoje. Na verdade, quero falar exatamente do contrário: a liberdade de se desconectar nas viagens.

A gente se acostuma muito rápido com a tecnologia, né? Um dia desses o Eduardo e eu estávamos lembrando que na nossa primeira grande viagem juntos, quando fomos de carro para Uruguai e Argentina, nem GPS tínhamos. Traçamos a rota completa num programa do Guia 4 Rodas que vinha em CD. Na época era um negócio bem moderno, até os pedágios mostrava, vejam só! Imprimimos a rota para levar conosco, mas a navegação no dia a dia era feita de olho nas placas e no mapa de papel. Parece um jeito pré-histórico de se viajar agora que temos mapas do mundo todo na palma da mão através do celular.

Lendo o Guia de Berlim

Consultando o guia na viagem para Berlim

Não preciso nem dizer que naquela viagem, há mais de dez anos, não tínhamos acesso a internet a todo momento. A cada par de dias usávamos o computador do hotel para checar o email e mandar notícias à família e era só. (À noite costumava haver fila para usar o computador, lembram?) No máximo postávamos uma foto no orkut, o cúmulo da ostentação virtual na época. Sem um smartphone e suas dezenas de aplicativos, não havia a possibilidade e a necessidade de compartilhar a viagem em tempo real.

Berat, Albânia

Fotografando em Berat, na Albânia

Confesso que tenho um pouco de saudade daquela época. Hoje já não existem momentos de tédio, em casa ou nas viagens, que não sejam preenchidos pelas constantes visitas às redes sociais. Eu sou mais uma vítima desse vício – a todo momento atualizando twitter, instagram, email, youtube, whatsapp – mas pelo menos durante as férias tento me manter um pouco mais desconectada.

Sighnaghi, Geórgia

Fotografando em Sighnaghi, na Geórgia

Nas viagens internacionais prefiro não comprar chip local. Costumo usar apenas o wi-fi do celular, então navego na internet quase que só no hotel. Nas viagens nacionais o 3G geralmente funciona, então me seguro nem que seja para não acabar com a bateria do celular rapidinho. O fato de eu não ter uma bateria extra me ajuda a manter o autocontrole.

Essas medidas nem sempre são suficientes, então até gosto quando o destino me obriga a desconectar, o que é cada dia mais difícil. Até na Pousada Uacari, no meio da Floresta Amazônica, tínhamos internet! Mesmo em Cuba o wi-fi fica cada dia mais acessível, mas de vez em quando a gente encontra uma fazenda sem sinal de celular e com internet instável.

Internet em Cuba

Internet em Trinidad, Cuba

Não é que eu seja um ser iluminado que já se livrou do vício, muito pelo contrário! Fico é me policiando para me desconectar pelo menos durante as férias. Fico feliz quando consigo. E o fato de estarmos fora da rotina do dia a dia parece que já tira a pressão de estarmos o tempo todo online e atualizados.

Sei também que a internet durante as viagens não serve só para redes sociais. Com ela a gente encontra muitas informações úteis, mas fico pensando se não nos tornamos reféns dessa praticidade. Será mesmo necessário traçar qualquer caminho, verificar a avaliação de todo restaurante, elencar as atrações por nota? Confesso que ainda gosto de abrir o mapa de papel, de explorar os arredores no escuro, de pedir informações na rua, de folhear o guia físico.

Mapa em Istambul

Consultando o mapa em Istambul

Depois de me tornar mãe tenho tentado também me desconectar dentro de casa. Pedro está prestes a completar um ano e ainda não tem acesso a telas em geral, exceto nas conversas por vídeo com os avós e tios distantes. Queremos permanecer assim por um bom tempo, mas pra isso nós também temos que restringir nosso acesso ao celular. Praticando em casa, vai ficando cada vez mais fácil também me desconectar nas viagens.

E você, também aproveita para se desconectar nas viagens ou prefere estar o tempo todo online? Me conta aí nos comentários!

21 Comments

  1. Oi Camila , que bom ler este post , eu as vezes me acho uma Ogra , amo mapas , guias, sempre que vou conhecer um novo lugar procuro anotar os lugares de interesse , estudo as ruas os acessos, também uso somente o wifi dos hotéis, durante os passeios procuro tirar proveito de tudo, não me importo em ver quais são os melhores lugares pra comer , se estou com fome paro observo se o lugar é charmoso e de preço acessível , e vamos em frente sem medo de ser feliz , foi assim que conheci um lugar encantador em Madri , Cervecería Rio Sol , próximo da igreja de São Francisco onde seu Fernando nos recebeu na porta do estabelecimento Quando estamos sem internet nos arriscamos mais , saímos do previsível,deixamos de ser somente turistas para sermos exploradores do simples e do improvável.

  2. Olá Camila!

    Primeiro gostaria de dizer que admiramos muito o seu trabalho e seu site. Quando estivemos em Cuba, ficamos 15 dias sem acessar a internet, desconectamos geral, e foi uma experiência incrível. Nos desconectamos do mundo virtual e, a cada dia que passava, nos conectávamos cada vez mais com o mundo real e pudemos mergulhar na cultura cubana. Foi uma experiência singular. Incrível esse seu texto. Parabéns!

    • Camila Navarro

      A conexão em Cuba vai ficando cada dia mais fácil, mas ainda é um ótimo destino para darmos uma desligada, né? Obrigada!

  3. Poliana Mendes

    Camila, muito pertinente essa reflexão. Eu me vicio muito rapidamente nessas ferramentas de internet, muito rapidamente. Para mim, o desafio é estar “presente”, viver cada momento, sem sentir necessidade de compartilhar isso com os outros através de redes sociais, sem sentir necessidade de acompanhar o que os outros estão fazendo. Isso vale para as viagens e momentos bacanas, mas vale também para os momentos simples do dia a dia, e até mesmo para as horas de “tédio”. Mas requer de mim um vigiar constante, porque, como eu disse, posso me viciar rapidamente, e o que era para ser uma ferramenta positiva acaba se tornando uma prisão.

    • Camila Navarro

      Ah, Poliana, acho que quase todos nós nos viciamos facilmente… Já não temos momentos de verdadeiro tédio, né? O celular está sempre lá para preencher esses e outros momentos! Mas continuemos nos vigiando até diminuir a dependência!

  4. Eu adoro essa coisa de se desconectar durante as viagens, mas como sou “jovem” rs (24 anos) e minha mãe fica muito preocupada comigo, acabo tentando deixar o celular sempre conectado. Aí pros vícios das redes sociais é um pulo. Mês que vem vou pra São Tomé das Letras e tentarei diminuir o uso, só vou usar o celular pra tirar fotos e avisar minha mãe que estou viva. Adorei seu relato, beijos

    • Camila Navarro

      Eu já passei dos 30 e minha mãe ainda se preocupa. rsrs Mas aviso quando chego e sempre que possível deixo o itinerário da viagem com a família, com direito a nome dos hotéis. Em caso de uma urgência real eles sabem onde estarei no fim do dia.

  5. Eu não compro o chip e só uso internet no hotel ou restaurante. Mas se não têm também, não encano. O meu maior problema é querer fotografar tudo, e ponho a culpa disso no celular e nas cameras digitais de hoje em dia. O que pra mim é um certo vicio, desde que as vezes parece que não consigo aproveitar o lugar suficientemente porque quero tirar foto de tudo :/

    • Camila Navarro

      Nossa, essa coisa das fotos pode ser um problema mesmo! Acabo fotografando com a câmera e com celular e depois fica ainda mais difícil organizar as fotos da viagem. Sem contar o tempo que perdemos, né? Às vezes tenho conseguido revezar com meu marido, um com a câmera e outro com celular, mas tenho mesmo é que parar de tirar fotos repetidas.

  6. Adoro desconectar em viagem
    Nao uso localizador, gosto de me perder e descobrir coisas sózinha

  7. Fábio Bravin

    Oi Camila, parabéns pelo post. Hoje também fico refletindo “se não nos tornamos reféns dessa praticidade” e mesmo se “realmente essa praticidade aprimora a nossa experiência – seja no dia a dia o em viagens”. Conto isso porque não raro me surpreendo com lugares em que entrei/visitei sem recomendação (ou pelo menos sem ter lido alguma recomendação). Lembro com saudade de uma “pizzaria delivery” em Buenos Aires na qual comi a melhor empanada da viagem – assada na hora no forno a lenha e muito bem preparada.
    Com relação aos filhos, esse é um “enorme” desafio. Tenho uma garotinha linda de 4 anos e um menino de 2 anos. Precisamos criar regras e horário para as telas pequenas e estimulá-los a todo o tempo a fazer outras atividades, mas eles aprendem muito por imitação e pelo exemplo. Com eles não cola o “faça o digo, mas não faça o que eu faço”. Então é mesmo necessário nos policiarmos também e diversificar as nossas atividades.
    Comecei a acompanhar o blog por suas recomendações no ONDEM. Muito legal. Parabéns!

    • Camila Navarro

      Fábio, seu comentário me lembrou que o melhor alfajor que comi em Buenos Aires, há mais de 10 anos, foi comprado numa vendinha qualquer. Não sei a marca, não era nenhuma das mais famosas, mas era delicioso!

      E que legal ver um ouvinte do ONDEM por aqui! =)

  8. Desconectar é muito bom. Em geral eu tenho um mapa mental bom, me localizo bem e já saio do hotel sabendo mais ou menos o que quero ver, e se ficar perdida, paciência, uma hora me encontro. No Marrocos ficamos offline por 5 dias, tinha o mapa físico e só checava as coisas no fim do dia, quando subia fotos e vídeos também. Não compro chip nos destinos, mas na Europa temos internet livre, então agora mesmo to bebendo uma cerveja na Eslovênia e feliz que tirou a poeira do blog com este tema, enquanto a chuva cai aqui!
    E Vic continua com acesso limitadíssimo às telas: vê as fotos e vídeos que fazmos dele, e conversa com família distante. Temos sempre livros e desenhos pra colorir, se distrai super bem no carro ou restaurantes!

    • Camila Navarro

      Gosto desse esquema de só checar a internet durante as viagens no fim do dia. Eu não tenho nenhuma orientação espacial, me perco até na Savassi, mas felizmente o Eduardo não tem o mesmo problema. =)

      Espero conseguir manter o Pedro longe das telas tanto quando você consegue com o Vic! Nas últimas viagens que fizemos por aqui mesmo fiquei assustada. Na hora das refeições às vezes Pedro era o único bebê/criança sem um celular ou tablet. Sim, temos mais trabalho para distraí-lo, mas creio que obteremos bons frutos no futuro!

  9. Oi, Camila. Acho que esse é um exercício que precisa ser mais praticado e que é necessário difundir os benefícios dessa prática. Acho que muitas vezes precisamos desconectar para realmente enxergar o que está ao nosso redor… e as férias são um momento oportuno para isso. Obrigada pelo momento de reflexão!

    • Camila Navarro

      Oi, Jane! Às vezes nem percebemos que estamos tão viciados, né? O celular já virou uma parte de nós! Mas esse desapego pode ser necessário para nos focarmos em outras coisas. Vamos tentando!

  10. Que texto oportuno, Ca! Adorei.

    Eu lido bastante bem com o “se desconectar”. Não sou mais viciada e grudada nas redes, como era há dez anos. Consigo até sair sem o telefone, às vezes. ;-)

    • Camila Navarro

      Que bom te ver por aqui, Marcie! E, olha, espero conseguir chegar a esse nível de sair sem o celular! Ainda fico com aquela sensação de estar nua sem ele!

  11. Eu gosto de ter mapas no celular durante as viagens, mas tento evitar o uso das redes sociais durante o dia. O problema, que acaba tornando uma ansiedade constante, é a tentação de procurar “o melhor” restaurante disso, “o melhor” qualquer coisa. Embora já tenha funcionado muitas vezes, acaba ficando a sensação que somos escravos do celular e muitas vezes indo pro mesmo que todo mundo foi — e quando não consulto e caio numa cilada, fico me remoendo por algumas horas! Ainda aprendendo a lidar com isso.

    • Camila Navarro

      É isso mesmo, Paulo, essa ansiedade constante! Parece que viramos mesmo reféns das informações online. Sim, caímos em furadas às vezes, mas também perdemos a chance de conhecer aquele restaurante legal que acabou de abrir, né? Temos que achar um equilíbrio. Eu também ainda estou procurando!

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